Wednesday, June 06, 2007

A greve, a praga sabuja e o bloco.

A greve geral foi uma poderosa demonstração da força dos trabalhadores. A greve geral envolveu mais de 1 400 000 trabalhadores, contrariando os números de fantochada que o Governo tão prontamente ventilou. Não tivesse esta greve geral sido um sucesso, e o governo colocaria 7 membros do Governo em directos na TV para dar explicações?

1 400 000, mais de.

Este tem sido o Governo que, pelas suas opções de direita - da mais retrógrada -, mais tem motivado a luta de massas. Este período de Governo do PS já foi alvo das maiores contestações de trabalhadores da terra e do mar, das forças de segurança, dos professores e muitos outros. Falta a luta estudantil, dominadas que estão as suas estruturas pela JS. Falta a luta dos estudantes, não que lhe faltem os motivos e pretextos, pelo contrário, mais do que nunca, aí estão. Mas fala mais alto o aparelhismo, a vontade de trajar uma capa traçada, o sabujismo em bicos de pés, fala mais alto a mesquinha vontade de usar uma gravata ao serviço do capital - que ao serviço doutros ninguém se safa.

E fazia falta essa luta, a dos estudantes. Mais cedo que tarde os empoleirados dirigentes serão ultrapassados, por outros, por colegas seus que de amigos nada têm. Virá o dia, e não tão tarde, em que os dirigentes estudantis tornarão a ser os estudantes.

Mas atentos que estão todos os leitores ao título do post, falta o bloco, pois claro.
Também se poderia falar do papel desse grupelho no movimento estudantil, que tanto mancha e corrói.

Mas falemos antes do seu papel na Greve Geral. Na madrugada de 30 de Maio era vê-lo por aí, de sorriso largo e ar doutoral a pavonear-se pelos piquetes de greve, saudando os trabalhadores. O senhor Louçã, coordenador nacional do BE. Por entre trabalhadores de verdades, armado da habitual comitiva de televisões e jornais com quem combinara anteriormente cada um dos seus passinhos, lá andava, lampeiro apertando uma mão aqui outra ali.

Mas que fizeram os "amigos" do BE para o sucesso desta Greve Geral? A posição do BE foi sempre muito clara, embora muito escondida. Mas a bem da verdade, é o facto de ser escondida que a torna clara. O papel fundamental deste grupelho não muda, mudem embora os seus aspectos, as suas causas mediáticas, os seus rostos. Mantém-se aliás bem firme no cumprimento desse papel: fortalecer a reacção, atacando principalmente e com maior ferocidade as estruturas de classe dos trabalhadores, as duas que temos: partido e sindicatos.

É pois, este o papel. Para isso age-se em duas frentes. antes da greve fazem-se uns cartazes, assume-se um compromisso "assim-assim" com a greve. Nas empresas, todavia, anunciam-se aos quatro ventos as complicações das greves, negoceiam-se melhores condições de escravatura, rebaixam-se os trabalhadores ao nível de trastes perante o patrão. (bem ilustra o que digo, as palavras de Louçã no dia da greve à porta da AutoEuropa, as palavras de António Chora no mesmo local e dois dias antes da greve à comunicação social).

Eis senão quando a matriz anti-comunista e reaccionária do BE se assume logo após a greve, fazendo o frete ao Governo e ao patronato, anunciando a medos que a greve foi um fracasso, marcando a sua posição pelo metrónomo dos media e do Governo. O BE em todo o seu esplendor.

Afinal, de que lado fica o BE após dia 30? do lado dos trabalhadores, defendendo a sua luta? do lado da firmeza contra a política de direita do Governo? ou assume que nunca deixou o partido da reacção, juntando ao coro da tristeza?

Para responder temos as declarações na Convenção do BE. Afinal a greve era uma iniciativa do PCP que fragilizou o movimento sindical. Afinal a greve, para o BE não é a luta dos trabalhadores, a que moveu mais de 1 400 000 trabalhadores. É a do Governo, a mesma que mobilizou 7 membros do Governo e, pelos vistos, mais uns poucos amigos.

4 comments:

Sérgio Ribeiro said...

Boa malha... e só se perdem as que caiam no chão!

Esquerda Comunista said...

BALANÇO DA GREVE GERAL

Apesar da precaridade que já afectará quase 1 milhão de trabalhadores, apesar do “sindicalismo” amarelo da UGT, apesar das ameaças, da opressão nas empresas, dos “serviços mínimos” que o governo impõe, a Greve Geral foi mesmo para a frente, paralisando inúmeras empresas e serviços do Estado!

Ao contrário da propaganda do governo e dos patrões, a Greve Geral mostrou o descontentamento profundo que grassa entre a classe trabalhadora portuguesa, mas não a unificou numa jornada de luta que mostrasse a todos, sobretudo a si própria, toda a sua força potencial. Apesar do seu carácter nacional, apesar de ter envolvido um milhão e quatrocentos mil trabalhadores, apenas tivemos meia-vitória: não foi possível paralisar o país.

A precaridade e o medo são obstáculos sérios… Mas temos de procurar outras razões que expliquem esta nossa meia-vitória, ou arriscamo-nos a nunca vir a ganhar o jogo, pois a precaridade, o medo, as pressões e os “serviços mínimos” estarão novamente presentes quando nova Greve Geral for convocada…

E novas jornadas de luta teremos pela frente, pois as movimentações que temos visto nos últimos meses são apenas o princípio da reentrada em cena da classe trabalhadora. Porquê? Porque nas acutais condições, o capitalismo não lhe deixará outra hipótese.

Todavia, porque tivemos, agora, uma meia-vitória? Não haverá descontentamento suficiente na sociedade portuguesa? Claro que sim, mas esse descontentamento deveria ter sido mobilizado em torno dum programa reivindicativo concreto e não foi isso que sucedeu.

Apelou-se à participação dos trabalhadores com um vago apelo à “mudança de rumo” nas políticas do governo. Logo aí, apesar do desgoverno a que temos estado sujeitos, a Greve Geral apresentava-se como uma greve contra o governo socialista. – e foi assim que muitos trabalhadores socialistas a encararam e dela se descartaram por não vislumbrarem alternativas ao actual estado de coisas…

Com efeito, exigir uma “mudança de rumo” ao nível da governação, deveria pressupor uma alternativa concreta, mas… onde está ela? Na verdade, nenhuma alternativa concreta, palpável, de esquerda existe ao actual governo.

O Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda, desavindos, sem serem capazes, sequer, de convergir na luta contra as políticas pró-capitalistas deste governo PS não podem ser considerados como uma “alternativa” ao actual governo.

Não apenas pela menor expressão eleitoral que têm – e deveriam os seus dirigentes reflectir sobre isto, sobre o extraordinário facto de que numa situação de grave crise económica e social, não serem capazes de serem um sério pólo de atracção ao descontentamento que existe -, mas sobretudo porque não têm uma real alternativa programática ao actual estado de coisas: uma alternativa socialista.

Não é preciso ser um guru na economia para compreender que, se aumentarmos os salários, a inflação subirá com eles; se reduzirmos a jornada laboral, os capitalistas não vão investir; se aumentarmos as verbas para as funções sociais do Estado, teremos de cobrar realmente os impostos aos capitalistas…. Mas assim, os capitais fugiriam do país! Se acabarmos com a flexibilidade e a precarização, as empresas vão para a Polónia, se… Mas é necessário continuar?

Qualquer trabalhador percebe os limites que o capitalismo impõe e, por isso mesmo, a maioria acaba por votar no partido socialista: onde se encontram os reformistas mais "consequentes" e que, ao contrários dos "reformistas de esquerda" (mais sonhadores, digamos) assumem plenamente a tarefa de bem gerir o sistema capitalista.

Todavia, porque vivemos numa época de reformistas sem reformas, de reformistas que lançam contra-reformas para poderem manter à tona o sistema capitalista mergulhado num impasse, precisamente por isso, é que se torna imperioso justapor uma alternativa socialista que garanta a subida dos salários e pensões, o aumento dos gastos sociais do Estado, a redução da jornada laboral, o fim da precaridade, o pleno emprego, etc. com aquelas medidas que podem – e só elas podem – garantir a concretização dessas reformas que as massas anseiam: a nacionalização da banca, do sistema financeiro, das grandes empresas e indústrias sob controle dos trabalhadores. Só assim se poderá gerir democraticamente a economia pelos e para os trabalhadores. Só assim se construirá um programa de transição para o socialismo.

Muitos dirão que “as massas não estão preparadas para esse tipo de ideias”. Todavia… Se os activistas mais conscientes não fizerem uma propaganda activa das ideias mais avançadas, como é que estas se formarão no cérebro dos trabalhadores? Espontaneamente? Bom… não somos anarquistas, pois não?

Depois – e sobretudo - as nacionalizações não são “ideias bonitas” que possam ser agendadas para as calendas gregas. Pelo contrário, são propostas que emergem da própria luta!

Quando uma multinacional ameaça em deslocalizar uma empresa, não fará sentido exigir a sua nacionalização sob controlo operário? Se quisermos resolver o problema da Habitação, não deveremos municipalizar o solo urbano e expropriar as empresas de construção civil para construir casas baratas e não edificar grandes lucros para os “pato-bravos”? Fará sentido deixar à “iniciativa privada” a agiotagem bancária quando as instituições de crédito deveriam servir o desenvolvimento económico e social do país? Seria assim tão difícil aos trabalhadores compreenderem que a propriedade privada no sector gasolineiro e petrolífero apenas engorda as contas bancários dos seus proprietários à custa dos preços altos da gasolina? Etc., etc., etc.

A maior das utopias não é reclamar a mudança radical, mas continuar a pensar que no seio do capitalismo, sem acabar com a propriedade privada dos grandes meios de produção e o mal chamado sistema de “livre concorrência” (como se os monopólios tudo não decidissem…), possam ser realizadas mudanças que satisfaçam efectivamente as necessidades das massas.

Significa isso que não se deve lutar por reformas? Claro que não! Devemos lutar por todas as conquistas possíveis para a classe trabalhadora, por todas as pequenas vitórias dentro do capitalismo, mas devemos também sempre, sem ocultar os nossos propósitos e fins – como insistiam Marx e Engels no Manifesto – explicar aos trabalhadores e à juventude que nenhuma conquista será irreversível e segura sem a aplicação de outras medidas que garantam a transição para o socialismo.
Construir esse programa, defender as ideias, os métodos e as tradições marxistas nas nossas organizações de classe, eis a tarefa que urge realizar.

miguel said...

caro rui:

é impressionante como num texto tão grande como o que aqui nos deixou, eu ñão consiga encontrar quase nada com que estar de acordo...

Nom du blog said...

o mais impressionante é o ódio que escorre destas palavras