Este blog tem sido actualizado com novas barbaridades com alguma regularidade.
Este blog, na sua existência materialista, actualizações existencialistas, é um acto.
É pensado e aqui está.
No entanto, ficará por escrever o próximo post, pelo menos durante uma semanita. (Até o mamute ou eu encontrarmos, presencialmente e fisicamente, um existencial computador com acesso à internet.
Estamos na fase do "nada". As férias para nós são a ausência de tudo. Deixamos de "ser" por uns bons dias. (sim, temos direito a ser brutos, parvos e barrascos)
Deixamos o nosso blog também pendurado à espera que nasça nova acção. Fica-se agora pela passiva função de esperar que o visitem. A "não-acção" reinará no mês de Agosto!
Ser... nada... Desta vez, não me lixem! Vamos pelo nada!!!
Sunday, July 31, 2005
Thursday, July 28, 2005
Ideologias no nevoeiro - acendam-se os faróis!!!
Há uma coisa que já começa a tornar-se crónica e, também por isso, crítica.
A alternância recorrente entre o PSD e o PS no governo tem vindo a provocar danos profundos no desenvolvimento do país.
A desilusão que reina sempre poucos meses após eleições legislativas mostra de alguma forma o quão pouco convictos são os votos nestes Partidos. Dois partidos diferenciados por uma letra e nada mais, dois partidos amorfos, sem rectidão, partidos que partilham a mesma ideologia.
Dizer que não há ideologia no seio do PS e do PSD é, de certa forma, falso. É, pior que isso, fazer uma vontade a ambos os partidos. Na verdade, não existem convicções enraizadas nesses partidos, mas existem ideologias. Ideologias claras, mas escondidas por um enorme nevoeiro de falta de esclarecimento e frontalidade.
O neo-liberalismo é uma ideologia clara, descendente do capitalismo. É, aliás o seu aliado na construção de monopolismo e do imperialismo. Ora, o papel do Estado enquanto instrumento político e social de dominância é um aspecto caracterizador e diferenciador de ideologias. No caso do Partido Socialista e do Partido Social Democrata, é totalmente partilhada a visão sobre o papel do Estado. Essa é a questão essencial.
A suposta ausência de ideologia descompromete os Partidos com uma linha política, descompromete o eleitor que não quer, não pode, ou não sabe definir-se ideologicamente.
O papel do Estado para ambos, PS e PSD, é o de regular o mercado, é o de desaparecer e tornar-se exclusivamente um mecanismo de opressão ideológica de uma classe sobre outra. Os serviços sociais do Estado tendem, sob esta visão capitalista, a desaparecer para dar lugar a um mercado concorrencial que se aproxima com o tempo do monopólio empresarial.
As privatizações e as sucessivas descredibilizações e desmantelamentos da produção nacional e do património do Estado, bem como dos seus serviços mais não representam senão exactamente isso: a desresponsabilização por sectores fundamentais e insubstituíveis que terão assim de ser garantidos por interesses privados.
Hoje, na Assembleia da República será aprovado pela maioria absoluta do Partido Socialista um conjunto de medidas legislativas que vão exactamente ao encontro do enfraquecimento do Estado. Retirar direitos aos trabalhadores é o rumo assumido como primordial sempre que PS e PSD estão no Governo. O acordo é obvio nesta matéria. Hoje, no final da sessão da manhã na Assembleia da República, centenas de trabalhadores da Administração Pública manifestaram a sua ira, descontentamento e desilusão para com este tipo de políticas.
O desdém estava na cara de cada senhor deputado do Partido Socialista. Uma altivez injustificável, um desprezo desumano por aqueles que os elegeram. Um total desrespeito que chegou ao ponto de, pelas palavras do Ministro dos Assuntos Parlamentares, ser declarado que o Governo se reveste de toda a legitimidade porque foi democraticamente eleito.
Liguem-se agora os faróis, descortine-se o nevoeiro que esconde as ideologias!
Legitimidade: o governo dispõe, sem dúvida, de legitimidade institucional e legal para levar a cabo o que entender no plano executivo da política. Mas... e legitimidade política, ética e social? Será que um Partido que apresenta um programa eleitoral pode chegar a governo e virar do avesso tudo quanto prometeu em campanha. Pode... a lei permite. Mas mantém a sua legitimidade democrática? Um governo que, nos primeiros meses de governação já suscitou mais contestação social que o anterior em três anos...? Não porque o anterior fosse melhor, mas era, ainda assim, mais dissimulado e teve medo de avançar tanto. Claro que o PSD agora aplaude em surdina todas as medidas do PS. Quem lhes dera terem sido eles os pais de tais políticas. Mas não tinham estabilidade governamental nem credibilidade suficiente para o fazer sem criar gigantescas ondas de luta de massas capazes de derrubar as paredes e alicerces de qualquer governo. Foi o medo e a estratégia política que os impediu de concretizar estas medidas.
O medo das massas, dos trabalhadores e do povo.
A ideologia está lá. Não lhe põem um nome, mas não desaparece por isso. No entanto, tem nome, chama-se neo-liberalismo.
O nevoeiro levantado todas as manhãs pela Comunicação Social, pelo Governo, pelos colunistas e comentadores(?), pelos analistas(?) e outros senhores já não pode esconder algo que se torna agora mais vísivel porque o tempo foi pouco. Foi pouco o tempo que passou entre a desacreditação da direita e a verificação das políticas de direita do Governo PS.
Se, em situações normais, a memória tende a tornar difusas as semelhanças entre um governo e o seu seguinte, porque passa tempo até começarem a fazer borrada. Desta feita, está à vista.
O desdém estampado nos sorrisos dos ministros, secretários de estado e deputados do PS, não foi possível esconder com nenhum nevoeiro, porque o povo começou a ligar os faróis. Começou a ligar aqueles que só alguns podem ter, porque encarecem o preço do carro, os faróis de nevoeiro.
E aquele desdém, desprezo e desrespeito teve a sua resposta nas bancadas: FASCISTAS!!! MENTIROSOS!!! A LUTA CONTINUA!!!
e também aqui, nestes cânticos de guerra, está uma ideologia: a ideologia popular e trabalhadora da construção de um mundo liderado por quem o constrói: o marxismo. A ideologia daquelas vozes e punhos também está coberta pelo nevoeiro... Mas à vista está algo que muitos dizem já não existir: a luta de classes, o antagonismo profundo entre quem explora e quem é explorado. Entre quem governa e quem é governado, uns com os votos de outros...
E o PS de cima do seu poleiro institucional, mesmo ao lado do grande capital, puxa os galões da legitimidade. Acusa o PCP de mobilizar para as galerias da Assembleia sem perceber que ali estão todos, comunistas e não comunistas, e muitos daqueles que, enganados, votaram PS. Esse desdém, de considerar pequenos grupos, aquilo que são as vozes das massas, será o que conduz inevitavelmente o PS à derrota, que, em última instância, levará o capitalismo à sua ruína que já se adivinha.
E, nos entretantos, a democracia esconde-se numa qualquer viela, com os braços caídos de tanta labuta. Porque a democracia foi substituída por um seu parente distante. Um a que chamam também "democracia" mas que só por alguma afinidade familiar distante se compreende. A democracia foi substituída pela representatividade sem controlo democrático. Os mecanismos de controlo democrático são a condição essencial para o desenvolvimento da democracia... Se não existe direito de manifestação, de greve, de livre organização sindical, então onde está o controlo popular?
Por isso, quando acendemos os faróis, os de nevoeiro e aqueles que nos guiam em promontórios escondidos, lembramo-nos de uma palavra que não temos em Português. Laocratia. Lao(do grego: gentes, pessoas) Kratia (do grego: força, poder). Poderemos talvez dizer "laocracia". Para os utilizadores desta palavra, ela distingue-se de "democracia". Distingue-se porque "democracia" é o sistema político que nasce da vontade popular e "laocracia" é a participação popular. Não é um regime político, é um acto.
O poder das gentes.
A força das gentes.
Bonito conceito. Pena ainda faltar acender tanto farol...
Bom saber que tantos se esforçam por, quer de noite, quer nas auroras escuras, acender um em cada promontório, em cada barra. Um em cada mente.
Faróis de nevoeiro, faróis de guia... Mentes abertas, punhos cerrados!
A alternância recorrente entre o PSD e o PS no governo tem vindo a provocar danos profundos no desenvolvimento do país.
A desilusão que reina sempre poucos meses após eleições legislativas mostra de alguma forma o quão pouco convictos são os votos nestes Partidos. Dois partidos diferenciados por uma letra e nada mais, dois partidos amorfos, sem rectidão, partidos que partilham a mesma ideologia.
Dizer que não há ideologia no seio do PS e do PSD é, de certa forma, falso. É, pior que isso, fazer uma vontade a ambos os partidos. Na verdade, não existem convicções enraizadas nesses partidos, mas existem ideologias. Ideologias claras, mas escondidas por um enorme nevoeiro de falta de esclarecimento e frontalidade.
O neo-liberalismo é uma ideologia clara, descendente do capitalismo. É, aliás o seu aliado na construção de monopolismo e do imperialismo. Ora, o papel do Estado enquanto instrumento político e social de dominância é um aspecto caracterizador e diferenciador de ideologias. No caso do Partido Socialista e do Partido Social Democrata, é totalmente partilhada a visão sobre o papel do Estado. Essa é a questão essencial.
A suposta ausência de ideologia descompromete os Partidos com uma linha política, descompromete o eleitor que não quer, não pode, ou não sabe definir-se ideologicamente.
O papel do Estado para ambos, PS e PSD, é o de regular o mercado, é o de desaparecer e tornar-se exclusivamente um mecanismo de opressão ideológica de uma classe sobre outra. Os serviços sociais do Estado tendem, sob esta visão capitalista, a desaparecer para dar lugar a um mercado concorrencial que se aproxima com o tempo do monopólio empresarial.
As privatizações e as sucessivas descredibilizações e desmantelamentos da produção nacional e do património do Estado, bem como dos seus serviços mais não representam senão exactamente isso: a desresponsabilização por sectores fundamentais e insubstituíveis que terão assim de ser garantidos por interesses privados.
Hoje, na Assembleia da República será aprovado pela maioria absoluta do Partido Socialista um conjunto de medidas legislativas que vão exactamente ao encontro do enfraquecimento do Estado. Retirar direitos aos trabalhadores é o rumo assumido como primordial sempre que PS e PSD estão no Governo. O acordo é obvio nesta matéria. Hoje, no final da sessão da manhã na Assembleia da República, centenas de trabalhadores da Administração Pública manifestaram a sua ira, descontentamento e desilusão para com este tipo de políticas.
O desdém estava na cara de cada senhor deputado do Partido Socialista. Uma altivez injustificável, um desprezo desumano por aqueles que os elegeram. Um total desrespeito que chegou ao ponto de, pelas palavras do Ministro dos Assuntos Parlamentares, ser declarado que o Governo se reveste de toda a legitimidade porque foi democraticamente eleito.
Liguem-se agora os faróis, descortine-se o nevoeiro que esconde as ideologias!
Legitimidade: o governo dispõe, sem dúvida, de legitimidade institucional e legal para levar a cabo o que entender no plano executivo da política. Mas... e legitimidade política, ética e social? Será que um Partido que apresenta um programa eleitoral pode chegar a governo e virar do avesso tudo quanto prometeu em campanha. Pode... a lei permite. Mas mantém a sua legitimidade democrática? Um governo que, nos primeiros meses de governação já suscitou mais contestação social que o anterior em três anos...? Não porque o anterior fosse melhor, mas era, ainda assim, mais dissimulado e teve medo de avançar tanto. Claro que o PSD agora aplaude em surdina todas as medidas do PS. Quem lhes dera terem sido eles os pais de tais políticas. Mas não tinham estabilidade governamental nem credibilidade suficiente para o fazer sem criar gigantescas ondas de luta de massas capazes de derrubar as paredes e alicerces de qualquer governo. Foi o medo e a estratégia política que os impediu de concretizar estas medidas.
O medo das massas, dos trabalhadores e do povo.
A ideologia está lá. Não lhe põem um nome, mas não desaparece por isso. No entanto, tem nome, chama-se neo-liberalismo.
O nevoeiro levantado todas as manhãs pela Comunicação Social, pelo Governo, pelos colunistas e comentadores(?), pelos analistas(?) e outros senhores já não pode esconder algo que se torna agora mais vísivel porque o tempo foi pouco. Foi pouco o tempo que passou entre a desacreditação da direita e a verificação das políticas de direita do Governo PS.
Se, em situações normais, a memória tende a tornar difusas as semelhanças entre um governo e o seu seguinte, porque passa tempo até começarem a fazer borrada. Desta feita, está à vista.
O desdém estampado nos sorrisos dos ministros, secretários de estado e deputados do PS, não foi possível esconder com nenhum nevoeiro, porque o povo começou a ligar os faróis. Começou a ligar aqueles que só alguns podem ter, porque encarecem o preço do carro, os faróis de nevoeiro.
E aquele desdém, desprezo e desrespeito teve a sua resposta nas bancadas: FASCISTAS!!! MENTIROSOS!!! A LUTA CONTINUA!!!
e também aqui, nestes cânticos de guerra, está uma ideologia: a ideologia popular e trabalhadora da construção de um mundo liderado por quem o constrói: o marxismo. A ideologia daquelas vozes e punhos também está coberta pelo nevoeiro... Mas à vista está algo que muitos dizem já não existir: a luta de classes, o antagonismo profundo entre quem explora e quem é explorado. Entre quem governa e quem é governado, uns com os votos de outros...
E o PS de cima do seu poleiro institucional, mesmo ao lado do grande capital, puxa os galões da legitimidade. Acusa o PCP de mobilizar para as galerias da Assembleia sem perceber que ali estão todos, comunistas e não comunistas, e muitos daqueles que, enganados, votaram PS. Esse desdém, de considerar pequenos grupos, aquilo que são as vozes das massas, será o que conduz inevitavelmente o PS à derrota, que, em última instância, levará o capitalismo à sua ruína que já se adivinha.
E, nos entretantos, a democracia esconde-se numa qualquer viela, com os braços caídos de tanta labuta. Porque a democracia foi substituída por um seu parente distante. Um a que chamam também "democracia" mas que só por alguma afinidade familiar distante se compreende. A democracia foi substituída pela representatividade sem controlo democrático. Os mecanismos de controlo democrático são a condição essencial para o desenvolvimento da democracia... Se não existe direito de manifestação, de greve, de livre organização sindical, então onde está o controlo popular?
Por isso, quando acendemos os faróis, os de nevoeiro e aqueles que nos guiam em promontórios escondidos, lembramo-nos de uma palavra que não temos em Português. Laocratia. Lao(do grego: gentes, pessoas) Kratia (do grego: força, poder). Poderemos talvez dizer "laocracia". Para os utilizadores desta palavra, ela distingue-se de "democracia". Distingue-se porque "democracia" é o sistema político que nasce da vontade popular e "laocracia" é a participação popular. Não é um regime político, é um acto.
O poder das gentes.
A força das gentes.
Bonito conceito. Pena ainda faltar acender tanto farol...
Bom saber que tantos se esforçam por, quer de noite, quer nas auroras escuras, acender um em cada promontório, em cada barra. Um em cada mente.
Faróis de nevoeiro, faróis de guia... Mentes abertas, punhos cerrados!
Wednesday, July 20, 2005
Serra Mãe
Serra Mãe...
Foi como Sebastião da Gama chamou à Serra da Arrábida. A Serra da Arrábida de orogenia e morfologia únicas em Portugal, de flora e fauna únicas em praticamente todo o planeta, está hoje, mais uma vez em chamas.
Os incêndios florestais acontecem. Algumas espécies arbóreas e arbustivas, inclusivamente, só conseguem completar o seu ciclo de vida com a actuação das chamas, apresentando mecanismos próprios para provocar deflagração de incêndios.
Mesmo os incêndios acidentais têm lugar na natureza, esporadicamente e com baixa taxa de recorrência e reincidência.
Mas agora... Aaaargh! Ardem as florestas, as matas. Que agonia. O problema central é que não estamos a falar de incêndios de causa natural. Na sua maioria, estes incêndios, ainda que possam não ter origem criminosa, têm-na na negligência. Na nossa negligência enquanto seres conscientes dos cuidados necessários para conviver com as florestas. Negligência das autoridades que sempre sabem o que é necessário saber, mas nunca fazem... E onde estão agora os helicópteros? Onde estão os recursos e os meios para o combate aos incêndios?
Agora choro porque nos matam a Serra. Agora eles lamentam... Mas deviam ter percebido que a Serra precisa de ser cuidada. Não serve espetar lá com uns meninos bem pagos para dizerem que sim à Secil, que sim às construções dos endinheirados, que não aos pescadores e que não ao pessoal que quer fazer umas caminhadas a pé. Não serve dizer que existe um Parque que toma conta da nossa Serra, quando já o ano passado a direcção desse mesmo parque afirmou que era impossível ver a Serra da Arrábida a arder. Revolta-me. Arde cá dentro do meu corpo, mesmo no peito, ligeiramente à esquerda... Não arde... pesa.
Ardem os fetos, os abetos, os pinheiros e os peneireiros. Ardem os ovos da coruja, mais aquele rosmaninho lindo. Arde o medronho. Vemos arder aquilo que mais amamos... dói. A Serra nua, chora. Mais de metade dela é já um enorme afloramento litológico, sem as flores, sem o verde das folhas. Pedra, raízes mortas e árvores pretas ficam para lembrar durante muito tempo o que lhe fizeram. O que lhe fizemos. Sim, pode ter sido aquela garrafa que deixaste no outro dia em alpertuche, ou aquele entulho que que despejaste mesmo à beira da estrada, pode ter sido a beata fatal do cigarro distraído que deitaste pela janela do carro.
O ano passado o fogo iniciou-se dentro de uma das grandes propriedades que se plantam na Serra. Não sei se pediram contas ao Senhor... Duvido muito. E no entretanto, a Serra arde. A Serra Mãe...
Crepita.
As cinzas esvoaçam pela cidade de Setúbal, trazidas por uma enorme nuvem negra a cavalo da nortada que desce a encosta Sul da Arrábida. Os carros estão cobertos por pequenas partículas daquelas árvores e animais... Valham-nos agora os ciclos da Natureza. Esperar que tudo volte ao equilíbrio. O fogo em si faz parte do equilíbrio. Como a catástrofe e o lago sereno. Ambos são Natureza. Mas custa saber que, pelo meio aparecemos nós. A acção dos Homens.
Arde.
O fogo está incontrolável. Em várias frentes, os homens da paz tentam agora remediar a negligência dos nossos senhores. Quanto tempo passará até alguém vir a lucrar com a desvalorização das madeiras, com a desclassificação dos terrenos, com a especulação financeira? Quanto tempo terá de passar até alguém perceber que a Serra respira connosco? Que a Serra se entrega a nós e que o seu destino está nas nossas mãos?
Ah, Arrábida! Serra Mãe... Chorem os que te amam, enquanto ardes. Vibrem os céus e os mares que te envolvem e acolhem, solidários com as tuas chamas avassaladoras. Nadem para perto roazes, botos e toninhas, venham ver o que nós fizemos...
Espera.
É bom para ti, Serra Alpina, saber que, inciaste o teu crescimento há cerca de 145 Milhões de Anos, aqui foste ficando. É bom saber, Serra Mosteiro, que aqui ficarás muito depois de nos termos ido. Que continuarás, Senhora da natureza, tal onda que domina o seu próprio tempo, cicatrizada por feridas profundas, mas viva em todo o seu esplendor.
Serra da Arrábida: corresponde a uma cadeia montanhosa de orogenia alpina, o nome de "Arrábida" vem do árabe que significa "Mosteiro".
Sebastião da Gama escreveu:
"A serra tem o ar de uma onda que avança impetuosa e subitamente estaca e se esculpe no ar; é uma onda de pedra e mato, é o fóssil de uma onda"…
"Na orla meridional da península que tem o seu nome, a serra da Arrábida estende-se do morro de Palmela até à agulha do Cabo Espichel, num comprimento de 35 km e largura média de 6 km. A estrada sobranceira ao oceano, para descer ao Portinho embrenha-se na Mata do Solitário, trecho único em Portugal de floresta primitiva com influências mediterrâneas e atlânticas."
Tuesday, July 19, 2005
Arte, cenários de fundo e apetite
Todos podemos exprimirmo-nos de várias formas. Podemos inclusivamente optar sobre que formas o que queremos fazer. E o mais curioso é que, para além de escolhermos a nossa expressão, temos um gosto interior de procurar as expressões dos outros.
Se há um grito estridente, há sempre um ouvido sereno para o escutar.
Uma escultura, por mais enorme que seja, há-de sempre caber na imaginação de outro.
Um gesto pode ficar para sempre riscado no espaço e no tempo para muitos.
Aquela tela azul terá sempre alguém que a contemple.
Das formas como nos expressamos, será a arte a suprema. A que toca, independentemente do sexo, da cultura, é universal. Não será difícil ver um ocidental pasmado a olhar para um Monet mesmo ao lado de um Índio norte-americano igualmente maravilhado. No entanto, separa-os um mar de culturas, um oceano de milhas e milhas.
A arte, sob todas as suas formas, emociona na criação e na fruição. É um néctar que nos alimenta a alma a todos. Ainda que nem todos tenhamos os mesmos gostos, não conheço ninguém que não goste de arte, seja ela qual for.
E porque escrevo, melodramaticamente, sobre a arte? Escrevo porque a Arte, as Artes, estão sob a ameaça dum cenário negro, dum mau cenógrafo (pois, podia ser um cenário negro, mas bonito, tipo um daqueles magníficos cenários dendríticos dos filmes do tim burton).
Mas não. As artes estão agora ameaçadas pelo apetite, o monstruoso apetite do lucro.
Se virmos bem, a arte, as suas diversas e maravilhosas expressões estão a tender para uma convergência em feixe monocromático. Todas as suas cores começam a fugir para pequenos recantos, ao alcance só de alguns... Massificam-se as tendências da arte nas suas mais alienantes versões. Investem-se rios de dinheiro em publicidade exclusivamente para as grandes produções.
E porquê? Porque será cada vez mais difícil frequentar a sala de espectáculos? Aquela de cujo magnífico tecto penda aquele esplendoroso lustre! Porque será cada vez mais difícil passear junto às telas onde corre o amor do pintor, não fora o bendito café-galeria mesmo ao lado da minha casa, aquele, daquela senhora querida que acha que todos devemos poder ter, fazer e ver arte, nossa ou dos outros.
O apetite está por todo o lado. Espreita por detrás a figura sombria do lucro. O lucro. Dita tudo. Dita o que é e o que não. Dita o que chega às nossas mãos, olhos, ouvidos e dita o que não chega.
Pior: dita a quem chega o quê!
Temos a arte fechada em galerias de ouro, para quem tenha bolsos de ouro, em salas de cristal para bolsas de diamante. Temos, na outra mão, a massificação da arte tipo fast-food. As faixas gravadas por uma máquina que repete o mesmo som ad nauseum. Os filmes em que os americanos são sempre os bons. Os livros em que a maior ginástica imaginativa pedida é a capacidade de ver um puto a voar numa vassoura.
O apetite levou-nos a perder de vista muita coisa. Dá dinheiro, vês, não dá não vês. Triste. Verídico.
O pior é a forma como esse apetite consegue transformar tudo o que toca, não em ouro, como Midas, mas em pornografia. A música é uma arte magnífica, aliás, todas são. Mas ao percorrer aquele corredor do jumbo, a britney spears aparece umas dez vezes... O "I´m in love with não-sei-quem" aparece outras trinta. Na banca das revistas, a cinturão negro aparece como revista de artes marciais, as cassetes para ensinar olaria estão na secção dos vasos e podemos aprender a pintar com o planeta agostinho em menos de um mês.
Fico triste. Pois fico. A arte nasce de todos e é para todos. Está na altura de quebrar os muros que não nos deixam ver. De perceber que a fruição e criação não são compatíveis com este ávido apetite de lucro. Um dia, quando estiver só a contemplar uma árvore, por não haver mais arte, pereceberei que acabaram com ela. E os das bolsas de ouro, sozinhos na galeria deserta, vão perceber que o dinheiro não enche o peito com paz.
Se há um grito estridente, há sempre um ouvido sereno para o escutar.
Uma escultura, por mais enorme que seja, há-de sempre caber na imaginação de outro.
Um gesto pode ficar para sempre riscado no espaço e no tempo para muitos.
Aquela tela azul terá sempre alguém que a contemple.
Das formas como nos expressamos, será a arte a suprema. A que toca, independentemente do sexo, da cultura, é universal. Não será difícil ver um ocidental pasmado a olhar para um Monet mesmo ao lado de um Índio norte-americano igualmente maravilhado. No entanto, separa-os um mar de culturas, um oceano de milhas e milhas.
A arte, sob todas as suas formas, emociona na criação e na fruição. É um néctar que nos alimenta a alma a todos. Ainda que nem todos tenhamos os mesmos gostos, não conheço ninguém que não goste de arte, seja ela qual for.
E porque escrevo, melodramaticamente, sobre a arte? Escrevo porque a Arte, as Artes, estão sob a ameaça dum cenário negro, dum mau cenógrafo (pois, podia ser um cenário negro, mas bonito, tipo um daqueles magníficos cenários dendríticos dos filmes do tim burton).
Mas não. As artes estão agora ameaçadas pelo apetite, o monstruoso apetite do lucro.
Se virmos bem, a arte, as suas diversas e maravilhosas expressões estão a tender para uma convergência em feixe monocromático. Todas as suas cores começam a fugir para pequenos recantos, ao alcance só de alguns... Massificam-se as tendências da arte nas suas mais alienantes versões. Investem-se rios de dinheiro em publicidade exclusivamente para as grandes produções.
E porquê? Porque será cada vez mais difícil frequentar a sala de espectáculos? Aquela de cujo magnífico tecto penda aquele esplendoroso lustre! Porque será cada vez mais difícil passear junto às telas onde corre o amor do pintor, não fora o bendito café-galeria mesmo ao lado da minha casa, aquele, daquela senhora querida que acha que todos devemos poder ter, fazer e ver arte, nossa ou dos outros.
O apetite está por todo o lado. Espreita por detrás a figura sombria do lucro. O lucro. Dita tudo. Dita o que é e o que não. Dita o que chega às nossas mãos, olhos, ouvidos e dita o que não chega.
Pior: dita a quem chega o quê!
Temos a arte fechada em galerias de ouro, para quem tenha bolsos de ouro, em salas de cristal para bolsas de diamante. Temos, na outra mão, a massificação da arte tipo fast-food. As faixas gravadas por uma máquina que repete o mesmo som ad nauseum. Os filmes em que os americanos são sempre os bons. Os livros em que a maior ginástica imaginativa pedida é a capacidade de ver um puto a voar numa vassoura.
O apetite levou-nos a perder de vista muita coisa. Dá dinheiro, vês, não dá não vês. Triste. Verídico.
O pior é a forma como esse apetite consegue transformar tudo o que toca, não em ouro, como Midas, mas em pornografia. A música é uma arte magnífica, aliás, todas são. Mas ao percorrer aquele corredor do jumbo, a britney spears aparece umas dez vezes... O "I´m in love with não-sei-quem" aparece outras trinta. Na banca das revistas, a cinturão negro aparece como revista de artes marciais, as cassetes para ensinar olaria estão na secção dos vasos e podemos aprender a pintar com o planeta agostinho em menos de um mês.
Fico triste. Pois fico. A arte nasce de todos e é para todos. Está na altura de quebrar os muros que não nos deixam ver. De perceber que a fruição e criação não são compatíveis com este ávido apetite de lucro. Um dia, quando estiver só a contemplar uma árvore, por não haver mais arte, pereceberei que acabaram com ela. E os das bolsas de ouro, sozinhos na galeria deserta, vão perceber que o dinheiro não enche o peito com paz.
Monday, July 18, 2005
Quando somos nós os bárbaros...
A gente bem pára de meter as moedinhas, mas o carrossel continua a andar à roda.
Thursday, July 14, 2005
"Mein Insel" - Adalberto, rei dos bárbaros
Mais uma voltinha...
Esta cena é mesmo daquelas que um gajo já nem sabe o que há-de dizer. Presumo que, pelo título deste post, saberás perfeitamente de que animal político estou a falar. Nem podia estar a referir-me a outro que não ao esplendoroso Sr. Adalberto, esse destemido combatente pelo povo do nosso lindo arquipélago da Madeira.
Que fazer? Já começa a ser demais... só falta mesmo aquele anormal migrar para o continente e ninguém lhe aviar um bruto dum enxerto de porrada, como ele há muito merece. O problema é que lá nas ilhas onde é rei, o senhor domina tudo quanto é negócio, tudo quanto é órgão de comunicação social e tudo quanto é investimento. Este senhor exerce o poder à velha moda. Esconde do povo da Madeira a verdade sobre o dia a dia do que se passa fora da ilha e convence tudo e todos que, fora da Madeira, somos todos uns animais sujos que nem estradas têm para andar de carro.
Da última vez que lá estive, tive a oportunidade de ver a realidade que não tinha testemunhado na minha primeira visita. Tive a triste oportunidade de ver mais do que a cidade do Funchal. E, só me faltou chorar... mas nã faltou muito. A degradação a que estão sujeitas as populações das zonas mais pobres é realmente assustadora. A pobreza é extrema e contrasta abissalmente com a opulência dos túneis, das vias rápidas e das lindíssimas vivendas de luxo do Funchal.
Agora, para além de todas as barbaridades que vêm flutuando sobre o atlântico com os ventos de sudoeste, chegou-nos a última moda em política ditatorial.
O ordinário, que bate aos pontos este blog e todos os amigos nele referidos em termos de barbaridade, acabou de se referir a chineses e indianos, pouco depois de ter chamado "filhos da puta" aos jornalistas.
Ora, este rastejante insular, amigo íntimo de uma mula com quem já passou ferverosos momentos, vem-nos agora dizer que não quer lá os Chineses e Indianos na Madeira. O pior é que diz isto sem nível nenhum. Tipo: podia fundamentar estas teses com teoria política, tipo escrevendo um "Mein Insel", mas nem isso. O pobre fica-se mesmo pela baixaria e nem sequer contribui para o património ideológico da política mundial.
O que não podemos já tolerar é que um homenzito, que só por acaso ocupa um lugar para que foi eleito, sendo esse um dos lugares de maior responsabilidade no Estado Português, se dê ao luxo de dizer tudo o que lhe vai na demente marmita, sem que por isso, preste contas a ninguém.
Pá, já chega! Agora não quer lá os chineses, qualquer dia não quer lá os madeirenses e depois?
Aquele Arquipélago consome milhões e milhões de Euros ao Estado e não se vê nada de lá em troca sem ser aquela besta quadrada e seu típico vernáculo.
Os coitados dos madeirenses não têm outro remédio senão aturar a besta. Aliás: o pior é que muitos acham que o gajo é mesmo o grande defensor dos seus interesses. Grande parte do povo daquela região nunca se deslocou ao continente português ou nunca saiu da própria ilha em que vive. Vive-se um clima de total ignorância sobre o exterior. Pensa-se que a Madeira é uma zona fortmente desenvolvida, quando na verdade aquilo mete dó.
Ora, se os grandes ideólogos da extrema direita sempre escreveram uns livritos, este nosso pequeno bacorinho não deveria deixar-se ficar. Mas desengane-se quem julga que o coloco no mesmo patamar de inteligência ou capacidade política que os seus inspiradores. Enquanto que "Mein Kampf" pode ser considerado uma produção política, "Mein Insel" não passaria de um escarro junto às beatas de cigarro no chão da taberna.
Esta cena é mesmo daquelas que um gajo já nem sabe o que há-de dizer. Presumo que, pelo título deste post, saberás perfeitamente de que animal político estou a falar. Nem podia estar a referir-me a outro que não ao esplendoroso Sr. Adalberto, esse destemido combatente pelo povo do nosso lindo arquipélago da Madeira.
Que fazer? Já começa a ser demais... só falta mesmo aquele anormal migrar para o continente e ninguém lhe aviar um bruto dum enxerto de porrada, como ele há muito merece. O problema é que lá nas ilhas onde é rei, o senhor domina tudo quanto é negócio, tudo quanto é órgão de comunicação social e tudo quanto é investimento. Este senhor exerce o poder à velha moda. Esconde do povo da Madeira a verdade sobre o dia a dia do que se passa fora da ilha e convence tudo e todos que, fora da Madeira, somos todos uns animais sujos que nem estradas têm para andar de carro.
Da última vez que lá estive, tive a oportunidade de ver a realidade que não tinha testemunhado na minha primeira visita. Tive a triste oportunidade de ver mais do que a cidade do Funchal. E, só me faltou chorar... mas nã faltou muito. A degradação a que estão sujeitas as populações das zonas mais pobres é realmente assustadora. A pobreza é extrema e contrasta abissalmente com a opulência dos túneis, das vias rápidas e das lindíssimas vivendas de luxo do Funchal.
Agora, para além de todas as barbaridades que vêm flutuando sobre o atlântico com os ventos de sudoeste, chegou-nos a última moda em política ditatorial.
O ordinário, que bate aos pontos este blog e todos os amigos nele referidos em termos de barbaridade, acabou de se referir a chineses e indianos, pouco depois de ter chamado "filhos da puta" aos jornalistas.
Ora, este rastejante insular, amigo íntimo de uma mula com quem já passou ferverosos momentos, vem-nos agora dizer que não quer lá os Chineses e Indianos na Madeira. O pior é que diz isto sem nível nenhum. Tipo: podia fundamentar estas teses com teoria política, tipo escrevendo um "Mein Insel", mas nem isso. O pobre fica-se mesmo pela baixaria e nem sequer contribui para o património ideológico da política mundial.
O que não podemos já tolerar é que um homenzito, que só por acaso ocupa um lugar para que foi eleito, sendo esse um dos lugares de maior responsabilidade no Estado Português, se dê ao luxo de dizer tudo o que lhe vai na demente marmita, sem que por isso, preste contas a ninguém.
Pá, já chega! Agora não quer lá os chineses, qualquer dia não quer lá os madeirenses e depois?
Aquele Arquipélago consome milhões e milhões de Euros ao Estado e não se vê nada de lá em troca sem ser aquela besta quadrada e seu típico vernáculo.
Os coitados dos madeirenses não têm outro remédio senão aturar a besta. Aliás: o pior é que muitos acham que o gajo é mesmo o grande defensor dos seus interesses. Grande parte do povo daquela região nunca se deslocou ao continente português ou nunca saiu da própria ilha em que vive. Vive-se um clima de total ignorância sobre o exterior. Pensa-se que a Madeira é uma zona fortmente desenvolvida, quando na verdade aquilo mete dó.
Ora, se os grandes ideólogos da extrema direita sempre escreveram uns livritos, este nosso pequeno bacorinho não deveria deixar-se ficar. Mas desengane-se quem julga que o coloco no mesmo patamar de inteligência ou capacidade política que os seus inspiradores. Enquanto que "Mein Kampf" pode ser considerado uma produção política, "Mein Insel" não passaria de um escarro junto às beatas de cigarro no chão da taberna.
Wednesday, July 06, 2005
Os lacaios, os interesses e os suspeitos do costume
Hoje em dia ouve-se de tudo…
Um senhor que actualmente é deputado na Assembleia da República, que já foi ministro da Economia num governo do Partido Socialista e que, infelizmente, já foi até comunista, saiu-se durante uma sessão plenária da Assembleia da República com uma tirada que não ficaria mal ao mais reaccionário dos conspiradores terroristas, ou ao mais retrógrado dos fascistas.
“O PCP é responsável pelo agravamento do desemprego, pela sua visão conservadora da economia.” Disse o ilustre. Esta política de câmara cada vez me enoja mais. Qualquer bastardo vai lá, atira umas bujardas e sai impune com um aplauso acéfalo do seu rebanho. E o povo lá fora, sem saber o que dizem e o que fazem estes senhores da direita, estes lords da política e do dinheiro. A clivagem é visível: a esquerda e a direita na Assembleia da República dividem-se pelo corredor que separa o PS do Partido Ecologista “Os verdes”. Só não vê quem não quer. Desse corredor para lá, as votações são praticamente unânimes nas questões cruciais que se colocam.
Mas dizia então o Sr. Deputado Pina Moura, sábio político e amigo do povo e dos trabalhadores que o PCP seria o culpado pelo agravamento do desemprego e que teria uma visão retrógrada da economia… Ora vamos lá ver isso:
- Retrógrado é o que se passa actualmente: é ver os trabalhadores venderem a sua força de trabalho por salários que mal pagam a comida, endividarem-se para comprar casas ao capital que enriquece à custa do seu próprio trabalho e ir gastar o dinheiro todo que recebeu em impostos ou em supermercados, todos do mesmo grupo económico, deixando ainda uns cobres valentes no banco que paga uns impostos miseráveis. Retrógrado é o trabalhador não saber se para a semana que vem tem ou não trabalho porque os senhores do governo permitem que os patrões mantenham os trabalhadores a prazo por 6 anos (!!!). Retrógrado é exigir dos trabalhadores que esmifrem a sua vida, o seu dia a dia, que não vejam os seus filhos e companheiros e companheiras, que contraiam as doenças das articulações, percam braços, dedos, inalem substâncias perigosas e, para ganhar mais uns trocos, despedi-los todos e enfiar a merda da fábrica na Malásia. Retrógrado é olhar e ver filas de trabalhadores à porta das Empresas de Trabalho Temporário à espera que alguém lhes ofereça um preço, ou á porta do centro de emprego, porque perdeu o seu numa fábrica que levantou voo para outro país.
- Retrógrado é continuar a dizer que temos de ser competitivos, sermos cada vez mais punidos e ver tudo a piorar cada vez mais. Já agora, vejamos uma coisa: para que países e regiões vão as fábricas e empresas que abalam daqui? Roménia, Filipinas, Ucrânia, América Latina e América Central, Índia, Malásia, Polónia, Moldávia… tudo países despedaçados e desmembrados pelo capitalismo. Países e regiões do globo totalmente desestruturalizados, países em que os Salários Mínimos Nacionais não ascendem a mais de dez, quinze contos. É com esses países que os governos portugueses querem competir. É com eles que nos querem igualar??? Quando falam de competitividade, é entre quem? Porra que isto de dizer nomes bonitos sem explicar as coisas, deixa muitas dúvidas. É bom ser competitivo… ena ena somos competitivos!!! Mas… competimos com quem?
- Retrógrado é continuarmos a viver no mesmo regime económico que há 200 anos está em prática e que já provou não ser capaz de resolver os problemas da humanidade. Retrógrado é dizerem-nos que a economia e o trabalho têm evoluído muito, quando na prática, o essencial se mantém: mantém-se a exploração patronal dos trabalhadores, mantém-se a precariedade no trabalho e o desemprego, mantêm-se os baixos salários e as pensões de miséria, mantêm-se as assimetrias sociais e económicas, mantém-se a existência de um punhado de ricos privilegiados e de milhões e milhões de outros que não têm onde cair mortos.
- Retrógrado é continuar a achar que os trabalhadores devem submeter-se a todos os caprichos das empresas porque senão elas vão-se embora ou despedem-nos. Isso é retrógrado porque isso sempre foi assim. Conservador é preferir a manutenção do Estado de coisas. Sempre os trabalhadores tiveram que se submeter ao capital nacional, estrangeiro, multinacional e transnacional. Retrógrado é defender que assim continue. Nada é mais conservador que tentar manter o sistema como está, fechando os olhos às suas profundas contradicções internas.
Mas… depois vêm estes senhores iluminados, os senhores que representam as empresas ao mesmo tempo que o povo, dizer-nos que aqueles que lutam pela melhoria de vida dos trabalhadores é que são os culpados pelo desemprego… Valha-nos Nossa Senhora!
Dizer que existe falta de investimento estrangeiro em Portugal porque existe um Partido que defende os trabalhadores é a coisa mais anti-democrática que já ouvi. Ou seja, para este Senhor, e certamente para muitos outros, se não existisse um Partido como o PCP e, quem sabe, uma central sindical como a CGTP-IN, então, o capital investiria em força no nosso país, brotariam fábricas e oficinas rentáveis, floresceria o negócio e o céu seria riscado por um intenso arco-íris, como na Malásia, no México, no Bangladesh, e outros muitos magníficos países que, por serem tão esplendorosos, lhes chamam países do 3º Mundo.
Claro. Se os trabalhadores não reivindicassem os seus direitos, os patrões podiam cá plantar mais unidades e mais empresas. A questão é: para quem seria o produto do trabalho nelas produzido? Para um Estado submisso sem sentido de dever? Para os trabalhadores que, de vestes rotas, aspiram a ver a cor do pão? Ou para os grandes senhores do dinheiro, da banca, das fábricas, da poltrona descansada? Muitas fábricas que nos destruam os recursos naturais, que explorem sem limites o nosso povo, que não contribuam para o desenvolvimento do país… é isso que estes senhores querem? Será que não existem exemplos que bastem? Olhemos para os países com quem queremos competir… os direitos dos seus povos são, sem excepção, muito inferiores aos nossos… Querem agora, diminuir-nos os direitos para competir com eles… isto só visto…
Um senhor que actualmente é deputado na Assembleia da República, que já foi ministro da Economia num governo do Partido Socialista e que, infelizmente, já foi até comunista, saiu-se durante uma sessão plenária da Assembleia da República com uma tirada que não ficaria mal ao mais reaccionário dos conspiradores terroristas, ou ao mais retrógrado dos fascistas.
“O PCP é responsável pelo agravamento do desemprego, pela sua visão conservadora da economia.” Disse o ilustre. Esta política de câmara cada vez me enoja mais. Qualquer bastardo vai lá, atira umas bujardas e sai impune com um aplauso acéfalo do seu rebanho. E o povo lá fora, sem saber o que dizem e o que fazem estes senhores da direita, estes lords da política e do dinheiro. A clivagem é visível: a esquerda e a direita na Assembleia da República dividem-se pelo corredor que separa o PS do Partido Ecologista “Os verdes”. Só não vê quem não quer. Desse corredor para lá, as votações são praticamente unânimes nas questões cruciais que se colocam.
Mas dizia então o Sr. Deputado Pina Moura, sábio político e amigo do povo e dos trabalhadores que o PCP seria o culpado pelo agravamento do desemprego e que teria uma visão retrógrada da economia… Ora vamos lá ver isso:
- Retrógrado é o que se passa actualmente: é ver os trabalhadores venderem a sua força de trabalho por salários que mal pagam a comida, endividarem-se para comprar casas ao capital que enriquece à custa do seu próprio trabalho e ir gastar o dinheiro todo que recebeu em impostos ou em supermercados, todos do mesmo grupo económico, deixando ainda uns cobres valentes no banco que paga uns impostos miseráveis. Retrógrado é o trabalhador não saber se para a semana que vem tem ou não trabalho porque os senhores do governo permitem que os patrões mantenham os trabalhadores a prazo por 6 anos (!!!). Retrógrado é exigir dos trabalhadores que esmifrem a sua vida, o seu dia a dia, que não vejam os seus filhos e companheiros e companheiras, que contraiam as doenças das articulações, percam braços, dedos, inalem substâncias perigosas e, para ganhar mais uns trocos, despedi-los todos e enfiar a merda da fábrica na Malásia. Retrógrado é olhar e ver filas de trabalhadores à porta das Empresas de Trabalho Temporário à espera que alguém lhes ofereça um preço, ou á porta do centro de emprego, porque perdeu o seu numa fábrica que levantou voo para outro país.
- Retrógrado é continuar a dizer que temos de ser competitivos, sermos cada vez mais punidos e ver tudo a piorar cada vez mais. Já agora, vejamos uma coisa: para que países e regiões vão as fábricas e empresas que abalam daqui? Roménia, Filipinas, Ucrânia, América Latina e América Central, Índia, Malásia, Polónia, Moldávia… tudo países despedaçados e desmembrados pelo capitalismo. Países e regiões do globo totalmente desestruturalizados, países em que os Salários Mínimos Nacionais não ascendem a mais de dez, quinze contos. É com esses países que os governos portugueses querem competir. É com eles que nos querem igualar??? Quando falam de competitividade, é entre quem? Porra que isto de dizer nomes bonitos sem explicar as coisas, deixa muitas dúvidas. É bom ser competitivo… ena ena somos competitivos!!! Mas… competimos com quem?
- Retrógrado é continuarmos a viver no mesmo regime económico que há 200 anos está em prática e que já provou não ser capaz de resolver os problemas da humanidade. Retrógrado é dizerem-nos que a economia e o trabalho têm evoluído muito, quando na prática, o essencial se mantém: mantém-se a exploração patronal dos trabalhadores, mantém-se a precariedade no trabalho e o desemprego, mantêm-se os baixos salários e as pensões de miséria, mantêm-se as assimetrias sociais e económicas, mantém-se a existência de um punhado de ricos privilegiados e de milhões e milhões de outros que não têm onde cair mortos.
- Retrógrado é continuar a achar que os trabalhadores devem submeter-se a todos os caprichos das empresas porque senão elas vão-se embora ou despedem-nos. Isso é retrógrado porque isso sempre foi assim. Conservador é preferir a manutenção do Estado de coisas. Sempre os trabalhadores tiveram que se submeter ao capital nacional, estrangeiro, multinacional e transnacional. Retrógrado é defender que assim continue. Nada é mais conservador que tentar manter o sistema como está, fechando os olhos às suas profundas contradicções internas.
Mas… depois vêm estes senhores iluminados, os senhores que representam as empresas ao mesmo tempo que o povo, dizer-nos que aqueles que lutam pela melhoria de vida dos trabalhadores é que são os culpados pelo desemprego… Valha-nos Nossa Senhora!
Dizer que existe falta de investimento estrangeiro em Portugal porque existe um Partido que defende os trabalhadores é a coisa mais anti-democrática que já ouvi. Ou seja, para este Senhor, e certamente para muitos outros, se não existisse um Partido como o PCP e, quem sabe, uma central sindical como a CGTP-IN, então, o capital investiria em força no nosso país, brotariam fábricas e oficinas rentáveis, floresceria o negócio e o céu seria riscado por um intenso arco-íris, como na Malásia, no México, no Bangladesh, e outros muitos magníficos países que, por serem tão esplendorosos, lhes chamam países do 3º Mundo.
Claro. Se os trabalhadores não reivindicassem os seus direitos, os patrões podiam cá plantar mais unidades e mais empresas. A questão é: para quem seria o produto do trabalho nelas produzido? Para um Estado submisso sem sentido de dever? Para os trabalhadores que, de vestes rotas, aspiram a ver a cor do pão? Ou para os grandes senhores do dinheiro, da banca, das fábricas, da poltrona descansada? Muitas fábricas que nos destruam os recursos naturais, que explorem sem limites o nosso povo, que não contribuam para o desenvolvimento do país… é isso que estes senhores querem? Será que não existem exemplos que bastem? Olhemos para os países com quem queremos competir… os direitos dos seus povos são, sem excepção, muito inferiores aos nossos… Querem agora, diminuir-nos os direitos para competir com eles… isto só visto…
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