se a pergunta fosse:
"concorda com a instrumentalização da lei para servir dogmas éticos ou religiosos?"
que responderias?
a questão é que o nosso estado é laico, independentemente da confissão religiosa da maioria. ou seja, é um estado de leis do Homem e não de Deus. independentemente das concepções éticas da maioria, independentemente de quais essas concepções, a lei em portugal baseia-se nos princípios da laicicidade, nos princípios da liberdade e da igualdade.
Perante a pergunta do referendo que nos oferecem, aqueles que respondem não são a face mais pura da hipocrisia, da intolerância e do machismo entranhado na ausência de sinapses próprias.
Mas há outra componente nos movimento do "Não" - a componente manipuladora.
Componente que assenta a sua acção na ignorância, que direcciona o seu discurso a uma camada da população que não tem acesso à informação, que julga superficialmente e de forma pouco informada. Essa componente do movimento do "Não" é a cabeça de um movimento que, paradoxalmente, toma posições acéfalas.
A igreja, instrumento poderoso da classe dominante, e os sectores mais retrógrados de uma burguesia decadente que ainda quer impôr a subrevivência dos seus métodos de exploração exacerbada, sendo que são hoje representados pela exploração desmedida da mão de obra, sustentados pela existência permanente de um exército de recurso para a exploração capitalista. É esta burguesia, decadente mas influente na burguesia enquanto um todo, que ainda exerce este poder. Poder que chegou para o PS convocar o referendo ao invés de resolver a questão na Assembleia da Républica. Poder que é ainda suficiente para fazer do PS um instrumento político ao serviço do "Não", invocando os argumentos mais falaciosos e frágeis, anunciando custos infundados para o Estado após a despenalização, escondendo a realidade actual, altamente dividido nas suas capelas bolorentas, onde abundam as aves raras que ainda se afirmam publicamente pelo "Não".
Este Blog está pelo Sim, e daqui acusa os hipócritas do "Não" de serem carrascos das mulheres, de serem desumanos e falsos. Quem está pelo "não" não está pela vida, está é pela rejeição da mulher enquanto ser capaz de decidir sobre si própria. Assassinos.
Tuesday, January 30, 2007
Wednesday, January 17, 2007
Tuesday, January 09, 2007
Apocalypto
Entre mim e a habitual crítica de cinema desenha-se um fosso irrevogável. De facto, tenho apanhado as maiores desilusões quando rumo confiante a uma sala de cinema para ver um filme apadrinhado pela crítica e de lá volto incrédulo com tamanho desastre cinematográfico. Ora são argumentos intragáveis, ora são filmes recauchutados, ora são efeitos especiais que fazem suporte a elencos miseráveis e por aí fora.
O cinema de entretenimento puro e simples tem todo o sentido e agradeço o facto de existir alguém que ainda o faça. Da comédia aos thrillers ou mesmo aos filmes de acção desenfreada lá vão saindo bons momentos de descontracção. Pena que, na generalidade, não seja assim.
Chegou às nossas salas de cinema um filme que recebeu as piores considerações dos críticos de cinema da praça. Apocalypto, de Mel gibson. Um filme soberbo. Um filme desfeito pela crítica acéfala.
Aconselho vivamente o filme de Mel Gibson. Embora não conheça o senhor, reconheço-lhe uma aguçada vontade e o um olhar diferente dos dominantes. Apocalypto passa-se no período decadente do império Maya (a que se costuma chamar civilização) e tem, por entre diversas cenas de violência aparentemente gratuita, a virtude de denunciar o que são os pilares dos impérios.
Gibson transporta-nos, apoiado num elenco fenomenal e numa reconstrução histórica e ambiental notável, com excelente cenografia, guarda-roupa e maquilhagem, para um mundo perdido, onde os nossos sentimentos são recorrentemente sobressaltados. Claro está que para os devoradores-de-pipocas que povoam as salas de cinema que por aí se espalham, este filme é mais um documentário enfadonho do que propriamente um filme. De facto, como outros, não se encaixa no estereótipo de filme de entretenimento e, atrevo-me a dizer que não é esse o seu objectivo.
A violência que muitos reputam de gratuita é um dos pilares de um filme que nos quer envolver, que nos quer mexer com os instintos e com os sentimentos. O filme, com sequências geniais e com um realismo extremo, mostra-nos a hierarquização inevitável dos impérios e as relações entre os seres humanos, criadas pela organização imperial de uma sociedade.
Uma aristocracia moralmente decadente, um clero balofo de apoio ao sistema de poder, o trabalho escrevo e a superioridade racial são bem mostrados como instrumentos ao serviço de um império onde o lucro e a acumulação de riqueza já eram o objectivo. A concentração em grandes cidades a um ritmo desfasado da capacidade de dar respostas no plano do ordenamento, da higiene e da segurança, encaminha uma povoação inteira para a doença e o definhamento, sustentando apenas uma pequena classe aristocrata com a ajuda de um clero que detinha o conhecimento científico em regime de exclusividade.
É um filme perturbante. É uma experiência recomendável. Desfazermo-nos da expectativa e usufruir da imagem e do som que este filme nos traz, não tanto enquanto um conto importante, mas enquanto estória e história pode surpreender muitos. É um pouco como um quadro… ninguém pede a um quadro que tenha um bom enredo, que conte uma estória bela… este filme é um quadro de duas horas e alguns minutos que retrata bem uma paisagem social, especulativa ou não.
O cinema de entretenimento puro e simples tem todo o sentido e agradeço o facto de existir alguém que ainda o faça. Da comédia aos thrillers ou mesmo aos filmes de acção desenfreada lá vão saindo bons momentos de descontracção. Pena que, na generalidade, não seja assim.
Chegou às nossas salas de cinema um filme que recebeu as piores considerações dos críticos de cinema da praça. Apocalypto, de Mel gibson. Um filme soberbo. Um filme desfeito pela crítica acéfala.
Aconselho vivamente o filme de Mel Gibson. Embora não conheça o senhor, reconheço-lhe uma aguçada vontade e o um olhar diferente dos dominantes. Apocalypto passa-se no período decadente do império Maya (a que se costuma chamar civilização) e tem, por entre diversas cenas de violência aparentemente gratuita, a virtude de denunciar o que são os pilares dos impérios.
Gibson transporta-nos, apoiado num elenco fenomenal e numa reconstrução histórica e ambiental notável, com excelente cenografia, guarda-roupa e maquilhagem, para um mundo perdido, onde os nossos sentimentos são recorrentemente sobressaltados. Claro está que para os devoradores-de-pipocas que povoam as salas de cinema que por aí se espalham, este filme é mais um documentário enfadonho do que propriamente um filme. De facto, como outros, não se encaixa no estereótipo de filme de entretenimento e, atrevo-me a dizer que não é esse o seu objectivo.
A violência que muitos reputam de gratuita é um dos pilares de um filme que nos quer envolver, que nos quer mexer com os instintos e com os sentimentos. O filme, com sequências geniais e com um realismo extremo, mostra-nos a hierarquização inevitável dos impérios e as relações entre os seres humanos, criadas pela organização imperial de uma sociedade.
Uma aristocracia moralmente decadente, um clero balofo de apoio ao sistema de poder, o trabalho escrevo e a superioridade racial são bem mostrados como instrumentos ao serviço de um império onde o lucro e a acumulação de riqueza já eram o objectivo. A concentração em grandes cidades a um ritmo desfasado da capacidade de dar respostas no plano do ordenamento, da higiene e da segurança, encaminha uma povoação inteira para a doença e o definhamento, sustentando apenas uma pequena classe aristocrata com a ajuda de um clero que detinha o conhecimento científico em regime de exclusividade.
É um filme perturbante. É uma experiência recomendável. Desfazermo-nos da expectativa e usufruir da imagem e do som que este filme nos traz, não tanto enquanto um conto importante, mas enquanto estória e história pode surpreender muitos. É um pouco como um quadro… ninguém pede a um quadro que tenha um bom enredo, que conte uma estória bela… este filme é um quadro de duas horas e alguns minutos que retrata bem uma paisagem social, especulativa ou não.
Praga itinerante
“e têm o desplante de nos oferecer um bónus se acabarmos as cablagens a tempo” Sérgio Cruz, 29 anos, operário fabril na Yazaki Saltano de Ovar.
A yazaki saltano, com o amparo do nosso governo, vem ameaçando o despedimento e o encerramento das suas unidades em Portugal há muito tempo e tem vindo mesmo a concretizar uma redução no número de trabalhadores, empurrando para o desemprego centenas e centenas de operários e operárias. As componentes do capitalismo, as grandes empresas e multinacionais são como uma praga de gafanhotos: desloca-se de colheita em colheita, devastando uma a uma. Estas empresas vagueiam em busca das melhores colheitas e Portugal enquadra-se bem para um bom banquete destas entidades parasitas. Claro que, no quadro da sociedade em que vivemos, as empresas buscam as condições para a obtenção de maior lucro possível e cabe aos trabalhadores estabelecerem as condições em que prestam o seu trabalho.
O que acontece, contudo, em Portugal é que estes gafanhotos são convidados pelo espantalho. Se os trabalhadores fossem as espigas, os gafanhotos seriam a yazaki saltano, o espantalho seria o Governo. Ora, o nosso espantalho decidiu trabalhar para a praga em vez de defender a colheita.
E… no fim de um processo que se anunciava, os trabalhadores choram o seu trabalho que se vai perdendo. Pelo meio, uns senhores na televisão dizem-lhes que não são competitivos porque não gostam é de trabalhar.
Lamento o facto de hoje se fecharem portas perante olhares cabisbaixos, ao invés de enfrentarem punhos erguidos e olhos de esperança. Lamento que, naqueles dias, em que nos deslocámos aos portões da empresa, apelando à luta, muitos não tenham sequer ouvido o que lhes tínhamos para lhe dizer… todavia, quando o povo acorda nunca é tarde!
A yazaki saltano, com o amparo do nosso governo, vem ameaçando o despedimento e o encerramento das suas unidades em Portugal há muito tempo e tem vindo mesmo a concretizar uma redução no número de trabalhadores, empurrando para o desemprego centenas e centenas de operários e operárias. As componentes do capitalismo, as grandes empresas e multinacionais são como uma praga de gafanhotos: desloca-se de colheita em colheita, devastando uma a uma. Estas empresas vagueiam em busca das melhores colheitas e Portugal enquadra-se bem para um bom banquete destas entidades parasitas. Claro que, no quadro da sociedade em que vivemos, as empresas buscam as condições para a obtenção de maior lucro possível e cabe aos trabalhadores estabelecerem as condições em que prestam o seu trabalho.
O que acontece, contudo, em Portugal é que estes gafanhotos são convidados pelo espantalho. Se os trabalhadores fossem as espigas, os gafanhotos seriam a yazaki saltano, o espantalho seria o Governo. Ora, o nosso espantalho decidiu trabalhar para a praga em vez de defender a colheita.
E… no fim de um processo que se anunciava, os trabalhadores choram o seu trabalho que se vai perdendo. Pelo meio, uns senhores na televisão dizem-lhes que não são competitivos porque não gostam é de trabalhar.
Lamento o facto de hoje se fecharem portas perante olhares cabisbaixos, ao invés de enfrentarem punhos erguidos e olhos de esperança. Lamento que, naqueles dias, em que nos deslocámos aos portões da empresa, apelando à luta, muitos não tenham sequer ouvido o que lhes tínhamos para lhe dizer… todavia, quando o povo acorda nunca é tarde!
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