Thursday, April 27, 2006

25 de Abril (atrasado)

Raio de blog de esquerda que não dá três vivas ao 25 de Abril. Não há um cravo nem nada. Em hora tardia nos redimimos. Pedimos desculpa. Estivemos na rua a comemorar (desculpa verdadeira que não justifica a total ausência).

Falamos e festejamos o 25 de Abril. o Dia da Liberdade, não num acto de saudosismo, mas conscientes da importância que teve, e ainda tem para as nossas vidas.

Hoje ensinam-nos na escola, e no educador-mor, a televisão, uma coisa do estilo "antes do 25 não se podia falar, reunir ou associar e agora pode-se, graças aos militares que estavam descontentes com a guerra colonial que fizeram um golpe miltar e, por acaso, as pessoas saíram também à rua".

Não podia ser mais redutor.

Não nos podemos esquecer do que foram os 48 anos de fascismo em Portugal. Pela pobreza extrema, pelo analfabetismo, pelas perseguições políticas, pela tortura e muitas vezes a morte a quem defendia tão-só a liberdade e lutava por ela.

Limitar as conquistas de Abril ao direito de associação, reunião e expressão é dar uma visão distorcida da realidade. Não podemos, por uma questão de tempo (e já agora de espaço) enumerar todas estas conquistas, mas não podemos falar de Abril sem referir o direito a férias pagas, o salário mínimo nacional, o fim dos latinfúndios (a terra a quem a trabalha!) e dos monopólios, as nacionalizações, a massificação da cultura, do ensino, da saúde....

( e em 2006 os latifúndios aí estão, empresas do estado as que ainda não foram privatizadas estão na lista, os senhores do antigamente são os de agora, saúde, ensino e cultura são para quem os possa pagar, o salário mínimo é de facto, mínimo......)


Por último, o dia 25 de Abril surgiu de facto pela mão dos militares. Mas não podemos nunca pensar que foi um acto isolado do resto da luta dos trabalhadores e da população por melhores condições de vida e contra o fascismo. De facto, toda a luta desenvolvida, desde as grandes greves das 8 horas, às lutas sectoriais, às comemorações do 1º de Maio, em que naturalmente destacamos o papel dos comunistas pelo seu papel na organização e direcção dos trabalhadores, forma essenciais para a materialização do descontentamento polpular num dia- o 25 de Abril.

Por isso estivemos na rua . Para lembrar o 25 de Abril. Para desmistificar ideias erradas. Mas sobretudo para defender o que foi conquistado com a Revolução

Wednesday, April 26, 2006

Há flores que já brotaram, mas encherão ainda o mundo e nossas vidas

Na sua obra, O Capital, Marx apresenta um capítulo maravilhoso [Capítulo XI – nota do editor], o qual quero traduzir para a mais simples das linguagens, tão simples que possibilite até aos semi-letrados a sua compreensão, o capítulo sobre a cooperação, no qual Marx sustenta que o colectivo faz nascer uma nova força. Não é apenas o somatório de pessoas, nem tampouco o somatório das suas forças, mas uma completamente nova, muito mais poderosa força. No seu capítulo sobre cooperação, Marx escreve sobre a força material. Mas quando, partindo dessa análise, a unidade da consciência e da vontade florescerem, essa força torna-se ilimitada.

Nadezhda Krupskaya, em carta dirigida a A. M. Gorki de Setembro de 1932.

Friday, April 21, 2006

Os deputados a menos.

Desde que um conjunto de deputados da nação nos presentearam com um potenciado comportamento de displicência nas vésperas da Páscoa, abundam por aí doutores e outros papagaios que cavalgam a onda, exigindo a reforma do sistema político.

Claro que a ideia de que existem deputados a mais começa a ter cada vez mais eco na população, fortemente fomentada pela comunicação social dominante. A democracia representativa que temos em Portugal, ainda que burguesa, é minimamente próxima do cidadão e tem uma garantia de pluralidade significativa, tendo em conta que é capaz de reflectir, por uma lado as diversas regiões do país, por outro, as forças partidárias em um largo espectro.

O capital, a burguesia e os serviços de comunicação ao seu dispor têm vindo a promover, desde cedo, um ataque cerrado às conquistas de Abril. Ora, uma dessas conquistas é precisamente a democracia representativa. Todos os dias se ataca cada uma das conquistas de Abril, logo esta não escapa à fúria contra-revolucionária.

A ideia de que existem deputados a mais, de que não fazem nenhum, de que só querem encher o bolso e deter poder é disso forte expressão. Conquistar esta posição nas massas é meio caminho andado para que a população aplauda um forte e rude golpe contra o regime democrático burguês actual, provocando um retrocesso grave na reconstituição do poder político corporativista. A restauração dos monopólios económicos está garantida, resta garantir a restauração do monopólio político.

O Partido Socialista, com o apoio declarado do PSD já afirmaram que querem alterar a composição da democracia portuguesa. Utilizando as suas próprias falhas. São exactamente PS e PSD os partidos que mais faltam às reuniões plenárias e de Comissões parlamentares e os que mais deputados inactivos têm. São exactamente esses dois partidos os donos da alternância doentia que tem governado o país e que tem conduzido ao desbaratar da esperança popular. E, pasme-se, são precisamente eles que se arrogam na posse da seriedade ética para rever as leis que fazem a democracia que temos.

Vejamos, sob o pretexto de existirem deputados a mais, PS e PSD propõem uma solução de diminuição do número de deputados e da criação de círculos uninominais. Ou seja, só os partidos mais votados em cada região do país elegeriam deputados, um pouco à semelhança do que acontece nos EUA. Isto, obviamente, varreria do panorama os partidos menos votados. Boa solução, menos deputados, menos representatividade, menos pluralidade, mais concentração, mais facilidade em recompor o monopólio político.

Ao mesmo tempo que nos tentam convencer de que existem deputados a mais, escondem que existem deputados que efectivamente trabalham. Existem deputados que trabalham e estão, curiosamente nas forças políticas menos votadas. Deputados que não faltam, que dinamizam o trabalho e apresentam propostas sérias para o progresso social do país. E entre os deputados que trabalham, existem 12 que além de trabalhar ali dentro, trabalham no terreno, com as populações, numa íntima ligação com a luta de massas, com os anseios dos trabalhadores, das mulheres e dos jovens, deputados que não beneficiam do estatuto monetário, que têm como princípio não serem beneficiados pela tarefa que neste momento cumprem.

Existem, portanto, deputados a menos. Deputados comunistas. A questão não está no número de deputados, mas na política que preconizam. Com mais deputados comunistas, com mais deputados de esquerda, a Assembleia da República estaria à altura de satisfazer as principais necessidades da população e do país.

Diminuam-se os deputados da direita (PS, PSD e CDS) e veremos que o que existem é deputados sérios a menos.

Onde pára a cultura XVII?

Em Junho de 2004, o Partido Socialista acusava o Governo, então PSD-CDS, de insensibilidade cultural, referindo que a decisão de fundir o Instituto Português de Arqueologia não tinha compatibilidade com a estrutura do Instituto Português do Património Arquitectónico. O Partido Socialista assumia, de diversas formas, o seu apoio à luta dos quadros do IPA pela manutenção do organismo, do seu organigrama e da sua autonomia e independência.

O Instituto Português de Arqueologia funciona, principalmente, em edifícios antigos e algo degradados na Avenida da Índia, em Lisboa. Quem por ali passar, olhando de fora, não diria o que lá dentro se passa e se constrói. Embora leve a cabo as suas tarefas em grandes pavilhões decrépitos, antigas instalações da Marinha, o IPA tem tido a capacidade de produzir ciência, cultura e conhecimento.

Desengane-se, no entanto, que o IPA é um instituto de biblioteca, desengane-se quem pensa que o IPA é um conjunto burocrático de funcionários do Estado que escrevem livros e artigos científicos. O IPA é responsável pela introdução do critério arqueológico no ordenamento do território de todo o país, dinamizando um tecido empresarial de mais de 50 empresas. É o IPA que, junto do Poder Local, garante a avaliação científica de sítios arqueológicos e a tomada das medidas necessárias para a conservação ou registo dos dados.

O IPA, nas suas variadas vertentes de trabalho, tem tido a capacidade para ser motor do desenvolvimento da Arqueologia em Portugal, para a qual acordámos tão tardiamente.

Mas o IPA também é um exemplo de boa gestão, o IPA funciona com um quadro reduzido de pessoas, tem crescido em capacidade de resposta ao que lhe é exigido e conseguiu, em poucos anos, angariar o estatuto de maior autoridade no campo da Arqueologia em Portugal. O IPA não apresenta défice estrutural, garante a gestão adequada dos dinheiros públicos e tem os salários em dia. O IPA funciona em condições de grande dificuldade e um dos espaços que se lhe têm mostrado bastante necessários aguarda uma verba de, pasme-se, 100.000€ (vinte mil contos!!!) para dinamizar um espaço fundamental, anexo à sua biblioteca.

E já que falámos da biblioteca do IPA, não seria justo não referir a sua importância. A biblioteca é de acesso público e está, inclusivamente, disponível on-line - http://www.ipa.min-cultura.pt/Biblioteca . A biblioteca é a maior do género no país e dispõe de um acervo único e de grande valor, herdado do Estado Alemão, ao abrigo de um protocolo entre Instituto Alemão de Arqueologia e o IPA. A biblioteca do IPA acolhe desde os estudantes aos profissionais de arqueologia ou áreas afins e associadas de todo o país.

Mas falar do Instituto Português de Arqueologia não deve deixar passar ao lado aquilo que a maioria de nós não sabe: o que o IPA produz. O IPA tem actualmente a maior colecção de ossos de aves da Península Ibérica, recolhidos pelos seus próprios profissionais, catalogando e identificando, dando um precioso contributo para o estudo do passado (arqueozoologia) mas também garantindo a existência de uma base de dados única que serve também para os trabalhos da biologia actual, para a identificação de espécies e compreensão das causas de morte.

O IPA realizou o único estudo polínico de alta-resolução do país, com um calendário pormenorizado ao dia e com centenas de espécies polinizadoras estudadas em Lisboa e Barreiro, dando um contributo essencial à medicina, principalmente para os estudos alergológicos e imunológicos. Também no departamento de arqueobotânica, o IPA dispõe de uma equipa que tem dado sérios contributos para a compreensão científica da paleo e arqueoclimatologia, através do estudo sistemático das deposições fósseis de grãos de pólen em sistemas lagunares do continente, do litoral ao interior.

O IPA tem o único centro de estudo do país em arqueotecnologia, capaz de identificar a evolução tecnológica dos utensílios do Homem em território nacional desde o paleolítico.

O IPA dispõe de uma equipa de estudo em arqueologia sub-aquática e marinha e tem demonstrado extrema capacidade e criatividade no que toca à identificação, recuperação e conservação de peças importantíssimas da arqueologia do país. O IPA desenvolveu mecanismos próprios de tratamento de madeiras e metais antigos, conseguindo conservar desde pirogas com mais de 2000 anos até canhões e peças de antigas embarcações do século XVI.

O IPA é um centro de criatividade e empenho, onde a ciência se respira a cada passo, onde os olhares dos profissionais são humanos e comprometidos com o trabalho. O IPA é um centro de produção científica, mas também de engenharia de soluções.

Num país em que a cultura, bem como a ciência, são utilizados exclusivamente para servir de atracção na feira da política nacional, em que os sucessivos governos têm tratado o trabalho dos nossos cientistas como um peso orçamental e não como uma mais-valia, a cultura é a primeira a pagar.

A cultura é essencial ao desenvolvimento do ser humano e, neste caso concreto, essencial à relação harmoniosa entre futuro e passado, garante do respeito pela história e indicador da humildade que terá de ter qualquer sociedade, no reconhecimento de que o futuro não se constrói sem aprender com o passado.

A direita, seja PS, PSD ou CDS, entende a cultura como uma mercadoria, necessariamente rentável e lucrativa, reservada às elites burguesas ou intelectuais. É nesse entendimento que o PS, agora governo, faz tábua rasa das suas próprias palavras de Junho de 2004 e cumpre o seu papel de vanguarda do patronato. Cultura nacional e popular, ciência pública e tudo quanto possa ser democrático não estão nos objectivos do Governo. Ceder espaços a empresas “culturais” para nos cobrarem bilhetes de valores astronómicos para ver os freak shows do capital é dinamizar cultura ou mesmo trancar em salas altivas e inacessíveis os melhores espectáculos e exposições do mundo, nisso sim, os nossos governos são exímios. Está feita a cultura.

Thursday, April 13, 2006

não aos insultos no futebol??? então para que serviria o jogo?

ontem houve uma manifestação sobre questões do desporto em frente à Assembleia da República.

1 (um) manifestante com 1 (um) cachecol (cachecol) a dizer fairplay e que gritava a plenos pulmões:

"- NINGUÉM PÁRA O FAIRPLAY!!!"

"-NENHUM GOVERNO PÁRA O FAIRPLAY!!!"

"-NÃO AO RACISMO NO FUTEBOL!!!"

"-NÃO AOS INSULTOS (sim, insultos...) NO FUTEBOL!!!"

e esta?!?!

passado algum tempo, a manifestação foi reprimida por 1 (um) polícia (polícia) que desmobilizou o manifestante.