“Uma lagarta segue o seu caminho através do seu ecossistema, deixando um rasto de destruição comendo tanto quanto algumas centenas de vezes o seu próprio peso num só dia, até que fica demasiado cheia para continuar e acaba por se pendurar, com a sua pele a endurecer até tomar a forma de crisálida.
Dentro da crisálida, bem no interior do corpo da lagarta, pequenas coisas, a que os biólogos chamam “discos imaginais” começam a formar-se. Não reconhecendo os recém-chegados, o sistema imunitário da lagarta mata cada disco imaginal assim que se forma. Mas esses discos continuam a surgir com uma rapidez crescente e procuram ligar-se uns aos outros.
Eventualmente, o sistema imunitário da lagarta falha sob stress e os discos tornam-se células imaginais que acabam por se constituir alimentando-se da lagarta que se desfaz.
Demorou muito tempo para que os biólogos compreendessem a razão pela qual o sistema imunitário das lagartas atacava as incipientes células de mariposa, mas vieram a descobrir que a mariposa tem o seu próprio genoma, que é transportado pela lagarta, herdado de geração em geração ao longo do processo evolutivo, mas não é parte da própria (Margulis & Sagan, Acquiring Genomes 2002).
Se nos virmos como discos imaginais trabalhando para construir a mariposa que é um mundo melhor, compreenderemos que estamos a lançar um novo “genoma” de valores e práticas para substituir o presente sistema insustentável. Mas também veremos o quão importante é que nos liguemos uns aos outros para sabermos ao certo quantos tipos de células imaginais serão necessárias para construir uma mariposa com todas as suas capacidades e cores.”
Elisabet Sahtouris, Ph. D. Bióloga Evolucionista
Tradução minha.
Nota: Engels escrevia coisas muito semelhantes em "A dialéctica da Natureza", sabendo ainda praticamente nada do que hoje se chama genética, para ilustrar a lei da dupla negação.