A sociedade não corrompe o Homem, porque o não existe Homem sem sociedade. O "bom selvagem" não é mais que uma hipótese vã, sustentada numa ideia impossível de materializar.
A utilidade da tese, por mais generosa que seja, é próxima de nula quando dela não pode resultar mais que uma divagação. Ou seja, independentemente da veracidade da teoria, pode não se verificar a sua utilidade.
Mas a Sociedade não molda o Homem de forma diferente do que a Humanidade molda a sua organização social. Aliás, a sociedade é o Homem e o Homem é a sociedade, o indivíduo é o colectivo e o colectivo é o indivíduo, na medida em que ambos se influenciam em permanente dinâmica.
A Sociedade capitalista não é um demónio. É apenas o resultado concreto da evolução das relações sociais e materiais, resultado actual dos movimentos da luta de classes ao longo dos séculos e das eras. Mas é uma sociedade medíocre, que limita o crescimento do Ser Humano, que impede o florescimento da nossa alma, dos nossos plenos sorrisos. A Sociedade capitalista é a sociedade que faz do vazio, do supérfluo, da ignorância, do egoísmo e da violência as características mais destacadas dos homens e mulheres.
O capitalismo, a cultura das suas classes dominantes, assenta nas característcias do Ser Humano, costumamos ouvir dizer. Na Natureza Humana, sussurram-nos diariamente como que em jeito de lavagem cerebral. E no entanto, ninguém pode negar que a Natureza humana é coisa que não existe considerada por si só, fora do meio, independentemente do ambiente e das componentes sociais. Assim, partindo do princípio que a natureza humana é, em si mesma, uma causa e uma consequência, todo o processo dialético da construção do ser humano se torna mais decifrável. A natureza do Homem é múltipla, diversa, mutável e complexa.
É verdade que se pode afirmar que o Homem é um animal com tendência para o egoísmo, para a violência, para a corrupção, para a disputa, a preguiça, a cobiça e a ganância? Sim, é verdade que se pode afirmar que, principalmente após a constituição da propriedade privada como base da organização social dos Homens, as classes dominantes manifestam essas características de forma aguda. O capitalismo, no seguimento de outras formas de organização baseada na propriedade e na exploração do esforço alheio, exacerbou essas características na sua classe dominante, mas teve a capacidade de acelerar a sua difusão para as classes exploradas. O que não é estranho, antes pelo contrário, é natural. A moral burguesa, a cultura burguesa, o comportamento social burguês são incutidos em todas as camadas da população como únicas formas de viver, de estar.
Mas não é menos verdade que o Homem é um animal com tendência para o altruismo, para a cooperação, para a amizade, para o amor, para a arte, para a alegria, para o trabalho empenhado. Ninguém poderá negar isso, mesmo num contexto em que não existem praticamente estímulos na cultura dominante para que assim nos comportemos e que, salvo as organizações progressistas e revolucionárias, salvo o mundo do trabalho entre iguais, raras são as oportunidades de estimular essas características nas pessoas. O dia-a-dia é passado em ambiente hóstil para o indivíduo e para o colectivo e apenas alguns momentos existem para contrariar essa torrente de egoísmo que a sociedade capitalista gera e torna cada vez mais caudalosa.
A sociedade capitalista é o elogio da mediocridade humana. E a mediocridade existe e sempre existirá. A grande questão que nos devemos colocar é: devemos contentar-nos com uma sociedade baseada na mediocridade, que estimula o pior do que temos, ou ansiar a sua superação por uma sociedade baseada na elevação da consciência dos homens e das mulheres, assente no estímulo das melhores características que temos. Da mesma forma que o Homem consegue ser solidário, amigo, alegre, criativo mesmo rompendo com o formato da sociedade capitalista, óbvio será que no socialismo, não desaparecerão a agressividade, o egoísmo, a cobiça e a preguiça.
Porém, a sociedade crescerá com o Homem e o Homem com a sociedade e o meio determinará a preponderância de umas sobre as outras, como faz actualmente, mas ao contrário.
Wednesday, September 07, 2011
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