Sobre a premência da preparação ideológica e da urgente necessidade de alargamento da influência dos comunistas entre o proletariado escreveu Lenine, tal como aqui referi aqui.
Mas para aplicarmos o conselho de Lenine e a visão que mais tarde outros seguirão para consolidar as conquistas da Revolução de Outubro é preciso, antes de mais, avaliar o contexto, enquadrá-lo devidamente na perspectiva do materialismo dialéctico e do materialismo histórico, encontrando as respostas igualmente no escopo dessas concepções da realidade e transportando-as para a acção através dos meios e instrumentos práticos e teóricos de que dispomos.
A classe em ascensão tende a reclamar o poder. A quantidade influencia a qualidade e vice-versa - primeira lei da dialéctica. O que é isso nos nossos dias? Como interpretar e como verificar a validade das teses que produzimos e como encontrar as respostas para os desafios que nos colocamos? que se colocam, aliás, à Humanidade na sua marcha inexorável ante o tempo?
A classe em ascensão coopera com a classe que definha na sua própria exploração. A classe em ascensão luta pela libertação da exploração. Lei da interpenetração dos opostos - segunda lei da dialéctica. O que significa esta contradição e em que medida é ultrapassável? por que processos?
A classe em ascensão amplia-se com o aprofundamento do domínio da classe decadente. Lei da dupla negação - terceira lei da dialéctica. Como articular a consolidação do domínio da burguesia com o seu inevitável definhamento? Como sucede e com que regras esse definhamento? Corresponderá sempre essa decadência e regressão a um episódio momentâneo e definido na História de passagem imediata do domínio para a classe em ascensão?
São várias as questões, mantendo a discussão apenas neste patamar incipiente da avaliação das relações sociais, que se colocam para decifrar o enredo histórico que presenciamos e que presenciámos, sendo o passado tão importante quanto o presente para a definição do futuro. As realidades nacionais, culturais, a diversidade de expressões do sistema capitalista, a criatividade da classe dominante, a cooperação e intervenção do proletariado na manutenção do sistema de exploração, as condições concretas em cada local de trabalho, as condições de cada localidade, as limitações educativas, o desenvolvimento tecnológico, a divisão internacional do Trabalho, o desenvolvimento dos meios de produção, e todo um vasto conjunto de variáveis mais ou menos bem definidas confluem para uma complexidade tão funda que a única certeza que nos assegura é a de que, com os meios que temos, e com o conhecimento que temos das leis da História, não é possível prever com exactidão o futuro, nem os desenvolvimentos que resultam única e exclusivamente da acção do Homem, e que muitos menos nos será possível, com os meios que temos, prever os episódios que não dependem da acção do Homem e que, nem por isso, deixam de contribuir para o fluxo histórico.
Mas, apesar da complexidade do entretecido de relações que estudamos - as sociais - não será científica, conceptual e ideologicamente errado, aplicar as mais amplas leis do pensamento materialista à realidade, introduzindo na medida do possível, as demais variáveis históricas e naturais que não resultem directamente da aplicação de conceitos basilares, mas de seus desenvolvimentos e enriquecimentos. A aplicação simplista do modelo conceptual marxista é, por isso mesmo, errada. A marcha histórica não é linear, nem segue regras estáticas ou espasmódicas e concluir o contrário levar-nos-á ao lodo da desilusão e do abandono.
A luta de classes, os antagonismos que lhe estão na base, são permanentes e a sua intensidade varia tanto quanto variam as tensões na correlação das forças, tal como essa tensão varia com a intensidade desses antagonismos, numa relação constante que gera uma contradição que é, no entanto, o motor das transformações sociais, da História.
É o proletariado, então, a classe em ascensão?
O aprofundamento do modo de produção capitalista amplia inevitavelmente as classes laboriosas, tal como a concentração da riqueza inerente à organização capitalista implica a espoliação de cada vez mais homens e mulheres dos seus direitos, incluindo do direito a fruir dos resultados da produção. Estas considerações são verdadeiras enquanto se verificarem as limitações do capitalismo tal como o conhecemos, mas não devemos iludir-nos quanto à forma como o capitalismo e os seus quadros respondem à adversidade. A agressividade, a tecnologia, a resistência a movimentos tendenciais da História, a utilização diversa do Estado enquanto instrumento, o aprofundamento da hegemonia cultural, são factores que não desempenham papéis desprezáveis na definição das condições materiais que são o substrato para toda a luta e para os seus desfechos. No entanto, tal como conhecemos o mundo e o capital, o Trabalho é objectivamente o nicho ecológico do Homem e, por isso mesmo, incontornável força social e não passível de eliminação. Assim sendo, apesar das tentativas da burguesia de tentar limitar a ascensão material e ideológica do proletariado, a verdade é que quer numérica, quer culturalmente, este se tende a libertar da colaboração com o regime de exploração que o capitalismo lhe oferece. O trabalhador aceita, ainda que indeliberadamente e até aos seus limites materiais, um "pacto" com a burguesia porque não compreende que esse "pacto" é temporário e falso. A burguesia apenas assegura o bem-estar e o conforto necessário ao proletário na medida da ameaça que o proletariado representa para o seu domínio político, económico, social e cultural. No entanto, a natureza do capitalismo não permite que a burguesia páre de acumular e, como tal, páre de aumentar a taxa de exploração do trabalho alheio.
A relação da quantidade com a qualidade e vice-versa é uma das leis da dialéctica que mais influencia a intervenção dos comunistas, pois é para nós cada vez mais claro que a qualidade da resposta tem relação íntima com o real significado material onde se alicerça. A quantidade, a dimensão de massas da actuação humana, determina com grande peso a qualidade da actuação e o mesmo se diz inversamente. Daí que a mesma prática pode ser justa e acertada num determinado contexto e com um determinado enraizamento nas massas, e ser desajustada e errada noutras condições.
O desalento, o desencanto, a desesperança, a ilusão e a desilusão, são apenas manifestações de uma mesma concepção de colaboração de classe que ainda infecta o proletariado. Ou seja, o proletariado não se desalente por não crer possível tomar e organizar o poder; mas sim por não querer tomá-lo, por não saber que pode, ou por não julgar ser este o momento oportuno.
Neste contexto, tendo presentes as considerações que enchem estas linhas que escrevo apenas para não afirmar nada sem deixar claro o raciocínio que faço até enformar uma conclusão, a tarefa concreta que se coloca aos comunistas e progressistas é, além das concretas medidas do dia-a-dia, da organização, da difusão da mensagem, da intensificação da luta, do reforço do Partido e do movimento sindical e de massas, além do alargamento da influência dos comunistas e do aprofundamento da consciência de classe, alertar para os riscos da complacência do proletariado, fazê-lo - não crer que é possível - mas querer fazer. Não alimentando a ilusão de que a passagem do poder da burguesia para a classe em ascensão se realiza num dia, sem pretender identificar o momento em que essa passagem se realiza, sem preconceitos sobre as formas como essa passagem se dá ou dará, sem quebrar a confiança das massas e do proletariado na vanguarda que se propõe liderar essa passagem de poder e dirigir o proletariado, sendo dele indissociável. O fio da navalha é tão estreito que é quase impossível defini-lo, mas o factor que contribui determinantemente para o conhecermos minimamente é o que brota da primeira lei da dialéctica - qualidade e quantidade - e que, em qualquer contexto, nos demonstra também que sem a participação das massas, sem o compromisso e a acção transformadora (e conservadora) das massas, não há passagem do poder nem revolução socialista ou qualquer outra.
Thursday, January 24, 2013
Thursday, January 10, 2013
Quem terá dito isto?
Não sei por que motivo, o meu outro post sobre isto, foi apagado da exibição online, aqui repito:
No seu primeiro discurso no Parlamento Italiano, em Junho de 1921, afirmou: “O Estado tem de ter uma política policial, judiciária, militar e estrangeira. Todas as restantes políticas, e não excluo sequer o ensino secundário, devem voltar para a actividade privada dos indivíduos. Se queremos salvar o Estado, temos de abolir o Estado colectivista.”
tradução minha de Mussolini, “Il Primo Discorso alla Camera”, 21 June 1921. Mussolini (1934a, p. 187)
No seu primeiro discurso no Parlamento Italiano, em Junho de 1921, afirmou: “O Estado tem de ter uma política policial, judiciária, militar e estrangeira. Todas as restantes políticas, e não excluo sequer o ensino secundário, devem voltar para a actividade privada dos indivíduos. Se queremos salvar o Estado, temos de abolir o Estado colectivista.”
tradução minha de Mussolini, “Il Primo Discorso alla Camera”, 21 June 1921. Mussolini (1934a, p. 187)
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