Nunca podemos aceitar a "crença supersticiosa" no "Estado" e nunca esquecer que o Estado, nem na mais democrática república, e não apenas numa monarquia, é simplesmente uma máquina para a supressão de uma classe por outra.
Os burgueses são compelidos a ser hipócritas e a descrever como "governo popular" democracia em geral, ou democracia pura, a república democrática (burguesa) que é, na prática, a ditadura da burguesia, a ditadura dos exploradores sobre os trabalhadores. [...] Mas os marxistas, comunistas, expõem esta hipocrisia, e dizem à classe operária e trabalhadores em geral esta franca e frontal verdade: a república democrática, a assembleia constituinte, as eleições gerais, etc., são, na prática, a ditadura da burguesia, e para a emancipação do trabalho do jugo do capital não existe nenhum outro caminho a não ser o da substituição dessa ditadura pelo da ditadura do proletariado.
Só a ditadura do proletariado pode emancipar a humanidade da opressão do capital, das mentiras, falsidade e hipocrisia da democracia burguesa - democracia para os ricos - e estabelecer democracia para os pobres , isto é, tornar as bênçãos da democraica realmente acessíveis aos trabalhadores e aos camponeses pobres, enquanto que agora (mesmo na mais democrática república - burguesa - )as bênçãos da democracia estão, de facto, inacessíveis à vasta maioria dos trabalhadores.
Tomemos, por exemplo, a liberdade de reunião e a liberdade de imprensa. [...] São mentiras. Na prática, os capitalistas, os exploradores, os proprietários e latifundiários possuem 9/10 das instalações para reuniões, e 9/10 da capacidade de impressão de notícias, impressoras, etc.. Os trabalhadores urbanos, os trabalhadores rurais e outros trabalhadores estão, na prática, impedidos de aceder ao "sagrado direito da propriedade" pela própria "democracia" e pelo aparelho de estado burguês, isto é, pelos oficiais burguês, juízes burgueses, e tudo o mais. A presente "liberdade de reunião e de imprensa" na democracia burguesa alemã é falsa e hipócrita, porque de facto é a liberdade para os ricos comprarem e subornarem a imprensa, a liberdade para os ricos de envenenar a opinião pública através da imprensa, a liberdade para os ricos de manterem como sua a propriedade das mansões, dos melhores edifícios, etc.. A ditadura do proletariado retirará dos capitalistas e entregará aos trabalhadores as mansões e edifícios, a imprensa e a capacidade de impressão.
Mas isto significa substituir a democracia "pura" e "universal" pela ditadura de uma classe, gritam os Scheidemanns e os Kautskys, os Austerlitzes e Renners (juntamente com os seus seguidores em outros países - os Gomperses, Hendersons, Renaudels, Vandervelde e companhia).
Errado, respondemos nós. Isto significa substituir o que é de facto a ditadura da burguesa (uma ditadura hipocritamente vestida nas roupagens de uma democracia burguesa) pela ditadura do proletariado. Isto significa substituir a democraica para os ricos pela democraica para os pobres. Significa substituir a liberdade de reunião para e imprensa uma minoria, para os exploradores, pela liberdade de reunião e imprensa para a maioria da população, para os trabalhadores. Isto significa uma gigantesca, mundialmente histórica extensão da democracia, a sua transformação de falsidade em verdade, a libertação da humanidade dos grilhões do capital, que distorcem e truncam toda, até mesmo a mais democrática e republicana democracia burguesa. Isto significa substituir o estado burguês pelo estado proletário, uma substituição que representa o único caminho para que o estado possa extinguir-se eventualmente no seu conjunto.
Mas porque não atingir este objectivo sem a ditadura de uma classe? Porque não passar para aí directamente através da democracia "pura"? Assim perguntam os amigos hipócritas da burguesia a pequena-burguesia ingénua, e os filisteus estimulados por esses.
E nós respondemos: Porque em qualquer sociedade capitalista, os poderosos dizem mentiras tanto ao proletariado com o à burguesia, enquanto os pequenos proprietários continuam inevitavelmente perdidos, estupidamente sonhando com a "democracia pura", com uma democracia acima das classes ou não classista. Porque de uma a sociedade em que uma classe se opõe a outra não há outra forma de superação a não ser pela ditadura da classe oprimida. Porque o proletariado por si só é capaz de derrotar a burguesia, por ser a única classe que o capitalismo uniu e "ensinou", e que é capaz de trazer para seu lado as massas perdidas de trabalhadores com o estilo de vida da pequena-burguesia, ou pelo menos de as "neutralizar". Apenas os iludidos pequeno-burgueses e filisteus podem sonhar - enganando-se a si próprios e aos trabalhadores - em derrubar a opressão capitalista com um longo e difícil processo de supressão da resistência dos exploradores. Na Alemanha e na Áustria esta resistência não é ainda muito pronunciada porque a expropriação dos expropriadores ainda não começou. Mas quando a expropriação começar, a resistência será feroz e desesperada. Ao esconder isto dos trabalhadores [...] traem os interesses do proletariado, alterando o comportamento nos mais decisivos momentos da luta de classe e libertação da burguesia, chegando a acordos com a burguesia, atingindo a "paz social", a reconciliação entre explorados e exploradores.
[...] O proletariado afastará estes "traidores sociais" - Socialistas na palavra mas traidores do socialismo na prática. Quanto mais completo for o domínio desses líderes, mais depressa o proletariado compreenderá que só a substituição do estado burguês, mesmo que seja uma democracia burguesa republicana, por um estado do tipo da Comuna de Paris [...] ou por um estado do tipo soviético, pode abrir o caminho para o socialismo."
V. I Lénine
Moscovo, 23 de Dezembro de 1918
Tradução da responsabilidade do autor do blog, partindo do inglês.
Moscovo, 23 de Dezembro de 1918
Tradução da responsabilidade do autor do blog, partindo do inglês.