“Bush diz que os palestinianos têm que arcar com as consequências dos seus actos.” – Sic Notícias – Jornal de síntese
“We do not deal with Hamas. Hamas is a terrorist organization.” Scott Mclellan – Porta-voz da Casa Branca
Ambas as frases foram produzidas no dia 25 de Janeiro de 2006, ou seja, poucas horas após a divulgação do resultado oficial das eleições que tomaram lugar na Palestina, para a escolha do novo governo. Após mais de dez anos de governo sustentado numa maioria parlamentar pelo partido social-democrata e conciliador Fatah, os extremistas do Hamas acabam por vencer as eleições com uma folgada maioria absoluta. A questão que se coloca é: quem ganha com este resultado?
Os desenvolvimentos que advirão desta vitória começam a tornar-se óbvios.
A resposta à pergunta não pode passar sem dois considerandos essenciais:
A Fatah, pelo seu papel de contenção da luta popular, pelo seu carácter submisso às ordens imperialistas e pela governação tipicamente social-democrata por que enveredeou, lançou o povo palestiniano na desilusão perante qualquer tipo de negociação. Na verdade, o caminho da negociação submissa tem conduzido a situação para o acentuar do conflito, para a tomada de localizações estratégicas em terreno palestiniano, para o constante crescimento da tese sionista, enquanto não resolveu os essenciais problemas do povo palestiniano no plano nacional e vendendo, no plano internacional, a dignidade e a soberania da pátria palestiniana.
o papel das organizações que optam, em determinados momentos da história, pelo recurso à violência contra civis, arriscam sempre o desvirtuamento da causa pela qual dizem combater. Daí o facto de muitas destas organizações serem criadas e apoiadas pelos Estados imperialistas, como o flagrante caso da Al-Qaeda, nascida nas fileiras dos Mujaheedeen e dos Taliban, ambas criadas com o investimento dos Estados Unidos da América. O desvirtuamento da causa popular e a sua transformação em violência não é sua característica própria, é antes o primeiro sinal da manipulação da causa pelo seu próprio adversário.
Quem ganha com este resultado é o estado sionista de Israel e seu aliado americano, os EUA. A política de expansão e geodominância característica do imperialismo tem vindo a ser a verdadeira causa do agravamento da tensão e da violência no médio-oriente. Quer os EUA, quer Israel já anunciaram não estar dispostos a continuar a farsa das negociações com uma organização como o Hamas. O caminho está livre, portanto, para a utilização da violência e da destruição em massa da pátria palestiniana. As incursões tenderão a aumentar, com o Hamas fazendo o papel que lhe cabe: o da justificação da agressão.
Naturalmente, as populações do mundo, ainda que manipuladas seriamente pela comunicação social dominante, não toleram a agressão injustificada, nem a violência unilateral que se traduz em invasões ao estilo colonial e na apropriação dos recursos de um povo por um estado que lhe é alheio. No entanto, uma justificação de recurso para essas incursões agressivas, é exactamente o argumento de que o invasor se está simplesmente a defender.
Os EUA e seus cães de fila (Inglaterra, Espanha, Portugal) utilizaram esse pobre argumento após o 11 de Setembro. Utilizaram-no para justificar a invasão do Afeganistão e, de forma contínua para desculpar todos os erros cometidos na invasão do Iraque. De certa forma, o alcance dessa justificação é tal, que ainda hoje serve de pretexto para planificar invasões a Cuba, Venezuela, República Popular Democrática da Coreia, Síria e uns tantos outros incómodos países. Incómodos por terem reservas petrolíferas maiores do que as que deviam, ou, pura e simplesmente, por não acatarem cada ordem mesquinha dos senhores do dinheiro.
A vitória do Hamas é a vitória da política de agressão de Israel e dos EUA. É a vitória do sionismo e do ódio. Com o Hamas no poder, o agressor passa a vítima constante. Os coitadinhos dos judeus, eternos mártires da História, serão agora alvos de intenso terror, fruto do fanatismo inexplicável de uns tantos milhões de muçulmanos passados da cabeça. Está montado palco para a morte vir abraçar mais uns milhares de palestinianos. Está livre o caminho do estado fascista de Israel. O holocausto continua, em chamas fora de fornos, sem calcinações conhecidas. Mas o sacrifício está à vista.
Esperemos nós que deus se retire humildemente desta batalha e deixe expostas as verdadeiras razões daquele sangue.
Friday, January 27, 2006
Monday, January 23, 2006
um bárbaro para o império
e o capital pariu um presidente da república. fabricado e eleito nos pasquins da famigerada imprensa escrita, entronado pelas cores sensacionalistas e vozes sábias na nossa tv.
perde portugal, perdem os jovens, os trabalhadores, perdemos nós. ganha a direita sedenta dos nossos bolsos e das nossas mentes. ganha o pior que, nós portugueses, temos para mostrar.
ganham os sorrisos de um primeiro-ministro mentiroso e dos seus amigos balofos.
estaremos cá para resistir, para nos plantarmos firmes onde for preciso, para nos movermos erguidos contra os ventos reaccionários. a luta ganha a força que o povo quiser. nós teremos a força que nos for exigida. agora... temos mais um facho com que nos preocupar.
perde portugal, perdem os jovens, os trabalhadores, perdemos nós. ganha a direita sedenta dos nossos bolsos e das nossas mentes. ganha o pior que, nós portugueses, temos para mostrar.
ganham os sorrisos de um primeiro-ministro mentiroso e dos seus amigos balofos.
estaremos cá para resistir, para nos plantarmos firmes onde for preciso, para nos movermos erguidos contra os ventos reaccionários. a luta ganha a força que o povo quiser. nós teremos a força que nos for exigida. agora... temos mais um facho com que nos preocupar.
Friday, January 13, 2006
The constant gardener
The constant gardener… título ainda assim melhor que o português. Não é costume tecer aqui no império, críticas quanto aos filmes que vejo ou não vejo. No entanto, tendo em conta que este levanta aspectos vastos da política e que são dezenas as pessoas que conheço e que falam do filme quase com uma lágrima no olho, decidi deixar aqui o que acho deste filme e deste tipo de filmes.
Do ponto de vista da execução, quer da fotografia, realização ou interpretação, o filme é praticamente imaculado. As cenas tétricas estão conseguidas ao ponto de nos arrancar a lágrima piedosa. A banda sonora é, pura e simplesmente, soberba. Respira-se um mundo diferente a cada plano, cada cena. O argumento, por seu lado, não sendo medíocre, é comum.
Feitas as considerações tecnicistas, para as quais, importará dizer, não sou qualificado, importa ir ao motivo de fundo do filme, o mesmo que me faz escrever. O filme é uma história de amor, ponto. Ainda assim, vários são os jovens adultos que saem do cinema com uma cara de admiração que só lhes fica bem, mas cuja carga de snobismo é indisfarçável. Ao fim daquele filme, fica-nos bem a todos dizer que o filme é excelente, que aquela farmacêutica é muito má e tal.
O filme caracteriza, embrenhado numa história de amor, as operações desumanas de uma farmacêutica no Quénia, dando a entender que estas operações afectam mais países africanos. O filme trata a vida de um conjunto de ditos activistas que tentam desmascarar a dita empresa e o estado britânico que encobre a realização de testes em seres humanos no continente africano.
O que está mal no filme, então? O filme transporta a visão imposta exactamente pelos mesmos que tenta acusar. O filme engrandece o papel de organizações como a Amnistia Internacional e outras ONG´s semelhantes e o dos activistas burgueses da caridade, reduzindo os povos africanos a insignificantes peões no tabuleiro. Insinua-se recorrentemente, através desta visão burguesa, que a emancipação do continente africano é dependente da boa-vontade dos meninos ricos que vestem uma bata e vão 10 anos para África ajudar os coitadinhos. Ninguém, nestes filmes, fala das verdadeiras causas que conduziram África ao estado em que está. Da mesma forma que encobrem o papel ancião dos europeus e o mais recente papel dos Estados Unidos da América no que toca à destruição de África, ensinam-nos agora a magistral tese de que só o homem branco pode salvar o continente negro.
Além disso, de fazer depender a emancipação popular de toda a África da boa-vontade activista, dita humanitária, este filme personifica, numa visão particularmente maniqueísta, a estratégia empresarial das farmacêuticas. Ou seja, a farmacêutica em causa no filme faz o que faz (testes em seres humanos das populações miseráveis do Quénia à revelia do seu conhecimento), porque é dirigida por pessoas sem escrúpulos e de mau carácter. O próprio estado britânico é, de alguma forma, ilibado, porque também aqui, a cobertura que dá às operações da farmacêutica está exclusivamente relacionada com o facto de um senhor sem carácter da diplomacia britânica favorecer a dita empresa em troca de empregos criados em solo britânico.
Ou seja, a engrenagem do sistema capitalista, verdadeiro gerador desta e outras atrocidades diariamente cometidas há mais de uma centena de anos, não é, em momento algum, posta em causa pelo filme. A burguesia abandona a sala de cinema, com a sua lágrima pendendo do olho, com a mesma sensação de quem observa as fotos de meninos negros que morrem de fome como contemplando arte, com a mesma sensação que tem a beata quando deixa duas moedas ao senhor sem pernas à porta da igreja.
Podem esperar os quenianos, os sudaneses, os somalis, os etíopes, os eritreus, os djibutianos e os outros coitadinhos que a boa-vontade dos brancos lhes dê para sarar as feridas de outros países que não os seus. O colonialismo britânico, italiano, francês, as incursões militares dos Estados Unidos durante os anos 80 e 90 na maioria destes países, a destruição da revolução socialista da Etiópia, as guerras civis a mando das potências colonialistas e alimentadas pela indústria do armamento, o saque dos poucos recursos naturais do corno de África e a implantação geoestratégica e militar da grande potência imperialista são tudo factores desprezados por estes filmes e por esta visão do mundo. A distribuição da riqueza desequilibrada, o desmantelamento do sistema social dos povos, a exploração desenfreada destas populações como seres humanos descartáveis por parte das multinacionais, o abandono do investimento após a destruição dos países e o usufruto dos benefícios geoestratégicos, a imposição de modelos políticos desadequados, a divisão artificial dos povos, tudo isto, imposições estrangeiras, nunca são referidas nem acusadas.
O episódio retratado pelo filme “the constant gardener” não é um episódio… é uma característica natural do sistema capitalista. Não encontra a sua solução no activismo voluntarista da burguesia. Não a encontrará no preenchimento de cargos de direcção das multinacionais por pessoas de bom coração, escrupulosas ou bondosas. Não a encontrará na evangelização dos povos muçulmanos do Corno de África, nem na intervenção dos senhores doutores dos médicos sem fronteiras, nem aterragem de farinhas recolhidas nos supermercados dos brancos.
É tudo isto que faltava mostrar, para que esta história de amor passasse disso mesmo. Para que o filme deixasse de ser uma mera estetização da miséria com o aproveitamento comercial do sofrimento da criança africana, faltava-lhe dizer a verdade.
O filme é, um thriller com uma história de amor, ao estilo de um Alfaiate do Panamá, nem mais, nem menos.
Do ponto de vista da execução, quer da fotografia, realização ou interpretação, o filme é praticamente imaculado. As cenas tétricas estão conseguidas ao ponto de nos arrancar a lágrima piedosa. A banda sonora é, pura e simplesmente, soberba. Respira-se um mundo diferente a cada plano, cada cena. O argumento, por seu lado, não sendo medíocre, é comum.
Feitas as considerações tecnicistas, para as quais, importará dizer, não sou qualificado, importa ir ao motivo de fundo do filme, o mesmo que me faz escrever. O filme é uma história de amor, ponto. Ainda assim, vários são os jovens adultos que saem do cinema com uma cara de admiração que só lhes fica bem, mas cuja carga de snobismo é indisfarçável. Ao fim daquele filme, fica-nos bem a todos dizer que o filme é excelente, que aquela farmacêutica é muito má e tal.
O filme caracteriza, embrenhado numa história de amor, as operações desumanas de uma farmacêutica no Quénia, dando a entender que estas operações afectam mais países africanos. O filme trata a vida de um conjunto de ditos activistas que tentam desmascarar a dita empresa e o estado britânico que encobre a realização de testes em seres humanos no continente africano.
O que está mal no filme, então? O filme transporta a visão imposta exactamente pelos mesmos que tenta acusar. O filme engrandece o papel de organizações como a Amnistia Internacional e outras ONG´s semelhantes e o dos activistas burgueses da caridade, reduzindo os povos africanos a insignificantes peões no tabuleiro. Insinua-se recorrentemente, através desta visão burguesa, que a emancipação do continente africano é dependente da boa-vontade dos meninos ricos que vestem uma bata e vão 10 anos para África ajudar os coitadinhos. Ninguém, nestes filmes, fala das verdadeiras causas que conduziram África ao estado em que está. Da mesma forma que encobrem o papel ancião dos europeus e o mais recente papel dos Estados Unidos da América no que toca à destruição de África, ensinam-nos agora a magistral tese de que só o homem branco pode salvar o continente negro.
Além disso, de fazer depender a emancipação popular de toda a África da boa-vontade activista, dita humanitária, este filme personifica, numa visão particularmente maniqueísta, a estratégia empresarial das farmacêuticas. Ou seja, a farmacêutica em causa no filme faz o que faz (testes em seres humanos das populações miseráveis do Quénia à revelia do seu conhecimento), porque é dirigida por pessoas sem escrúpulos e de mau carácter. O próprio estado britânico é, de alguma forma, ilibado, porque também aqui, a cobertura que dá às operações da farmacêutica está exclusivamente relacionada com o facto de um senhor sem carácter da diplomacia britânica favorecer a dita empresa em troca de empregos criados em solo britânico.
Ou seja, a engrenagem do sistema capitalista, verdadeiro gerador desta e outras atrocidades diariamente cometidas há mais de uma centena de anos, não é, em momento algum, posta em causa pelo filme. A burguesia abandona a sala de cinema, com a sua lágrima pendendo do olho, com a mesma sensação de quem observa as fotos de meninos negros que morrem de fome como contemplando arte, com a mesma sensação que tem a beata quando deixa duas moedas ao senhor sem pernas à porta da igreja.
Podem esperar os quenianos, os sudaneses, os somalis, os etíopes, os eritreus, os djibutianos e os outros coitadinhos que a boa-vontade dos brancos lhes dê para sarar as feridas de outros países que não os seus. O colonialismo britânico, italiano, francês, as incursões militares dos Estados Unidos durante os anos 80 e 90 na maioria destes países, a destruição da revolução socialista da Etiópia, as guerras civis a mando das potências colonialistas e alimentadas pela indústria do armamento, o saque dos poucos recursos naturais do corno de África e a implantação geoestratégica e militar da grande potência imperialista são tudo factores desprezados por estes filmes e por esta visão do mundo. A distribuição da riqueza desequilibrada, o desmantelamento do sistema social dos povos, a exploração desenfreada destas populações como seres humanos descartáveis por parte das multinacionais, o abandono do investimento após a destruição dos países e o usufruto dos benefícios geoestratégicos, a imposição de modelos políticos desadequados, a divisão artificial dos povos, tudo isto, imposições estrangeiras, nunca são referidas nem acusadas.
O episódio retratado pelo filme “the constant gardener” não é um episódio… é uma característica natural do sistema capitalista. Não encontra a sua solução no activismo voluntarista da burguesia. Não a encontrará no preenchimento de cargos de direcção das multinacionais por pessoas de bom coração, escrupulosas ou bondosas. Não a encontrará na evangelização dos povos muçulmanos do Corno de África, nem na intervenção dos senhores doutores dos médicos sem fronteiras, nem aterragem de farinhas recolhidas nos supermercados dos brancos.
É tudo isto que faltava mostrar, para que esta história de amor passasse disso mesmo. Para que o filme deixasse de ser uma mera estetização da miséria com o aproveitamento comercial do sofrimento da criança africana, faltava-lhe dizer a verdade.
O filme é, um thriller com uma história de amor, ao estilo de um Alfaiate do Panamá, nem mais, nem menos.
Friday, January 06, 2006
O simbionte parasita
Cerca de 200 anos de consolidação prática de um dos ideais mais predatórios da história da humanidade, fizeram também dele, um edifício social e orgânico permanentemente mutável e adaptável, deram-lhe capacidades de inteligência até hoje imbatíveis, mas não lhe retiraram o carácter autofágico e suicida que lhe é inerente e indissociável.
O capitalismo, tal como o conhecemos agora e mesmo nesta sua expressão imperialista, tem longa prática, longos anos de experiência, absorvendo na maioria das situações as maiores criações da humanidade para a satisfação das necessidades desse sistema, colocando a ciência e a economia ao serviço da sua sustentação e, sempre que possível, do seu próprio avanço político e estratégico.
A ofensiva ideológica é de tal forma brutal que a propaganda atinge graus de requinte nunca antes vistos. Num momento histórico em que, supostamente, a humanidade no geral devia estar mais capaz de analisar o meio, de interpretar a realidade e as formas de agir sobre ela, o capitalismo utiliza os mecanismos mais contraditórios de propaganda, assentes em raciocínios deveras elementares, mas ainda assim, muitas vezes praticamente indecifráveis. Os sinais são-nos dados diariamente, a cada segundo, em cada noticiário, em cada aula na escola, em cada dia de trabalho, em cada jornal. Mas tudo se torna bastante mais grave quando o capital detém inteiramente as forças governantes. Claro que isso acontece praticamente desde que existe capitalismo. Rapidamente o capital entendeu que, mesmo o parlamentarismo e as democracias representativas o podiam servir na perfeição, quem sabe, melhor até que uma assumida ditadura. A ilusão é a mais poderosa arma do capitalismo e do patronato. Numa altura em que a repressão não pode atingir os contornos que já atingiu – o que não quer dizer que não torne o capital a utilizá-la de forma massificada, caso entenda que é esse o recurso que mais o serve num futuro – o capital desenvolve novas formas de opressão.
A ofensiva ideológica que presenciamos actualmente é global e, obviamente, toma expressões diversas. Mas uma das suas formas mais preocupantes é a manipulação directa do raciocínio do indivíduo e dos colectivos, por via, quer de um controlo dos conteúdos educacionais, quer do recurso constante aos instrumentos de pressão social de que dispõe um estado. A utilização do Estado para servir o capital, no quadro da sua influência propagandística é um meio típico e habitual do capitalismo, complementado por uma forma de acção semelhante por parte dos partidos burgueses que disputam o poder executivo de um estado capitalista.
Indirectamente já nos remetemos a este assunto noutros posts. Hoje, quando subia um qualquer lance de escadas, revoltei-me com uma artimanha do capital admirável: fazer crer às massas trabalhadoras que o seu bem-estar depende do bem-estar e avanço do próprio capital. Curiosamente, esta relação é unívoca. O capital não assume, pelo contrário, combate a ideia de que o bem-estar das empresas depende do aumento do bem-estar dos trabalhadores.
Incontornavelmente, os interesses destes dois pólos (porque o capital não é propriamente uma classe, sendo representado por várias) são inconciliáveis. Existe um antagonismo insanável. Os trabalhadores anseiam a melhoria das suas condições de vida, dependente do valor dos seus salários e dos serviços públicos capazes de serem prestado pelo Estado. O capital aspira à maior arrecadação de lucro possível, extraído directamente do produto do trabalho dos outros. Ou seja, a razão lucro/salário deve ser sempre a maior possível para satisfazer o capital, verificando-se o inverso para os trabalhadores. À medida que essa taxa diminui o capital perde terreno. E é da diminuição dessa taxa que depende a qualidade de vida dos trabalhadores, bem como a capacidade de qualquer Estado de garantir os serviços básicos à sua população.
Não é raro, antes recorrente, ouvir o governo e os partidos burgueses, argumentarem constantemente com este postulado. A diminuição dos salários reais, por exemplo, ilustra perfeitamente esta concepção. Quanto menores forem os salários, mais vontade de investimento terá o capital privado, sabendo à partida que retirará mais lucros da sua actividade, ou seja, sabe de antemão que disporá de uma razão lucro/salário elevada. Ora, só por si, isto contraria a tese de que existe uma relação simbiótica entre trabalho e capital. Existe sim, uma relação parasitária entre estas duas forças.
Desiludam-se portanto aqueles que descansam ao ouvirem falar de grandes lucros, ou aqueles que suspiram de alívio quando ouvem dizer que tudo será privado porque os serviços públicos não prestam. Desiludam-se aqueles que esperam da florescência do mercado de capitais e do crescimento dos lucros advenientes da especulação uma melhoria concreta nas suas condições de vida. O capital, enquanto dominar, proporcionará aos trabalhadores exactamente o grau de qualidade de vida que julgar essencial para o cumprimento efectivo das tarefas que cabem aos trabalhadores. O capitalismo não anseia a sua própria ruptura e vem tratando a suas feridas provisoriamente e de forma remediada há muito, o que conduzirá a uma exposição cada vez maior das suas contradições internas, bem como das suas consequências junto dos povos.
O capitalismo, tal como o conhecemos agora e mesmo nesta sua expressão imperialista, tem longa prática, longos anos de experiência, absorvendo na maioria das situações as maiores criações da humanidade para a satisfação das necessidades desse sistema, colocando a ciência e a economia ao serviço da sua sustentação e, sempre que possível, do seu próprio avanço político e estratégico.
A ofensiva ideológica é de tal forma brutal que a propaganda atinge graus de requinte nunca antes vistos. Num momento histórico em que, supostamente, a humanidade no geral devia estar mais capaz de analisar o meio, de interpretar a realidade e as formas de agir sobre ela, o capitalismo utiliza os mecanismos mais contraditórios de propaganda, assentes em raciocínios deveras elementares, mas ainda assim, muitas vezes praticamente indecifráveis. Os sinais são-nos dados diariamente, a cada segundo, em cada noticiário, em cada aula na escola, em cada dia de trabalho, em cada jornal. Mas tudo se torna bastante mais grave quando o capital detém inteiramente as forças governantes. Claro que isso acontece praticamente desde que existe capitalismo. Rapidamente o capital entendeu que, mesmo o parlamentarismo e as democracias representativas o podiam servir na perfeição, quem sabe, melhor até que uma assumida ditadura. A ilusão é a mais poderosa arma do capitalismo e do patronato. Numa altura em que a repressão não pode atingir os contornos que já atingiu – o que não quer dizer que não torne o capital a utilizá-la de forma massificada, caso entenda que é esse o recurso que mais o serve num futuro – o capital desenvolve novas formas de opressão.
A ofensiva ideológica que presenciamos actualmente é global e, obviamente, toma expressões diversas. Mas uma das suas formas mais preocupantes é a manipulação directa do raciocínio do indivíduo e dos colectivos, por via, quer de um controlo dos conteúdos educacionais, quer do recurso constante aos instrumentos de pressão social de que dispõe um estado. A utilização do Estado para servir o capital, no quadro da sua influência propagandística é um meio típico e habitual do capitalismo, complementado por uma forma de acção semelhante por parte dos partidos burgueses que disputam o poder executivo de um estado capitalista.
Indirectamente já nos remetemos a este assunto noutros posts. Hoje, quando subia um qualquer lance de escadas, revoltei-me com uma artimanha do capital admirável: fazer crer às massas trabalhadoras que o seu bem-estar depende do bem-estar e avanço do próprio capital. Curiosamente, esta relação é unívoca. O capital não assume, pelo contrário, combate a ideia de que o bem-estar das empresas depende do aumento do bem-estar dos trabalhadores.
Incontornavelmente, os interesses destes dois pólos (porque o capital não é propriamente uma classe, sendo representado por várias) são inconciliáveis. Existe um antagonismo insanável. Os trabalhadores anseiam a melhoria das suas condições de vida, dependente do valor dos seus salários e dos serviços públicos capazes de serem prestado pelo Estado. O capital aspira à maior arrecadação de lucro possível, extraído directamente do produto do trabalho dos outros. Ou seja, a razão lucro/salário deve ser sempre a maior possível para satisfazer o capital, verificando-se o inverso para os trabalhadores. À medida que essa taxa diminui o capital perde terreno. E é da diminuição dessa taxa que depende a qualidade de vida dos trabalhadores, bem como a capacidade de qualquer Estado de garantir os serviços básicos à sua população.
Não é raro, antes recorrente, ouvir o governo e os partidos burgueses, argumentarem constantemente com este postulado. A diminuição dos salários reais, por exemplo, ilustra perfeitamente esta concepção. Quanto menores forem os salários, mais vontade de investimento terá o capital privado, sabendo à partida que retirará mais lucros da sua actividade, ou seja, sabe de antemão que disporá de uma razão lucro/salário elevada. Ora, só por si, isto contraria a tese de que existe uma relação simbiótica entre trabalho e capital. Existe sim, uma relação parasitária entre estas duas forças.
Desiludam-se portanto aqueles que descansam ao ouvirem falar de grandes lucros, ou aqueles que suspiram de alívio quando ouvem dizer que tudo será privado porque os serviços públicos não prestam. Desiludam-se aqueles que esperam da florescência do mercado de capitais e do crescimento dos lucros advenientes da especulação uma melhoria concreta nas suas condições de vida. O capital, enquanto dominar, proporcionará aos trabalhadores exactamente o grau de qualidade de vida que julgar essencial para o cumprimento efectivo das tarefas que cabem aos trabalhadores. O capitalismo não anseia a sua própria ruptura e vem tratando a suas feridas provisoriamente e de forma remediada há muito, o que conduzirá a uma exposição cada vez maior das suas contradições internas, bem como das suas consequências junto dos povos.
Queres saudinha? Paga!
Hoje foi discutido na Assembleia da República um Projecto de Lei do PCP que sustentava a revogação das taxas revogadoras praticadas no serviço nacional de saúde. A direita uniu-se, com a mãozinha do Partido Socialista, também ele cada vez mais posicionado à direita e mais uma vez manifestou a sua visão retrógrada perante os serviços públicos.
A verdade é que a política deste governo tem estado apostada no desmantelamento dos serviços públicos, não fazendo excepção do Serviço Nacional de Saúde, conquista irrevogável da Revolução Democrática de Abril. Das bancadas da direita, contando sempre a partir do corredor que divide as bancadas do PS e do PCP, sentiu-se o maior repúdio pela população. Acusou de tudo os portugueses que recorrem às urgências dos hospitais. Acusou-os de despesistas, alarmistas, abusadores, hipocondríacos, enfim… PS, PSD e CDS foram tão unânimes quanto reaccionários, sustentando que as pessoas vão às urgências porque este serviço é barato. Para estes partidos, o pessoal, os velhotes e tudo, vão às urgências porque curtem a cena de passar 5 a 6 horas num hall mal-cheiroso, onde se vê de tudo, desde o toxicodependente a vomitar ao nosso lado, ao velhote cadavérico que morre ali mesmo no corredor ao lado sem sequer um familiar que o abrace no último fôlego.
É isto mesmo. Eu, que me dirijo sempre que necessário às urgências dos hospitais públicos, gosto tanto de lá ir como de passear junto ao rio numa tarde soalheira. Aliás, como aquilo até me sai mais barato que umas bjecas na cervejaria mais próxima, vou ali desbundar uma beca as urgências do hospital, às vezes até convido os meus amigos e fazemos lá grandes festas.
E é muita giro! Mesmo ao nosso lado costuma estar sempre a acontecer uma rave da terceira idade reumática e hipertensa. São um clube muito restrito, porque não basta ser velho, tem de se ser também reumático e hipertenso.
Ora bem, para estes partidos, a desculpa é a seguinte: “Se houver taxas moderadoras, o pessoal não abusa dos hospitais.” Na verdade escondem a real intenção – fazer pagar pelo serviço público, pois é esse o primeiro passo para acabar com ele. Aquilo que é pago não é público, é híbrido… está na fronteira entre o público e o que em breve será privado. Utilizarei como ilustração a Educação. A educação pública era gratuita logo após o vinte e cinco de Abril. O governo de Cavaco Silva introduziu novamente o pagamento da taxa, vulgo propina, e daí até essa taxa atingir valores completamente descabidos foi espaço curtíssimo de tempo. Os estudantes permitiram a introdução da propina… o que estava em causa não era tanto o seu valor, mas a sua carga ideológica, o seu significado político e social.
Acontece que hoje, muito pouco tempo depois (cerca de 15-20 anos) as propinas já estão em 900€ e já impedem muita gente de estudar. Isto veio sem dúvida constituir o grande passo em frente do Ensino Superior Privado. Cada vez é mais semelhante o valor da propina no público e no privado. Quem ganha? A rede privada de educação que, curiosamente, consegue cobrir todo o território nacional, proeza que não consegue a rede pública universitária.
Ora, com a saúde está a passar-se o mesmo. A introdução da taxa moderadora, escudada num conjunto demagógico de pretextos, não é mais do que o início da mercantilização da saúde. Quem não quer uma saúde pública gratuita são as grandes empresas que exploram agora hospitais. A saúde pode ser uma autêntica máquina de fazer dinheiro, porque é algo a que não podemos escapar, se estamos doentes, temos de ir…
As taxas moderadoras continuam a existir… barbaramente. Irão aumentar, barbara e desproporcionadamente. Quem ganha? Ganha o neo-liberalismo e os hospitais e clínicas privadas. Quando for impossível recorrer ao Serviço Nacional de Saúde, quer pelos exagerados preços, quer pela fraca prestação de um serviço que tem vindo a ser desmantelado, então os utentes serão obrigados a ir ao privado. Quando não restar um centro de saúde para escoar doenças menos urgentes, quando no hospital público, ao invés de esperarmos as 5 horas habituais pelo atendimento, esperarmos 10 por não existirem médicos no sector público, então, serão os privados a solução. Tudo bem… para quem? Para quem tiver dinheiro para pagar… quem não tiver… morra longe.
Isto está cada vez mais uma América. Acabe-se com a hipocrisia. É tempo de ir aos bolsos de quem tem dinheiro. Porque é que a banca e o sector financeiro pagam quantias miseráveis de impostos, quando são os sectores que mais lucram? Porque é que as transacções bolsistas não pagam impostos sobre as suas mais-valias? Para não ir a estes bolsos gigantescos buscar dinheiro e, pelo contrário, para os enriquecer cada vez vez mais temos cá o PS, o PSD e o CDS, paladinos do lucro, da desumanização e da exploração, sob a capa da hipocrisia e das lágrimas nos olhos pelos pobrezinhos.
A verdade é que a política deste governo tem estado apostada no desmantelamento dos serviços públicos, não fazendo excepção do Serviço Nacional de Saúde, conquista irrevogável da Revolução Democrática de Abril. Das bancadas da direita, contando sempre a partir do corredor que divide as bancadas do PS e do PCP, sentiu-se o maior repúdio pela população. Acusou de tudo os portugueses que recorrem às urgências dos hospitais. Acusou-os de despesistas, alarmistas, abusadores, hipocondríacos, enfim… PS, PSD e CDS foram tão unânimes quanto reaccionários, sustentando que as pessoas vão às urgências porque este serviço é barato. Para estes partidos, o pessoal, os velhotes e tudo, vão às urgências porque curtem a cena de passar 5 a 6 horas num hall mal-cheiroso, onde se vê de tudo, desde o toxicodependente a vomitar ao nosso lado, ao velhote cadavérico que morre ali mesmo no corredor ao lado sem sequer um familiar que o abrace no último fôlego.
É isto mesmo. Eu, que me dirijo sempre que necessário às urgências dos hospitais públicos, gosto tanto de lá ir como de passear junto ao rio numa tarde soalheira. Aliás, como aquilo até me sai mais barato que umas bjecas na cervejaria mais próxima, vou ali desbundar uma beca as urgências do hospital, às vezes até convido os meus amigos e fazemos lá grandes festas.
E é muita giro! Mesmo ao nosso lado costuma estar sempre a acontecer uma rave da terceira idade reumática e hipertensa. São um clube muito restrito, porque não basta ser velho, tem de se ser também reumático e hipertenso.
Ora bem, para estes partidos, a desculpa é a seguinte: “Se houver taxas moderadoras, o pessoal não abusa dos hospitais.” Na verdade escondem a real intenção – fazer pagar pelo serviço público, pois é esse o primeiro passo para acabar com ele. Aquilo que é pago não é público, é híbrido… está na fronteira entre o público e o que em breve será privado. Utilizarei como ilustração a Educação. A educação pública era gratuita logo após o vinte e cinco de Abril. O governo de Cavaco Silva introduziu novamente o pagamento da taxa, vulgo propina, e daí até essa taxa atingir valores completamente descabidos foi espaço curtíssimo de tempo. Os estudantes permitiram a introdução da propina… o que estava em causa não era tanto o seu valor, mas a sua carga ideológica, o seu significado político e social.
Acontece que hoje, muito pouco tempo depois (cerca de 15-20 anos) as propinas já estão em 900€ e já impedem muita gente de estudar. Isto veio sem dúvida constituir o grande passo em frente do Ensino Superior Privado. Cada vez é mais semelhante o valor da propina no público e no privado. Quem ganha? A rede privada de educação que, curiosamente, consegue cobrir todo o território nacional, proeza que não consegue a rede pública universitária.
Ora, com a saúde está a passar-se o mesmo. A introdução da taxa moderadora, escudada num conjunto demagógico de pretextos, não é mais do que o início da mercantilização da saúde. Quem não quer uma saúde pública gratuita são as grandes empresas que exploram agora hospitais. A saúde pode ser uma autêntica máquina de fazer dinheiro, porque é algo a que não podemos escapar, se estamos doentes, temos de ir…
As taxas moderadoras continuam a existir… barbaramente. Irão aumentar, barbara e desproporcionadamente. Quem ganha? Ganha o neo-liberalismo e os hospitais e clínicas privadas. Quando for impossível recorrer ao Serviço Nacional de Saúde, quer pelos exagerados preços, quer pela fraca prestação de um serviço que tem vindo a ser desmantelado, então os utentes serão obrigados a ir ao privado. Quando não restar um centro de saúde para escoar doenças menos urgentes, quando no hospital público, ao invés de esperarmos as 5 horas habituais pelo atendimento, esperarmos 10 por não existirem médicos no sector público, então, serão os privados a solução. Tudo bem… para quem? Para quem tiver dinheiro para pagar… quem não tiver… morra longe.
Isto está cada vez mais uma América. Acabe-se com a hipocrisia. É tempo de ir aos bolsos de quem tem dinheiro. Porque é que a banca e o sector financeiro pagam quantias miseráveis de impostos, quando são os sectores que mais lucram? Porque é que as transacções bolsistas não pagam impostos sobre as suas mais-valias? Para não ir a estes bolsos gigantescos buscar dinheiro e, pelo contrário, para os enriquecer cada vez vez mais temos cá o PS, o PSD e o CDS, paladinos do lucro, da desumanização e da exploração, sob a capa da hipocrisia e das lágrimas nos olhos pelos pobrezinhos.
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