Saturday, June 28, 2008

outra vez a manipulação

Recorrentemente, à medida que nos aproximamos de momentos eleitorais, as sondagens sobre a intenção de voto da população começam a ser instrumentalizadas com maior intensidade.

Durante o mandato do Partido Socialista, com o PSD em destroços no plano da liderança, as sondagens não podiam fazer dissipar as intenções de voto do Partido Socialista. A estabilidade eleitoral era apresentada como um apoio silencioso ao governo. Incompreensivelmente, segundo as sondagens o Partido Socialista arrecadaria sempre grande parte dos votos - o que era justificado pelos fazedores de opinião e outros iluminados acima de toda a suspeita com a ausência de alternativas à direita.

O que mudou agora?

Por um lado a aproximação temporal de períodos eleitorais. Por outro, a alteração das características conjunturais de alguns partidos da "oposição". Ora vejamos: as peças começam a mover-se no tabuleiro da política nacional. As posições alinham-se na defesa de um sistema estável, sempre em conformidade com as grandes orientações dos grandes interesses económicos e do directório europeu. Importa mobilizar todos os esforços para que o poder político português mantenha o povo contido entre as linhas de delimitação do campo neo-liberal e à mercê da exploração.

Vejamos o que está mudar: o PSD está a sofrer um autêntico lifting mediático, um branqueamento. A imagem de Ferreira Leite, depois de Ministra da Educação proto-fascista; passando por Ministra das Finanças da desumanidade e do desastre técnico, passa a santa aparecida do rigor e da austeridade competente. Com isto, o sistema promove uma real força de alternativa eleitoral ao PS, sem permitir o surgimento da alternativa política. Ao mesmo tempo, ainda que nas costas da população, o bloco central partidário - representante claro do bloco central de interesses - vai-se posicionando para assumir, se necessário, um Governo de "união nacional".

No outro plano, ou seja, no Plano B do capital, vão-se ensaiando as outras "alternativas" do sistema. Manuel Alegre cumpre o papel histórico que lhe coube e que assume com diligência a cada vez que tal lhe é exigido. O Bloco de Esquerda começa finalmente a mostrar a sua verdadeira face de reformista e de bolsa de contenção e reorientação do descontentamento. As suas campanhas anti-sindicais, o seu discurso anti-partidos denunciam perfeitamente o seu alinhamento com as orientações reaccionárias. Mas mais que isso, as movimentações premeditadas do BE e de forças mais obscuras da chamada "esquerda" começam a ensaiar os típicos golpes para que o poder nunca caia de facto nas mãos dos trabalhadores. A burguesia destacada, a pequena-burguesia e as elites da pequena-burguesia de fachada pseudo-socialista começa a assumir os postos nas alturas em que o proletariado avança mais na luta, particularmente nas alturas em que a luta de massas assume dimensões de grande importância. O engrandecimento artifical do BE, promovido por estes golpes mediáticos e pela manipulação de informação, acompanhados por uma objectiva e cada vez mais clara promoção na Comunicação Social Dominante é aliás a própria resposta da burguesia à luta popular. Ou seja, que o descontentamento encontre sempre uma resposta que bloqueie o desenvolvimento da consciência de classe - uma fase de retardamento e contenção.

As sondagens, à medida que nos aproximamos das eleições, tendem sempre a dar uma votação superior ao BE do que ao PCP, não fossem elas concebidas e executadas pelas mesmas forças que são motor e sustento do próprio BE. Mas a realidade desmente sempre as sondagens com significativas margens. Esperemos que o reforço da luta desague como um rio no aumento da consciência de classe. Mas o trabalho que temos pela frente não é fácil - a inevitabilidade histórica não está balizada no tempo, nem tampouco sabemos se o tempo chegará para atingirmos a sua concretização. Mas o que sabemos é que os processos históricos não cessam, podem acelerar ou desacelerar, mas são sempre inexoráveis e irrevogáveis. E desses processos, os protagonistas não são as franjas da burguesia, de esquerda ou de direita; mas sim os trabalhadores e os povos de todo o mundo.

Wednesday, June 25, 2008

África

No Burkina Faso a repressão policial abateu-se contra as manifestações e houve 2 centenas de mortos.

Nos Camarões, centenas de jovens e trabalhadores foram presos por se manifestarem contra o aumento do custo de vida - com recurso a julgamentos aleatórios e em série. Também nos Camarões, a polícia assassinou durante 2006 e 2007 vários estudantes que participavam em protestos contra a limitação das entradas na Nova Faculdade de Medicina da Universidade de Buea.

No Senegal, motins e manifestações de milhares de mulheres saíram à rua contra o aumento do preço dos bens essenciais.

Na Costa do Marfim, a população manifesta-se gritando "Gbagbo, temos fome!", enquanto o Presidente recebe os amigos franceses (Jack Lang - que medalhou pela sua qualidade de "humanista") e com eles dança pelo "red light district" de Abidjan. Também sobre estes homens e mulheres famintos caiu o bastão do Estado repressor.

Na África do Sul, nomeadamente em Joanesburgo, manifestações de milhares de trabalhadores, jovens e mulheres, lutam contra a privatização da água. Os tribunais declaram ilegais e inconstitucionais os contadores de água pré-pagos no Soweto.

Marrocos continua ocupando o Sahara Ocidental, condenando milhares ao isolamento, à fome e à sede, limitando o acesso de um povo aos mais essenciais serviços, como a Educação e a Saúde.

Por toda a África, a terra sangra e o povo luta.
África nas mãos de todos menos do seu povo.

E sempre que o povo se levanta para fazer o seu destino por mãos próprias, a repressão cai lesta. E a lavagem ideológica não tarda. Por toda a África, a terra chora e o povo combate.

Mas nós por cá... só temos acesso a notícias sobre um tal Zimbabwe. Parece que já não é terra de turismo-safari, nem de latifúndio britânico. Parece que por lá já não manda o homem branco e seus caprichos. Por isso mesmo, cá e lá se começa a desenhar uma intervenção estrangeira mais musculada. Fiquemos atentos. Curiosamente ninguém fala de intervenções democráticas na Costa do Marfim, no Senegal, em Marrocos, nos Camarões ou no Burkina Faso.

Saturday, June 21, 2008

a esquerda e o futebol

Chegado a casa, vinha com um momento linear de grande significado direito ao computador para para aqui atirar umas linhas sobre um artigo de opinião que li do Vasco Pulido Valente na última página do Público de hoje. No entanto, para variar, descobri que a resposta estava dada de forma bem mais sóbria do que eu seria capaz de fazer. E, para quê duplicar esforços e tempo precioso em respostas a essa escumalha aparelhista e parasitária? Ora aqui deixo um texto que dá bem a resposta necessária.

Wednesday, June 18, 2008

A democracia só lhes agrada quando os serve

Toda a solidariedade com os Jovens Comunistas da República Checa!

Friday, June 13, 2008

vitória do povo irlandês


Viva o povo irlandês!


Que dizer dos imprevistos deste calibre? Como reagirão os lordes europeus?
Que será do "futuro da carreira política" de José Sócrates?
O povo irlandês teve a oportunidade de se pronunciar, como mais nenhum outro desta feita. Mas o capital não vai baixar braços nem poupar-se a novas soluções. O projecto de dominação europeia é muito mais importante que qualquer forma de democracia. Muito mais importante que as palavras dos povos, que as vidas das gentes!
Mas eles que aprendam: na medida em que nos tentam amarrar, os povos encontrarão sempre formas de se libertar!

Wednesday, June 11, 2008

A situação não permite situacionismos

As correntes situacionistas, em grande parte escondidas não só nas caras tapadas dos putos anarquistas e no turismo "revolucionário" que se desloca atrás do G8 e das cimeiras dos senhores do capital mas também nos partidos políticos, são uma das mais poderosas formas de diversão e desconcentração do descontentamento e da luta.

Cada vez mais, ditos analistas, politólogos, comentadores, líderes partidários e movimentos anarquizantes, confluem nas teses superficiais do situacionismo. Alguns chamam-lhes insurreccionalismo ou activismo autónomo. Outros chamam-lhe mesmo "esquerda". Na verdade, tudo é apenas uma nova expressão da ofensiva ideológica do capitalismo. Fortemente alicerçada na ignorância de massas e no individualismo galopante, a doutrina da diversão e da ilusão, ancorada nas mais ignóbeis correntes idealistas do pensamento, vai fazendo caminho para conter a luta dos trabalhadores e dos povos.

O sistema capitalista, como bem podemos ver e sentir em Portugal, está em nova crise, daquelas cíclicas e estruturais que os marxistas sempre souberam identifcar. A crise atinge de formas diferentes as diferentes classes sociais, como seria de esperar. Ainda assim, desestrutura o funcionamento regular das sociedades dos países mais desenvolvidos e reduz significativamente a estabilidade dos processos de produção e da subsequente exploração. Ou seja, os equilíbrios são tão frágeis ou inexistentes que os próprios estados mais avançados do capital são alvo de profundas crises e agitados por autênticos terramotos económicos à mais pequena flutuação dos mercados e dos mecanismos de especulação.

E, no entanto, da mesma forma que os comunistas descodificam estes processos, o sistema capitalista conhece-os bem. Conhece-os perfeitamente, aliás. E é o próprio sistema e os seus homens-governos de mão bem colocados na política mundial que improvisa ponderadamente as medidas de mitigação de impactos e, acima de tudo, de manipulação de massas. Importa, pois, assegurar dois pontos essenciais: manter o descontentamento sem expressão revolucionária e manter a capacidade regenerativa do capitalismo, ou seja, da exploração.

Isto significa que, a cada altura, o capital estabelece as necessárias campanhas de ofensiva ideológica para satisfazer esses dois grandes desígnios fundamentais para a sua manutenção. O descontentamento atinge, particularmente em alturas de intensificação da opressão e da exploração, proporções massivas, mobilizando amplos sectores das camadas populares e dos trabalhadores. A conversão do descontentamento em consciência revolucionária é, no entanto, um processo exigente e prolongado, cujo desenvolvimento depende da existência de um conjunto de condições objectivas e subjectivas.

As bolsas de contenção do descontentamento funcionam essencialmente como bolsas de contenção do potencial revolucionário. É o próprio sistema que as acolhe e promove, desde sempre. Quer seja através dos situacionismos ou outros meios. O esquerdismo radical deixou de ter grande papel, sendo que não nos encontramos numa situação predominantemente revolucionária, mas sim resistente. Assim, importa dar outras expressões ao situacionismo. E eis que ele aparece sobre a forma de "forças de esquerda", "comícios da esquerda" e mesmo de "individualidades".

E todos esses, mais não são senão situacionistas. São os que se prestam a manter tudo como está.
Tudo para que a revolução continue fora das perspectivas dos descontentes. Só a luta de massas, em força, só o envolvimento directo dos trabalhadores, sem ícones ou chefes, sem ídolos ou guias, pode romper com o cerco do situacionismo e do capital! A luta é o caminho!

Sunday, June 08, 2008

Há sempre alguém que questiona

E mais uma vez, foi o Grupo Parlamentar do PCP - aqui!

Wednesday, June 04, 2008

às vezes...

acontece-me não saber bem qual é o blog adequado para escrever este tipo de coisas.

Amanhã nas ruas!

Só a luta dos trabalhadores pode provocar a ruptura política necessária.
Não há quem possa iludir isso. Centrar as atenções num ou outro fogacho político, com Maneis ou Xicos, é apenas uma forma de tentar esconder o papel da luta de massas.

Mas a luta dos trabalhadores é a força mais pujante de hoje e ultrapassará sempre a propaganda, o divisionismo e o oportunismo.

Dia 5, já amanhã, uma vez mais. Os Trabalhadores, essa locomotiva do progresso, estarão na rua!

Sunday, June 01, 2008

selecção no feminino?

Hoje enquanto almoçava no habitual restaurante de domingo - "a faca" - tive o azar de me calhar o televisor à frente. Ainda pensei que pudessem passar umas notícias, mas afinal calhou-me um programa doentio sobre a Selecção Nacional de Futebol. A bem da verdade, sobre aquele conjunto de pessoas que esqueceu há muito o que é Portugal e o Povo Português e que hoje apenas nele vê mais uma oportunidade de sucesso. Esqueceram-se das ruas, das miúdas, dos copos com os amigos, da pobreza. Agora gostam dos porsches, das capas das revistas, da noite alucinada e das miúdas postiças. Que eles joguem à bola, tudo bem. Que ganhem muitos jogos, melhor ainda!
Que nós julguemos o estado do país e a nossa grandeza é que já me põe os nervos em franja. É que tudo gira em torno do futebol. Distraem-nos da situação do país, da pobreza, dos custos de vida, do código do trabalho; distraem-nos de tudo o que interessa para olharmos feitos parvos durante dias inteiros para um autocarro onde viaja um grupo de pessoas que, não jogassem bem à bola e ninguém os queria ver à frente. É a telenovela nacional.

Mas o que mais me chocou foi o título da segunda parte dessa reportagem: selecção no feminino. Pensei: "vá lá, depois desta parvoeira toda, vão passar uns minutos sobre a nossa selecção nacional de futebol feminino." Pois. mas não... Qual não é o meu espanto quando a reportagem se mostra sobre as namoradas ou mulheres dos membros da selecção nacional de futebol masculino. É uma autêntica vergonha. Mostrar ou destacar o empenho das mulheres no desporto e os sucessos mesmo contra ventos e marés? não... pois claro que não. Afinal de contas a televisão serve apenas para educar as massas na doutrina da classe dominante. E diz-nos essa doutrina que a mulher fica em casa a tratar das coisas do lar e que deve ser, se possível, boazona e algo fútil, sempre apoiando o marido para o que der e vier.

E assim, ao invés de divulgar aquelas mulheres que se esforçam por ser por si próprias a diferença, vá de mandar pelos nossos olhos adentro as mulheres dos jogadores. Essas sim, bonitas, postiças, caseiras e incondicionais apoiantes do sucesso de seus maridos. Em casa, tratam dos filhos, decoram o lugar do pendura do porsche e também ficam bem nos ferraris, aparecem no estádio nos dias do jogo e servem de cartão de visita e de placard publicitário para promover a imagem dos jogadores a ver se vendem mais umas botas da nike. E assim, o futebol indústria apagou o papel do futebol desporto. Assim a esposa do jogador apagou a papel da mulher.