Tuesday, June 14, 2005

O primeiro dia do fim da lucidez

Pois, devemos mesmo ter perdido a paciência para arriscar escarrapachar os nossos pensamentos revoltosos e, por vezes, tumultuosos, numa página da net que provavelmente ninguém visitará. Mas, o presente começa a dar-nos de tal forma a volta à barriga que aqui estamos, nem que seja para um visitante perdido poder ler outra versão - uncensored - das interpretações mainstream dos acontecimentos que nos rodeiam.
Eu nem acredito muito nesta cena dos blogs e, para ser sincero, até os considero, em geral, uma perda de tempo. Mas, realmente, começo a compreender aqueles que, não vendo reflexo do seu pensamento na esmagadora corrente do mercado, e aqueles cujas opiniões não têm outro espaço senão o alcance do seu próprio grito. Começo a compreender, ainda que pelos piores motivos.
Impele-me a escrever, lamentavelmente, a revolta que pulsa já dentro de mim contra a mentira, contra a ridicularidade.
Tudo merece ser questionado, mas nada é.
Tudo, independentemente donde venha, merece aprofundamento e seriedade, mas nada os tem.
Mastigam-nos tudo na Tv - está tudo pronto a engolir.
Os jornais mostram-nos as verdades absolutas avalizadas por analistas acima de qualquer suspeita que são pagos para pensar por nós.
E nunca nos questionamos... "Quem é o otário?"
Pensamos antes: "é o Sr. Professor... sabe muito este Senhor." Mas sabe de quê? Sabe o que é trabalhar horas e horas a fio a receber um salário de merda para por a comida na mesa? Sabe o que é ter um patrão a pressionar para trabalhar mais depressa? Sabe o que temer o fim do contrato a prazo?
Sabem esses encartados da TV e dos Jornais o que é a vida para além da sua verborreia diária?
Mas donde vêm, quem são? Tiraram o doutoramento em "Tudo"??? Sim... porque isto de falar com todas as certezas sobre o campeonato e logo a seguir enfiar uma bucha sobre Clonagem e ainda ter tempo para avaliar a política nacional, não é coisa fácil e não é, certamente, para qualquer um.
Já só não vê quem não quer, ouvimos às vezes... Esquecemos os que não vêem porque não podem. E esses, com pena minha, raras oportunidades terão de visitar este e os outros blogs.
Este é o primeiro dia do fim da lucidez. Arrisco a perdê-la uns minutos por dia para despejar aqui o chorrilho de revoltas que mais me afecte. Perco-a porque não é muito lúcido escrever para um ecrã, empenhar minutos que somados resultarão em dias, para sabe-se lá quem vir ler. Não é muito lúcido...

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