Thursday, January 24, 2013

Proletariado, a classe em ascensão II

Sobre a premência da preparação ideológica e da urgente necessidade de alargamento da influência dos comunistas entre o proletariado escreveu Lenine, tal como aqui referi aqui.

Mas para aplicarmos o conselho de Lenine e a visão que mais tarde outros seguirão para consolidar as conquistas da Revolução de Outubro é preciso, antes de mais, avaliar o contexto, enquadrá-lo devidamente na perspectiva do materialismo dialéctico e do materialismo histórico, encontrando as respostas igualmente no escopo dessas concepções da realidade e transportando-as para a acção através dos meios e instrumentos práticos e teóricos de que dispomos.

A classe em ascensão tende a reclamar o poder. A quantidade influencia a qualidade e vice-versa - primeira lei da dialéctica. O que é isso nos nossos dias? Como interpretar e como verificar a validade das teses que produzimos e como encontrar as respostas para os desafios que nos colocamos? que se colocam, aliás, à Humanidade na sua marcha inexorável ante o tempo?

A classe em ascensão coopera com a classe que definha na sua própria exploração. A classe em ascensão luta pela libertação da exploração. Lei da interpenetração dos opostos - segunda lei da dialéctica. O que significa esta contradição e em que medida é ultrapassável? por que processos?

A classe em ascensão amplia-se com o aprofundamento do domínio da classe decadente. Lei da dupla negação - terceira lei da dialéctica. Como articular a consolidação do domínio da burguesia com o seu inevitável definhamento? Como sucede e com que regras esse definhamento? Corresponderá sempre essa decadência e regressão a um episódio momentâneo e definido na História de passagem imediata do domínio para a classe em ascensão?

São várias as questões, mantendo a discussão apenas neste patamar incipiente da avaliação das relações sociais, que se colocam para decifrar o enredo histórico que presenciamos e que presenciámos, sendo o passado tão importante quanto o presente para a definição do futuro. As realidades nacionais, culturais, a diversidade de expressões do sistema capitalista, a criatividade da classe dominante, a cooperação e intervenção do proletariado na manutenção do sistema de exploração, as condições concretas em cada local de trabalho, as condições de cada localidade, as limitações educativas, o desenvolvimento tecnológico, a divisão internacional do Trabalho, o desenvolvimento dos meios de produção, e todo um vasto conjunto de variáveis mais ou menos bem definidas confluem para uma complexidade tão funda que a única certeza que nos assegura é a de que, com os meios que temos, e com o conhecimento que temos das leis da História, não é possível prever com exactidão o futuro, nem os desenvolvimentos que resultam única e exclusivamente da acção do Homem, e que muitos menos nos será possível, com os meios que temos, prever os episódios que não dependem da acção do Homem e que, nem por isso, deixam de contribuir para o fluxo histórico.

Mas, apesar da complexidade do entretecido de relações que estudamos - as sociais - não será científica, conceptual e ideologicamente errado, aplicar as mais amplas leis do pensamento materialista à realidade, introduzindo na medida do possível, as demais variáveis históricas e naturais que não resultem directamente da aplicação de conceitos basilares, mas de seus desenvolvimentos e enriquecimentos. A aplicação simplista do modelo conceptual marxista é, por isso mesmo, errada. A marcha histórica não é linear, nem segue regras estáticas ou espasmódicas e concluir o contrário levar-nos-á ao lodo da desilusão e do abandono.

A luta de classes, os antagonismos que lhe estão na base, são permanentes e a sua intensidade varia tanto quanto variam as tensões na correlação das forças, tal como essa tensão varia com a intensidade desses antagonismos, numa relação constante que gera uma contradição que é, no entanto, o motor das transformações sociais, da História.

É o proletariado, então, a classe em ascensão?
O aprofundamento do modo de produção capitalista amplia inevitavelmente as classes laboriosas, tal como a concentração da riqueza inerente à organização capitalista implica a espoliação de cada vez mais homens e mulheres dos seus direitos, incluindo do direito a fruir dos resultados da produção. Estas considerações são verdadeiras enquanto se verificarem as limitações do capitalismo tal como o conhecemos, mas não devemos iludir-nos quanto à forma como o capitalismo e os seus quadros respondem à adversidade. A agressividade, a tecnologia, a resistência a movimentos tendenciais da História, a utilização diversa do Estado enquanto instrumento, o aprofundamento da hegemonia cultural, são factores que não desempenham papéis desprezáveis na definição das condições materiais que são o substrato para toda a luta e para os seus desfechos. No entanto, tal como conhecemos o mundo e o capital, o Trabalho é objectivamente o nicho ecológico do Homem e, por isso mesmo, incontornável força social e não passível de eliminação. Assim sendo, apesar das tentativas da burguesia de tentar limitar a ascensão material e ideológica do proletariado, a verdade é que quer numérica, quer culturalmente, este se tende a libertar da colaboração com o regime de exploração que o capitalismo lhe oferece. O trabalhador aceita, ainda que indeliberadamente e até aos seus limites materiais, um "pacto" com a burguesia porque não compreende que esse "pacto" é temporário e falso. A burguesia apenas assegura o bem-estar e o conforto necessário ao proletário na medida da ameaça que o proletariado representa para o seu domínio político, económico, social e cultural. No entanto, a natureza do capitalismo não permite que a burguesia páre de acumular e, como tal, páre de aumentar a taxa de exploração do trabalho alheio.

A relação da quantidade com a qualidade e vice-versa é uma das leis da dialéctica que mais influencia a intervenção dos comunistas, pois é para nós cada vez mais claro que a qualidade da resposta tem relação íntima com o real significado material onde se alicerça. A quantidade, a dimensão de massas da actuação humana, determina com grande peso a qualidade da actuação e o mesmo se diz inversamente. Daí que a mesma prática pode ser justa e acertada num determinado contexto e com um determinado enraizamento nas massas, e ser desajustada e errada noutras condições.

O desalento, o desencanto, a desesperança, a ilusão e a desilusão, são apenas manifestações de uma mesma concepção de colaboração de classe que ainda infecta o proletariado. Ou seja, o proletariado não se desalente por não crer possível tomar e organizar o poder; mas sim por não querer tomá-lo, por não saber que pode, ou por não julgar ser este o momento oportuno.

Neste contexto, tendo presentes as considerações que enchem estas linhas que escrevo apenas para não afirmar nada sem deixar claro o raciocínio que faço até enformar uma conclusão, a tarefa concreta que se coloca aos comunistas e progressistas é, além das concretas medidas do dia-a-dia, da organização, da difusão da mensagem, da intensificação da luta, do reforço do Partido e do movimento sindical e de massas, além do alargamento da influência dos comunistas e do aprofundamento da consciência de classe, alertar para os riscos da complacência do proletariado, fazê-lo - não crer que é possível - mas querer fazer. Não alimentando a ilusão de que a passagem do poder da burguesia para a classe em ascensão se realiza num dia, sem pretender identificar o momento em que essa passagem se realiza, sem preconceitos sobre as formas como essa passagem se dá ou dará, sem quebrar a confiança das massas e do proletariado na vanguarda que se propõe liderar essa passagem de poder e dirigir o proletariado, sendo dele indissociável. O fio da navalha é tão estreito que é quase impossível defini-lo, mas o factor que contribui determinantemente para o conhecermos minimamente é o que brota da primeira lei da dialéctica - qualidade e quantidade - e que, em qualquer contexto, nos demonstra também que sem a participação das massas, sem o compromisso e a acção transformadora (e conservadora) das massas, não há passagem do poder nem revolução socialista ou qualquer outra.

Thursday, January 10, 2013

Quem terá dito isto?

Não sei por que motivo, o meu outro post sobre isto, foi apagado da exibição online, aqui repito:

No seu primeiro discurso no Parlamento Italiano, em Junho de 1921, afirmou: “O Estado tem de ter uma política policial, judiciária, militar e estrangeira. Todas as restantes políticas, e não excluo sequer o ensino secundário, devem voltar para a actividade privada dos indivíduos. Se queremos salvar o Estado, temos de abolir o Estado colectivista.”


tradução minha de Mussolini, “Il Primo Discorso alla Camera”, 21 June 1921. Mussolini (1934a, p. 187)