Ilustração: Renata Candeias
politólogo - é o estudioso em "ciência política", de acordo com o léxico moderno do capitalismo. Em boa verdade, a própria ideia de que é possível leccionar ou formar um curso superior asséptico em torno da "ciência política", mereceria um amplo debate.
Porém, como nós tótós não pretendemos ir muito além do elementar, vamos ficar-nos pela desencriptação do termo "politólogo". Ora, o termo "politologia" deriva da justaposição de "logia" - estudo a "política", assim conduzindo a um termo composto que designa o "estudo da política", ou deveria designar. Mas vejamos o papel dos politólogos de hoje em dia, desses que se pavoneiam pelas tvs para, com a chancela de "estudioso", transmitir ao fim e ao cabo, exactamente a mesma mensagem que nos passam os partidos e os grupos capitalistas.
Ou seja, confundir Ciência Política com doutrina capitalista e ideologia burguesa é um exercício de ilusão de massas. Na prática, o resultado é claro: transmite-se a mensagem da burguesia como se de um "ciência" se tratasse. Como se tudo que não se circunscrevesse a essa ideologia fosse efabulação ou sonho, delírio colectivo de quem teima em não aceitar os avanços da "ciência". A "ciência política", agora convertida em "politologia" é afinal de contas o novo termo para "ideologia capitalista". Como tal, o politólogo não é mais do que o "ideólogo do regime", sendo que a maior parte dos titulares de tão pomposo título não passam de câmaras de ressonância dos "ideológos do regime", tal a subserviência que mostram à fonte jorrante da doutrina da exploração.
Wednesday, March 21, 2012
Monday, March 19, 2012
Capitalismo para totós XXII - Comentador político
Comentador político - indivíduo formado em qualquer área do saber que esteja disponível para deixar pensar ou para ecoar a mensagem política dos grandes interesses. Na prática, um porta-voz das mensagens do grande patronato que usa o tempo de antena de televisões, jornais e rádios, para reproduzir à exaustão o pensamento da classe dominante escondido sob uma capa de "imparcialidade", e "cientificidade".
Um comentador político, seja economista, advogado ou futebolista, é no fundamental, um papagaio. Não lhe cabe decifrar os fenómenos, mas apenas criar as condições para que os outros nunca os venham a entender. Curiosamente, pese o seu "apartidarismo", todos têm o mesmo discurso. Todos explicam tudo da mesma maneira, todos partem dos mesmos dogmas, cristalizam em torno das mesmas ideias. E todos, ou quase todos, são afinal de contas, não comentadores ou analistas, mas sim agentes partidários do capitalismo.
Um comentador político, seja economista, advogado ou futebolista, é no fundamental, um papagaio. Não lhe cabe decifrar os fenómenos, mas apenas criar as condições para que os outros nunca os venham a entender. Curiosamente, pese o seu "apartidarismo", todos têm o mesmo discurso. Todos explicam tudo da mesma maneira, todos partem dos mesmos dogmas, cristalizam em torno das mesmas ideias. E todos, ou quase todos, são afinal de contas, não comentadores ou analistas, mas sim agentes partidários do capitalismo.
Capitalismo para totós XXI - solidariedade intergeracional
Solidariedade intergeracional - é um conceito que pertence à mesma categoria de "desenvolvimento sustentável" e aliás, corresponde-lhe quase exactamente. Tal como se estabelece no Relatório Brundtland sobre "desenvolvimento sustentável", esse conceito corresponde à capacidade de satisfação das necessidades das gerações actuais, sem comprometer a satisfação das futuras.
A manipulação de conceitos vai sendo cada vez mais profunda e de um conceito conservador como o do "desenvolvimento sustentável" - essencialmente por ignorar a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento capitalista e por gerar a ilusão de que pode o capitalismo auto-conter-se para se tornar sustentável - passa-se agora para o de "solidariedade intergeracional" que leva ainda mais longe a instrumentalização da linguagem e dos conceitos pela classe dominante.
Ou seja, se com o termo "desenvolvimento sustentável" se branqueava a impossibilidade de ser sustentável o capitalismo, com o termo "solidariedade intergeracional" extingue-se mesmo o conceito de "desenvolvimento" e permanece apenas o de "sustentabilidade".
No essencial, "solidariedade intergeracional" é uma distorção do conceito fundamental capitalista de "exploração", atribuindo às actuais gerações o dever de contenção em benefício das futuras. Assim, eliminado o objectivo de desenvolvimento, ficando o de sustentabilidade, podemos mesmo aceitar que a "solidariedade intergeracional" signifique regressão civilizacional, como se vem aliás verificando. A contenção é obviamente o efeito da exploração. Assim, diz-se aos actuais trabalhadores que têm de aceitar a exploração crescente para não comprometer as gerações futuras. Uma espécie de paraíso futuro na terra à custa do suplício dos actuais trabalhadores.
Claro está que, tal como vem sucedendo até aqui, a exploração capitalista é crescente. O que significa que, quanto maior for neste momento, maior será nas gerações futuras.
A manipulação de conceitos vai sendo cada vez mais profunda e de um conceito conservador como o do "desenvolvimento sustentável" - essencialmente por ignorar a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento capitalista e por gerar a ilusão de que pode o capitalismo auto-conter-se para se tornar sustentável - passa-se agora para o de "solidariedade intergeracional" que leva ainda mais longe a instrumentalização da linguagem e dos conceitos pela classe dominante.
Ou seja, se com o termo "desenvolvimento sustentável" se branqueava a impossibilidade de ser sustentável o capitalismo, com o termo "solidariedade intergeracional" extingue-se mesmo o conceito de "desenvolvimento" e permanece apenas o de "sustentabilidade".
No essencial, "solidariedade intergeracional" é uma distorção do conceito fundamental capitalista de "exploração", atribuindo às actuais gerações o dever de contenção em benefício das futuras. Assim, eliminado o objectivo de desenvolvimento, ficando o de sustentabilidade, podemos mesmo aceitar que a "solidariedade intergeracional" signifique regressão civilizacional, como se vem aliás verificando. A contenção é obviamente o efeito da exploração. Assim, diz-se aos actuais trabalhadores que têm de aceitar a exploração crescente para não comprometer as gerações futuras. Uma espécie de paraíso futuro na terra à custa do suplício dos actuais trabalhadores.
Claro está que, tal como vem sucedendo até aqui, a exploração capitalista é crescente. O que significa que, quanto maior for neste momento, maior será nas gerações futuras.
Thursday, March 15, 2012
Capitalismo para Totós XX - Sociedade Civil
"Sociedade Civil" - talvez por oposição a "sociedade militar"(?!)
É um conceito utilizado no mundo do "politicamente correcto" para não referir as forças vivas de uma sociedade, principalmente as forças sociais. Ou seja, com "sociedade civil" esconde-se o Povo e os trabalhadores e, de certa forma, faz-se subliminar referência a movimentos e ONG's, excluindo Estados e Partidos.
A conversa da "sociedade civil" nasce da mesma fonte que tende a anatemizar os Partidos e a promover conceitos difusos, onde se inserem forças sociais antagónicas entre si. Por exemplo, quando referem "sociedade civil", na verdade, querem referir não apenas a população e suas associações, mas também as corporações e empresas como se de entidades verdadeiramente colectivas se tratassem.
É um conceito utilizado no mundo do "politicamente correcto" para não referir as forças vivas de uma sociedade, principalmente as forças sociais. Ou seja, com "sociedade civil" esconde-se o Povo e os trabalhadores e, de certa forma, faz-se subliminar referência a movimentos e ONG's, excluindo Estados e Partidos.
A conversa da "sociedade civil" nasce da mesma fonte que tende a anatemizar os Partidos e a promover conceitos difusos, onde se inserem forças sociais antagónicas entre si. Por exemplo, quando referem "sociedade civil", na verdade, querem referir não apenas a população e suas associações, mas também as corporações e empresas como se de entidades verdadeiramente colectivas se tratassem.
Wednesday, March 14, 2012
Capitalismo para totós XIX - Co-gestão/co-responsabilidade
Co-gestão/co-responsabilidade - sistema de administração capitalista que assenta na ideia da partilha de interesses entre patronato e proletariado, ou seja, entre Capital e Trabalho. Este sistema visa, no essencial criar a ilusão de uma participação do trabalhador na gestão de uma empresa.
No entanto, qualquer suposta harmonização entre Capital e Trabalho é em si mesma uma contradição nos termos, na medida em que numa harmonização de interesses, também a retribuição deve ser equitativa. Ou seja, havendo "conciliação" de interesses no quadro das relações de produção capitalistas, essa "conciliação" não passa da legitimação da exploração da parte "forte" (Capital) sobre a parte "fraca" (Trabalho). Os resultados objectivos dos mecanismos de "co-gestão" são de fazer inveja aos autores das teses fascistas sobre a "inexistência da luta de classes" e consistem essencialmente na gradual capitulação dos trabalhadores perante os interesses do patrão, a bem dos postos de trabalho. A bem da manutenção dos postos de trabalho, de cedência em cedência, se beneficia sempre o mesmo lado da balança - o do patrão.
Dir-se-á que a manutenção do posto de trabalho é em si mesmo um ganho, uma vantagem para o trabalhador. No estrito quadro do raciocínio capitalista e neo-liberal, isso é verdade. Porém, numa avaliação liberta de constangimentos impostos pelo sistema, o caso muda de figura: o progresso social faz-se através da supressão do privilégio privado em benefício dos direitos colectivos. Isso significa que o trabalhador não deve mendigar postos de trabalho, despojando-se da sua dignidade e do valor da sua força-de-trabalho, antes exigir - em cada empresa, em cada lugar, em cada país - o respeito pelo seu esforço, a melhoria da sua vida e a elevação do seu bem-estar. Capitular nesta questão, não é, nem nunca será "defender os trabalhadores", mas sim contribuir para a consolidação do Capital como força social dominante e para a consolidação da burguesia como classe dominante.
Além disso, desta co-responsabilidade ou co-gestão, resulta um desequilíbrio insanável: se a empresa se deslocaliza, quem perde o trabalho é o trabalhador e não o patrão. Quando há aumentos dos lucros, são para os patrões e não para os salarios (podendo apenas ser atribuído ao trabalhador um "prémio" pontual muito inferior à fatia distribuída pelos patrões). Mas quando há má-gestão, ou prejuízo, o patrão mantém o jaguar, a mansão, o caviar, o jogo de golfe, a estância de luxo, a roupa de alta-costura, a opulência obscena, enquanto que o trabalhador vai para o fundo de desemprego (enquanto o patrão não o abocanhar).
No entanto, qualquer suposta harmonização entre Capital e Trabalho é em si mesma uma contradição nos termos, na medida em que numa harmonização de interesses, também a retribuição deve ser equitativa. Ou seja, havendo "conciliação" de interesses no quadro das relações de produção capitalistas, essa "conciliação" não passa da legitimação da exploração da parte "forte" (Capital) sobre a parte "fraca" (Trabalho). Os resultados objectivos dos mecanismos de "co-gestão" são de fazer inveja aos autores das teses fascistas sobre a "inexistência da luta de classes" e consistem essencialmente na gradual capitulação dos trabalhadores perante os interesses do patrão, a bem dos postos de trabalho. A bem da manutenção dos postos de trabalho, de cedência em cedência, se beneficia sempre o mesmo lado da balança - o do patrão.
Dir-se-á que a manutenção do posto de trabalho é em si mesmo um ganho, uma vantagem para o trabalhador. No estrito quadro do raciocínio capitalista e neo-liberal, isso é verdade. Porém, numa avaliação liberta de constangimentos impostos pelo sistema, o caso muda de figura: o progresso social faz-se através da supressão do privilégio privado em benefício dos direitos colectivos. Isso significa que o trabalhador não deve mendigar postos de trabalho, despojando-se da sua dignidade e do valor da sua força-de-trabalho, antes exigir - em cada empresa, em cada lugar, em cada país - o respeito pelo seu esforço, a melhoria da sua vida e a elevação do seu bem-estar. Capitular nesta questão, não é, nem nunca será "defender os trabalhadores", mas sim contribuir para a consolidação do Capital como força social dominante e para a consolidação da burguesia como classe dominante.
Além disso, desta co-responsabilidade ou co-gestão, resulta um desequilíbrio insanável: se a empresa se deslocaliza, quem perde o trabalho é o trabalhador e não o patrão. Quando há aumentos dos lucros, são para os patrões e não para os salarios (podendo apenas ser atribuído ao trabalhador um "prémio" pontual muito inferior à fatia distribuída pelos patrões). Mas quando há má-gestão, ou prejuízo, o patrão mantém o jaguar, a mansão, o caviar, o jogo de golfe, a estância de luxo, a roupa de alta-costura, a opulência obscena, enquanto que o trabalhador vai para o fundo de desemprego (enquanto o patrão não o abocanhar).
Capitalismo para Totós XVIII - "esquerda moderna"
esquerda moderna - termo novo para "direita reaccionária".
Friday, March 09, 2012
Capitalismo para Totós XVII - Democracia
Democracia - tipo de organização social que adopta a economia capitalista como base das suas relações de produção. Para o sistema e ideologia capitalistas, "democracia" não é participação popular, nem decisão popular, nem poder popular, é apenas poder económico legitimado por sufrágio.
No dia em que o sufrágio não legitima, como sucede em vários pontos do globo, o sistema de exploração capitalista, cessa automaticamente a "democracia".
No dia em que o sufrágio não legitima, como sucede em vários pontos do globo, o sistema de exploração capitalista, cessa automaticamente a "democracia".
Capitalismo para Totós XVI -Terrorismo
Terrorismo - refere-se ao conjunto de actividades ou correntes político-ideológicas que não partilham a perspectiva dos maiores pólos capitalistas. A tipificação de diversas expressões políticas como "terroristas" foi um dos golpes linguísticos mais eficazes do sistema capitalista após a destruição da URSS e principalmente depois do 11 de Setembro de 2001. A utilização do medo para criar inimigos incógnitos tem um efeito muito mais amplo e muito mais massificado do que crimes cometidos pontualmente.
O verdadeiro terrorismo está pois, tanto nos actos de destruição das torres gémeas, como em quem semeou com isso o terror por todo o mundo. De um lado o capitalismo avassalador e sanguinário, do outro um grupo fundamentalista. Esta chantagem é que constitui um verdadeiro acto global de terrorismo sobre os povos, incluindo o povo americano.
Todavia, para os capitalistas, "terrorismo" é o pretexto e o qualificativo para tudo quanto não encaixe nos objectivos políticos e económicos das potências imperialistas. Diferentes interesses capitalistas podem ser apelidados de terroristas por outros interesses capitalistas. Mas serve igualmente para suprimir todas as opções, principalmente as revolucionárias, que se oponham e combatam o capitalismo e os seus interesses.
Por toda a Europa e Estados Unidos se vê cada vez mais a qualificação de movimentos de libertação e revolucionários como "terroristas".
O verdadeiro terrorismo está pois, tanto nos actos de destruição das torres gémeas, como em quem semeou com isso o terror por todo o mundo. De um lado o capitalismo avassalador e sanguinário, do outro um grupo fundamentalista. Esta chantagem é que constitui um verdadeiro acto global de terrorismo sobre os povos, incluindo o povo americano.
Todavia, para os capitalistas, "terrorismo" é o pretexto e o qualificativo para tudo quanto não encaixe nos objectivos políticos e económicos das potências imperialistas. Diferentes interesses capitalistas podem ser apelidados de terroristas por outros interesses capitalistas. Mas serve igualmente para suprimir todas as opções, principalmente as revolucionárias, que se oponham e combatam o capitalismo e os seus interesses.
Por toda a Europa e Estados Unidos se vê cada vez mais a qualificação de movimentos de libertação e revolucionários como "terroristas".
Thursday, March 08, 2012
Capitalismo para Totós XV - Ditadura
Ditadura - termo que, na linguagem oficial do sistema capitalista e seus porta-vozes, se refere a todo o Estado que não aceite as imposições dos grandes pólos imperialistas, independentemente da sua forma de poder ou de governo e da participação popular na definição das políticas desse Estado.
A mensagem do sistema capitalista é simples: todos os estados e governos que acatem subservientemente as ordens dos grandes centros imperialistas e dos grandes patrões do planeta, são democracias. Os restantes são estados ditatoriais.
Ou seja, a concepção burguesa de "ditadura" não se refere à forma de governo de um estado ou à intervenção e peso real das opções dos povos no destino dos seus países. Na verdade, refere-se única e exclusivamente à "abertura" ou "não-abertura" de um Estado à entrada dos grupos económicos transnacionais.
Como tal, inúmeras ditaduras reais são caracterizadas como democracias e inúmeras democracias são caracterizadas como ditaduras.
Todavia, a verdade é que todos os Estados são por definição ditatoriais - a questão é que as democracias são ditaduras da maioria sobre a minoria e nos estados capitalistas a ditadura é exercida por uma minoria sobre uma maioria.
A mensagem do sistema capitalista é simples: todos os estados e governos que acatem subservientemente as ordens dos grandes centros imperialistas e dos grandes patrões do planeta, são democracias. Os restantes são estados ditatoriais.
Ou seja, a concepção burguesa de "ditadura" não se refere à forma de governo de um estado ou à intervenção e peso real das opções dos povos no destino dos seus países. Na verdade, refere-se única e exclusivamente à "abertura" ou "não-abertura" de um Estado à entrada dos grupos económicos transnacionais.
Como tal, inúmeras ditaduras reais são caracterizadas como democracias e inúmeras democracias são caracterizadas como ditaduras.
Todavia, a verdade é que todos os Estados são por definição ditatoriais - a questão é que as democracias são ditaduras da maioria sobre a minoria e nos estados capitalistas a ditadura é exercida por uma minoria sobre uma maioria.
Monday, March 05, 2012
Capitalismo para Totós XIV - Menos estado, melhor estado
"menos estado, melhor estado" - formulação que resume a máxima capitalista de redução do papel do Estado nas questões fundamentais da política e da economia. "menos estado, melhor estado" entranhou-se no vocabulário do sistema e ganhou uma grande aceitação entre grandes camadas da população, incluindo as que mais beneficiam com a intervenção do Estado e com a preservação das suas funções sociais.
A apologia de um estado minguado, quase inexistente, ganhou apoio entre as camadas populares porque o Estado cada vez mais se afasta da sua razão de existência - assegurar uma organização social tendente à eliminação de assimetrias, garantindo igualdade e liberdade. Mas são os mesmos que fazem essa apologia, os responsáveis pela degradação da qualidade do serviço público e do papel do Estado na vida quotidiana do cidadão. Ou seja, aqueles que sempre contribuiram para tornar obsoletos os serviços do Estado, são os que agora defendem a sua mera privatização.
"menos estado" é acima de tudo o corolário da maximização da organização empresarial e privada, suprimindo a organização social. "melhor estado" é apenas a partícula que embeleza o conceito retrógrado, criando a ilusão de que essa "melhoria" teria impactos na vida dos cidadãos. Porém, esse "melhor estado" é um termo longe de qualquer inocuidade, antes significa "melhor" para uns, pior para outros. Melhor para quem quer um Estado com um mero gestor ou comissão de negócios do capitalismo. Pior para quem quer do Estado um sistema público de ensino, gratuito e de qualidade; um serviço de saúde universal e gratuito; um serviço de arte e cultura; um serviço de justiça e segurança pública; um serviço de protecção ambiental; um serviço de habitação; um apoio no confronto de classe.
"menos estado" esconde ainda a ideia de que o cidadão será libertado dos encargos de financiamento do Estado, cavalgando a tese de que se desmontarmos a despesa do Estado, diminuiremos os impostos. Certo é que, enquanto o tal "melhor estado" continuar a ser melhor para os senhores do dinheiro, para os banqueiros criminosos, para os patrões que abandonam a indústria, para os donos da terra abandonada, para os donos das cadeias de distribuição que tudo secam à sua volta, os impostos continuarão a crescer - como até aqui sucede - para lhes satisfazer os caprichos.
A vida mostra-nos que, apesar de termos ao longo das décadas assistido a uma diminuição do peso do Estado nos serviços e na economia em geral, a carga fiscal - principalmente sobre os rendimentos do trabalho - não tende a diminuir, antes pelo contrário, tende a aumentar.
A apologia de um estado minguado, quase inexistente, ganhou apoio entre as camadas populares porque o Estado cada vez mais se afasta da sua razão de existência - assegurar uma organização social tendente à eliminação de assimetrias, garantindo igualdade e liberdade. Mas são os mesmos que fazem essa apologia, os responsáveis pela degradação da qualidade do serviço público e do papel do Estado na vida quotidiana do cidadão. Ou seja, aqueles que sempre contribuiram para tornar obsoletos os serviços do Estado, são os que agora defendem a sua mera privatização.
"menos estado" é acima de tudo o corolário da maximização da organização empresarial e privada, suprimindo a organização social. "melhor estado" é apenas a partícula que embeleza o conceito retrógrado, criando a ilusão de que essa "melhoria" teria impactos na vida dos cidadãos. Porém, esse "melhor estado" é um termo longe de qualquer inocuidade, antes significa "melhor" para uns, pior para outros. Melhor para quem quer um Estado com um mero gestor ou comissão de negócios do capitalismo. Pior para quem quer do Estado um sistema público de ensino, gratuito e de qualidade; um serviço de saúde universal e gratuito; um serviço de arte e cultura; um serviço de justiça e segurança pública; um serviço de protecção ambiental; um serviço de habitação; um apoio no confronto de classe.
"menos estado" esconde ainda a ideia de que o cidadão será libertado dos encargos de financiamento do Estado, cavalgando a tese de que se desmontarmos a despesa do Estado, diminuiremos os impostos. Certo é que, enquanto o tal "melhor estado" continuar a ser melhor para os senhores do dinheiro, para os banqueiros criminosos, para os patrões que abandonam a indústria, para os donos da terra abandonada, para os donos das cadeias de distribuição que tudo secam à sua volta, os impostos continuarão a crescer - como até aqui sucede - para lhes satisfazer os caprichos.
A vida mostra-nos que, apesar de termos ao longo das décadas assistido a uma diminuição do peso do Estado nos serviços e na economia em geral, a carga fiscal - principalmente sobre os rendimentos do trabalho - não tende a diminuir, antes pelo contrário, tende a aumentar.
Friday, March 02, 2012
Capitalismo para Totós XIII - Austeridade
austeridade - o termo encontrado pelos teóricos e governantes do estado capitalista para definir uma política de supressão do Estado e dos serviços públicos. "Austeridade" é um termo com uma carga de moralidade, aliás, "austeridade" significa tanto "severidade", como "rigor". A questão aqui não é tanto sobre o significado da palavra, mas sobre o acerto do termo. A utilização do termo aqui é propositada para confundir a realidade com o conceito. Ou seja, não é o significado de "austeridade" que é distorcido, mas é a aplicação desse conceito que tenta disfarçar a situação real com que estamos confrontados.
Por um lado, porque os povos sujeitos à chamada "política de austeridade" não são governados com rigor, nem as imposições de miséria e o esbulho que empobrecem os trabalhadores estão revestidos de qualquer "ética social" ou "moralidade". Basta verificar que as maiores fortunas, o capital nacional e transnacional continuam a crescer a ritmo alucinante, na proporção directa do empobrecimento das camadas trabalhadoras e intermédias da população.
A "austeridade" não é a aplicação de uma qualquer "disciplina" na economia, é apenas a forçada diminuição de despesa (e na maior parte dos casos da receita igualmente) dos Estados, como forma de comprimir totalmente o serviço público, garantindo a apropriação pelos interesses privados, amassando mais e mais áreas de negócio e mais e mais lucros. A disciplina imposta à esfera pública é contraposta pela total liberdade de aquisições por privadas, pela desregulação das relações laborais e pela selvajaria da exploração e do desmantelamento dos próprios Estados. A contracção do investimento, da despesa e da receita públicas, são afinal de contas, a verdadeira expressão da "austeridade" que impõe brutais constrangimentos económicos a uns para assegurar a opulência de outros.
A pretexto dessa "austeridade" pública, os patrões encontram mais uma justificação para impor igualmente piores condições de exploração do trabalho e assim, desvalorizando o trabalho, garantir mais lucro. Por isso mesmo, no actual contexto, a palavra certa para "política de austeridade" seria "roubo massivo" ou "crime organizado".
Por um lado, porque os povos sujeitos à chamada "política de austeridade" não são governados com rigor, nem as imposições de miséria e o esbulho que empobrecem os trabalhadores estão revestidos de qualquer "ética social" ou "moralidade". Basta verificar que as maiores fortunas, o capital nacional e transnacional continuam a crescer a ritmo alucinante, na proporção directa do empobrecimento das camadas trabalhadoras e intermédias da população.
A "austeridade" não é a aplicação de uma qualquer "disciplina" na economia, é apenas a forçada diminuição de despesa (e na maior parte dos casos da receita igualmente) dos Estados, como forma de comprimir totalmente o serviço público, garantindo a apropriação pelos interesses privados, amassando mais e mais áreas de negócio e mais e mais lucros. A disciplina imposta à esfera pública é contraposta pela total liberdade de aquisições por privadas, pela desregulação das relações laborais e pela selvajaria da exploração e do desmantelamento dos próprios Estados. A contracção do investimento, da despesa e da receita públicas, são afinal de contas, a verdadeira expressão da "austeridade" que impõe brutais constrangimentos económicos a uns para assegurar a opulência de outros.
A pretexto dessa "austeridade" pública, os patrões encontram mais uma justificação para impor igualmente piores condições de exploração do trabalho e assim, desvalorizando o trabalho, garantir mais lucro. Por isso mesmo, no actual contexto, a palavra certa para "política de austeridade" seria "roubo massivo" ou "crime organizado".
Thursday, March 01, 2012
Capitalismo para Totós XII - Risco
risco - todo o edifício argumentativo do capital para justificar a exploração do trabalho alheio assenta na existência de um risco. Esse risco é associado a um "investimento" realizado pelo capitalista que dá cobertura à exploração de quem não arriscou e apenas quer trabalhar.
Independentemente de considerarmos se a existência do "risco" justificaria eventualmente a possibilidade de exploração de trabalho alheio, podemos atalhar a discussão e ir à raiz: a existência do risco propriamente dita.
O risco pressupõe um investimento de capital próprio que pode ser perdido. Também pode ser replicado, dependendo sobretudo da competência da gestão e da qualidade da produção. Como tal, se é o proprietário (accionista) que é premiado pelo sucesso, também deve ser o proprietário (accionista) a ser prejudicado pelo insucesso. Por aqui começamos a compreender que a existência de um eventual risco se esbate ao colocar, o eventual sucesso ou insucesso, na responsabilidade de quem gere e não de quem é explorado.
Mas adiante, o investimento de um capital próprio pressupõe que certa entidade ou indivíduo é detentor desse capital e que o vai arriscar. Importa, pois, compreender se esse capital não foi já obtido com base nos mesmos mecanismos de exploração que agora pretende ampliar. Ou seja, o capital para o investimento foi obtido através da exploração de mais-valias do trabalho alheio e, como tal, na verdade, o capitalista está apenas a arriscar a fatia que já pôde (porque a lei o permite) roubar a outrém.
Se o capitalista ou pequeno patrão inicia o investimento sem capital próprio, significa que se endividou para contrair um empréstimo, pedido a outro patrão que será concedido com capital obtido precisamente através da exploração do trabalho e neste caso, quem arrisca não é nem o capitalista da banca que concede o empréstimo nem o que o contrai, na medida em que a banca realizará sempre a cobrança da dívida nem que seja através de garantias materiais que o pequeno patrão pagará com os bens que adquiriu com o capital emprestado.
Na verdade, o risco do patrão (pequeno ou grande) é relativamente reduzido e tende a ser mais reduzido quanto maior for o patrão e maior for o investimento. Acresce a isto a instrumentalização galopante da lei e do Estado para satisfação dos interesses da classe patronal que se encarrega, a todo o momento, de garantir que não existe risco - principalmente para o grande patrão, mesmo que por vezes se sacrifique o pequeno patrão e sempre, sempre, sacrificando o trabalhador.
Mais grave é o facto de a gestão de risco não ser compatível com actividades fundamentais e imprescindíveis, como os serviços públicos e a banca. Ou seja, não pode ficar na dependência do sucesso empresarial a existência de um sistema financeiro e de serviços públicos, porque em última análise isso significaria que o insucesso de um investimento implicaria o encerramento de um desses serviços.
E, na verdade, qual o verdadeiro risco no sistema capitalista? Aquele que é assumido por um trabalhador ao aceitar um salário, dependendo da necessidade de aquisição da sua força de trabalho por outrém, para garantir a sua sobrevivência?
Ou aquele que é assumido por um capitalista, para poder explorar a força de trabalho de outros para garantir a sua opulência?
É que... ninguém enriquece a trabalhar.
Independentemente de considerarmos se a existência do "risco" justificaria eventualmente a possibilidade de exploração de trabalho alheio, podemos atalhar a discussão e ir à raiz: a existência do risco propriamente dita.
O risco pressupõe um investimento de capital próprio que pode ser perdido. Também pode ser replicado, dependendo sobretudo da competência da gestão e da qualidade da produção. Como tal, se é o proprietário (accionista) que é premiado pelo sucesso, também deve ser o proprietário (accionista) a ser prejudicado pelo insucesso. Por aqui começamos a compreender que a existência de um eventual risco se esbate ao colocar, o eventual sucesso ou insucesso, na responsabilidade de quem gere e não de quem é explorado.
Mas adiante, o investimento de um capital próprio pressupõe que certa entidade ou indivíduo é detentor desse capital e que o vai arriscar. Importa, pois, compreender se esse capital não foi já obtido com base nos mesmos mecanismos de exploração que agora pretende ampliar. Ou seja, o capital para o investimento foi obtido através da exploração de mais-valias do trabalho alheio e, como tal, na verdade, o capitalista está apenas a arriscar a fatia que já pôde (porque a lei o permite) roubar a outrém.
Se o capitalista ou pequeno patrão inicia o investimento sem capital próprio, significa que se endividou para contrair um empréstimo, pedido a outro patrão que será concedido com capital obtido precisamente através da exploração do trabalho e neste caso, quem arrisca não é nem o capitalista da banca que concede o empréstimo nem o que o contrai, na medida em que a banca realizará sempre a cobrança da dívida nem que seja através de garantias materiais que o pequeno patrão pagará com os bens que adquiriu com o capital emprestado.
Na verdade, o risco do patrão (pequeno ou grande) é relativamente reduzido e tende a ser mais reduzido quanto maior for o patrão e maior for o investimento. Acresce a isto a instrumentalização galopante da lei e do Estado para satisfação dos interesses da classe patronal que se encarrega, a todo o momento, de garantir que não existe risco - principalmente para o grande patrão, mesmo que por vezes se sacrifique o pequeno patrão e sempre, sempre, sacrificando o trabalhador.
Mais grave é o facto de a gestão de risco não ser compatível com actividades fundamentais e imprescindíveis, como os serviços públicos e a banca. Ou seja, não pode ficar na dependência do sucesso empresarial a existência de um sistema financeiro e de serviços públicos, porque em última análise isso significaria que o insucesso de um investimento implicaria o encerramento de um desses serviços.
E, na verdade, qual o verdadeiro risco no sistema capitalista? Aquele que é assumido por um trabalhador ao aceitar um salário, dependendo da necessidade de aquisição da sua força de trabalho por outrém, para garantir a sua sobrevivência?
Ou aquele que é assumido por um capitalista, para poder explorar a força de trabalho de outros para garantir a sua opulência?
É que... ninguém enriquece a trabalhar.
Subscribe to:
Posts (Atom)