Tuesday, August 23, 2005

Guerras santas, jihads, crusadas e óleo de pedra

Em alguns sítios do nosso enorme globo a guerra continua.
Um pouco por todos os continentes continuam a desenvolver-se conflitos armados. A TV, os jornais, já pouco falam deles. Os interesses estão servidos, os apetites satisfeitos. Foi cumprida a missão da Comunicação Social.

E que missão! Enquanto é necessário justificar uma intervenção militar lá estão os milhares de câmaras, o embrenhado de doutores e sábios analistas a criar um pano de fundo de tal forma incompreensível que a única mensagem que passa é que existem os "bons" e os "maus". E fica logo ali decidido quem é quem. A TV, as rádios, os jornais fazem-nos o magnífico favor de tratar a informação por nós, de pensar por nós, de julgar por nós. Regra geral, a potência imperialista é o bom, o país faminto é o mau. Nem me lembro de muitas excepções a esta regra.

Das dezenas de intervenções militares que os Estados Unidos levaram a cabo nas últimas décadas, do Vietnam ao Iraque, passando pela Somália, Coreias, Guatemala, Costa Rica, União Soviética, Nicarágua, Chile, China, Panamá, Líbia, Suriname, e muitos outros, quem teve sempre razão na TV? Que heróis saíam vitoriosos, merecendo filmes de hollywood sobre míticas intervenções no Afeganistão? Que heróis foram feitos então? Aqueles e, exclusivamente aqueles, que se colocavam do lado da barricada dos Estados Unidos.

Vimos os Mujaheeden serem feitos autênticos salvadores do povo afegão, os taliban serem produzidos como uma frente guerreira por princípios puros contra a "invasão" soviética.

A guerra é levada pelos ventos orientados do capital imperialista. A atenção mediática que lhe é dispensada é efémera. As guerras continuam, as mortes sucedem-se, os insucessos perpetuam-se, as assimetrias agravam-se, os problemas persistem. A TV esquece.

A úlitmas incursão norte-americana no Iraque (que, aliás, continua intensa) teve a atenção que foi considerada incontornável para ser justificada ao mundo. Após cumprido esse supremo desígnio da Comunicação Social Dominante... Desapareceu. Esquecemo-nos de que continuam a lutar heroicamente milhões de iraquianos contra o invasor poderoso. Esquecemo-nos que lá vão morrendo.

Como pano de fundo dissimulado, apresentaram-nos choques religiosos. Explicam-se fenómenos sociais e políticos com recurso à religião e ao fanatismo. Querem que acreditemos que existe uma demência colectiva. Um demência endémica do médio-oriente. Os líderes políticos que fazem frente aos EUA são sistematicamente apresentados como fanáticos, loucos, obssessivos, ditadores.

No nosso sub-consciente as guerras modernas têm um fundo religioso. Em história ensinam-nos que as guerras do passado foram essencialmente religiosas. Escondem-nos a toda a hora que a religião nunca foi a razão. A religião foi, como hoje, a desculpa.

O verdadeiro interesse de toda e qualquer guerra é económico, geopolítico. A religião sempre deu uma óptima camuflagem, sempre serviu até de incentivo às tropas.

Hoje, os mensageiros dos deuses cumprem o seu papel. Colocam-se politicamente ao serviço dos interesses mais próximos. Bush invoca constantemente o cristianismo. Outros invocam Allah. Tudo dá no mesmo.

A religião nunca foi a razão. Hoje, deus deve estar triste.
Os homens estão submetidos à barbaridade do imperialismo violento. A civilização nunca existiu.
Não existe olhar horizontal. O Sul está submetido ao Norte. O Norte está submetido a si próprio. Colapsou sob o eixo do capitalismo.

As expressões criadas em torno da guerra. As verdades televisivas escondem a realidade.
Pena que a realidade seja tão cruel que muitos, ainda sabendo, deixam-se ficar pela TV.

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