Sunday, April 29, 2007

as várias formas de fascismo

eu posso não estar de acordo com a opção dos grupos que convocaram a manifestação da praça da figueira para o 25 de Abril. Eu, pelo menos, não optaria por esta forma de luta à margem das massas. No entanto, respeito a opção e reconheço-lhe toda a legitimidade para, como entendeu, manifestar o desagrado para com o benevolente tratamento que os fascistas têm tido na praça pública e nas esferas do poder político.

não deixo de manifestar a minha solidariedade para com os jovens agredidos!
não deixo de manifestar a minha profunda revolta para com o simples facto de os nazis poderem fazer o que querem sem qualquer medida policial ou política enquanto um grupo de jovens que decide manifestar-se contra essa desavergonhada vara nazi, leva uma carga policial brutalmente agressiva em cima. Há fascistas na Polícia de Segurança Pública.

Um polícia gritava enquanto batia: "Comunas do caralho!", outro comentava "os nazis não se portam assim!".

Mas que merda de Estado é este que permite que um agente da autoridade grite "comunas do caralho" enquanto espanca um cidadão!? Que Polícia de Segurança Pública permite que aqueles que querem destruir a Constituição da República, a própria democracia, sejam seus membros?

Todos contra o fascismo. todos! e não seremos muitos!

Wednesday, April 25, 2007

as teses da nova(velha) ordem fascista

Hoje fomos presenteados com o discurso dos senhores. A tribuna da Assembleia da República vomitou mais umas palavras horripilantes para nos lembrar, os fracassos de Abril e a contra-revolução (ainda) em marcha.

Claro que me refiro aos senhores que ali se arrastam pela direita, principalmente os que se prostram aos ditames do capital da forma mais dissimulada. Que o CDS acarinha o passado e o bolor da nossa história recente, que o CDS acha que o 25 de Novembro foi o momento libertador para o país, já todos sabemos e não é com espanto que ano após ano ouvimos o discurso do bafio obscuro desta direita infeliz que tenta governar a embarcação perdida da chamada "democracia-cristã".

O que nem todos sabemos é que há uma direita que se vai refinando, dando resposta às novas exigências ideológicas que se colocam ao avanço do capitalismo, na melhor utilização que se conhece da ilusão, do idealismo e da manipulação.

1. Discurso do Partido Socialista sobre o 25 de Abril: não tocou uma vez que fosse nos direitos materiais e imateriais que a revolução proporcionou, não ousou relevar as caracerísticas opressoras do fascismo. Uma intervenção infectada de verbos de encher, à boa maneira de quem diz poesia para encantar os ignorantes. Uma intervenção de retalhos, longe da realidade do país, incapaz de alertar para os perigos que a nossa pobre e limitada democracia corre. A Senhora Deputada Maria de Belém trouxe-nos infindas citações de franceses, ingleses, professores, poetas, escritores, e outros académicos que teimam em reescrever a história fingindo creatividade, para não reconhecerem que o código interpretativo da nossa história está escrito no materialismo e na dialéctica e no olhar atento à luta de classes.

2. Discurso do Cavaco: este senhor, usando da sua bela prosa e dicção exemplar, que mais parece um esófago afogueado em dia de ressaca num episódio de refluxo gástrico, trouxe-nos a mais bela das teses, que bem caberia nos textos fascistas dessa fantástica doutrina. O senhor presidente da república anunciou hoje o seguinte: "os jovens são o futuro do país". Pasme! em conjunto deliremos perante esta iluminada afirmação, longe que está do lugar-comum e daqueles que teimam em negar à juventude o presente, relegando-lhe sempre apenas o futuro, o inatingível futuro.
Mas não foi apenas esta a mensagem que nos deixou o presidente.
Disse-nos também que a liberdade aí está para quem a quiser usar. Que durante as suas viagens tem visto muitos jovens usá-la da melhor forma, empreendedores, capazes de vingar num mundo tão exigente. Disse-nos nos entretantos que o 25 de Abril estava estafado, que era apenas um feriado, um ritual enfadonho.
O presidente acha que a juventude não se deve resignar, que deve usar do seu afamado inconformismo para romper com o status quo. De facto, as palavras em si, não encerram o seu próprio significado. Atentemos à tese aqui veiculada.
Os jovens devem ser empreendedores e usar a liberdade: aqueles jovens que estão desempregados, mesmo que licenciados, aqueloutros que trabalham a recibos verdes, ou em regime de trabalho temporário a troco de 400 euros por mês, aqueles que não têm casa e vivem já sem vontade na casa dos pais, aqueles que não têm dinheiro para continuar os estudos, aqueles que vivem no interior sem saber sequer o que é uma escola, aqueles que vivem em casa a tratar dos pais doentes, e tantos outros que somam a grande maioria, vivem nestas condições por um único motivo: não querem ser livres, não usam a liberdade. Nunca deixa de me surpreender as formas que o capital desencanta para nos enganar, nos dar baile.
Pelo caminho, ficámos a saber que, para o presidente, a liberdade não tem donos, é de todos, dos ricos e dos pobres, dos patrões e dos trabalhadores, afinal de contas da grande nação que somos todos nós. (não sendo isto idealismo fascizante o que será?)
Escusado será dizer que este presidente conseguiu ludibriar-nos de tal forma entre palavras ofensivas contra a juventude que acabou por não tocar no papel do Governo. O que está mal, está porque não sabemos, principalmente os jovens, usar a liberdade.

3. curiosidade - discurso do Bloco de Esquerda: a senhora deputada do Bloco de Esquerda, Helena Pinto, deixou-nos as seguintes pérolas:
"não podemos permitir o branqueamento do Estado Novo"
"não perimitiremos que nos apaguem a memória"
estranho... porque não "fascismo" em vez de "Estado Novo"(relembro que este era o nome que o regime fascista dava a si próprio), porque não "resitência anti-fascista histórica" em vez de "memória"? é que com isto, conseguiram, de facto, não referir uma única vez a palavra "fascismo" nem dirigir-se por uma vez ao povo. "memória"... palavra inócua essa...

Soja ou Vacas?

quando é que esta malta percebe que o problema não está na natureza da exploração agrícola ou pecuária? está na natureza dos métodos e das relações de produção!

http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2007/abr/24/340.htm

"documento de apoio ao post anterior"

Que fique claro então e peço desculpa por assim não ter ficado logo. O que foi votado na Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura durante a tarde de dia 24 de Abril foram as conclusões e parecer de um relatório produzido pela Senhora Deputada Fernanda Aceisseira (do PS) e que visava concluir e sistematizar as iniciativas da Comissão através de um Grupo de Trabalho para as questões da Violência nas Escolas.

O Grupo Parlamentar do PCP apontou o facto de o relatório conter um parecer demasiadamente parcial, e sugeriu que fosse limpo de orientações políticas, limitando-se a identificar os problemas para que os grupos parlamentares pudessem, como entendessem, interpretá-los, tomando assim as posições ou iniciativas que entendessem, tal como acontece na generalidade dos relatórios.

O CDS-PP, o BE, o PS e o PSD votaram contra a proposta do PCP e o PEV esteve ausente da votação.

De seguida, tendo sido chumbada a proposta do PCP, os restantes partidos presentes aprovaram a seguinte lista de medidas entre outras, que por constarem das conclusõese não do parecer, me escusarei a enunciar:

"d) Elaborar iniciativa legislativa, na forma de Resolução, a subscrever pelos Grupos Parlamentares que o entendam fazer, visando o tema «A Segurança nas Escolas», na sequência das conclusões apresentadas, recomendando ao Governo a adopção de medidas, que visem contribuir para melhorar a resposta das escolas e da sociedade na prevenção de comportamentos de risco, proporcionando ambientes mais seguros e promovendo o sucesso escolar para todos(as) os(as) alunos(as), destacando as seguintes:

1- Promover as condições de contratualização com as Escolas que apresentem indicadores passíveis de serem integradas em contextos sócio educativos desfavorecidos e/ou com maiores índices de insegurança, tendo como objectivo o devido apetrechamento de meios, equipamentos e recursos como forma de contribuir para a integração de todos os alunos e para a melhoria da resultados escolares;

2- Desenvolver políticas promotoras da autoridade, do respeito e da responsabilidade, efectiva dos professores e da escola.

3- Promover medidas que reforçam a vertente da organização e gestão das escolas, nomeadamente ao nível da autonomia e das competências, com o respectivo acompanhamento e rigor na avaliação;

4- Contribuir para o desenvolvimento da dimensão pedagógica nas escolas, valorização da dimensão sócio-cultural e orientação escolar e profissional, , contribuindo com o reforço da dinâmica das redes de parceria locais. para uma intervenção global junto dos alunos e suas famílias;

5- Reforçar a componente de psicologia e orientação, dimensionando-a às reais necessidades e tendo em atenção os fenómenos da indisciplina e da violência;

6- Reforçar a instalação, aplicação e utilização dos meios electrónicos nas escolas, como forma de informação, comunicação e prevenção da segurança de pessoas e bens, com plena garantia dos direitos e liberdades dos vários agentes educativos;

7- Promover o desenvolvimento de acções de segurança de proximidade, em estreita articulação com os vários intervenientes da comunidade escolar e local;

8- Estabelecer redes de parceria e dinâmicas locais eficazes, facilitadoras e integradoras da informação nas áreas da educação, da acção social, da saúde e da segurança, com o importante envolvimento das autarquias, para que se actue na sinalização, na prevenção e no acompanhamento de comportamentos de risco dos alunos e das famílias;

9- Sensibilizar os estabelecimentos de ensino superior para a importância de integrar nos currículos dos cursos de formação inicial de professores a temática das Relações Interpessoais, nomeadamente na área da mediação e prevenção de conflitos em meio escolar;

10- Promover módulos de formação contínua no âmbito da gestão e prevenção de conflitos em meio escolar para professores e auxiliares de acção educativa;

11- Apostar na requalificação de espaços e equipamentos escolares degradados, na construção de novos e respectivas áreas envolventes, valorizando nos respectivos projectos, critérios arquitectónicos, ambientais e outros, que evidenciem requisitos promotores de ambientes seguros e de estilos saudáveis de vida;

12- Divulgar de forma regular e sistemática as «Boas Práticas» desenvolvidas pelas escolas, na manutenção diária de contextos escolares seguros e na implementação dos respectivos Projectos Educativos para a promoção do sucesso escolar dos seus alunos."


Sabendo já que a ministra vai apresentar um novo estatuto do estudante não superior que visa, segundo a própria, reforçar a autoridade do professor, mas que vem na prática aumentar o carácter punitivo das medidas perante a violência e indisciplina, escusou-se o PCP a apadrinhar tal iniciativa, tal como se escusou a fazer o número mediático do tudo vai bem, assinando de cruz como outros fizeram um documento do mais alto teor hipócrita. Vejamos: seria justo o PCP e PSD assinarem e votarem favoravelmente um documento que diz que é precisa uma nova lei de autonomia, quando sabemos que defendem o contrário nesta matéria? Seria justo, a bem do bonito (mas inconsequente) consenso parlamentar, o PCP assinar e votar favoravelmente um documento que aponta para a generalização dos meios de vidoe-vigilância e de controlo pessoal do estudantes como forma de responder à violência escolar, ignorando que a violência é um fenómeno da sociedade, amplificado pelas injustiças e contradições do sistema capitalista, apenas escondendo e reprimindo ou expulsando aqueles que são os filhos das injustiças?

resultado final:

Conclusões: a favor - PSD, PS, CDS e BE; abstenção - PCP
Parecer (alínea d): a favor - PSD, CDS, PS e BE; abstenção - PCP.

para mais informações, à disposição, claro!

Tuesday, April 24, 2007

chantilly

É impressioante verificar nos actos, as teorias que vamos, ao longo dos tempos, formulando. É impressionante como se comprovam determinadas hipóteses com a persistente afirmação de uma realidade que teima em dar-nos razão.

O comportamento de uma esquerda que já não é sequer nata, é chantilly, porque se vem refinando, é um caso digno de estudo objectivo para avisar a malta, sim porque é preciso avisar. Mais que nunca é preciso avisar.

É verdade que temos uma esquerda jovem, irreverente e revolucionária na política portuguesa, com representação no seio da nossa tão querida assembleia da república, uma esquerda criativa, capaz de dar as respostas novas ao que é novo, mas saber admitir com seriedade que se devem manter as perspectivas perante cenários que se mantêm inalterados, ao invés de permanentemente buscar a sensação, o mediatismo, o facilitismo.

Também é verdade que temos uma esquerda de direita, uma esquerda mentirosa, falsa, próxima dos anelídeos(*) no que toca à ausência da espinha dorsal, mas ainda mais próxima dos nematelmintes(**) pela óbvia semelhança parasítica.

Não deixa, no entanto de ser verdade que também existe o Bloco de Esquerda, famigerado produto dos impactos mais ou menos passageiros da sua intervenção mediática, já que outras não se lhe conhecem a não ser a já fatigante, mas reconhecidamente perseverante, atitude anticomunista e anti-sindicalista.

Deste vos venho falar, breve prometo, para não entediar amigos e amigas que por aqui possam passar.

Teve lugar hoje mesmo, há menos de um par de horas, a reunião da Comissão Parlamentar de Ciência, Educação e Cultura, onde se discutia, entre outras matérias, a violência nas escolas. Pois havia decidido aquela mesma comissão há uns tempos atrás quando corria o mês de Janeiro, colocar aquele assunto na agenda, fazendo o óbvio frete a um Governo que se preparava já então para apresentar um novo Estatuto do Estudante não Superior, onde se inclui o estatuto disciplinar do tal estudante, claro está.

Pois é então normal que o PS e o PSD manifestem amplo acordo na definição de uma estratégia central de combate à violência nas escolas, sob a capa da preocupação social e do consenso em torno de questões que se querem tudo menos fracturantes. É então que o PS apresenta um relatório que coloca o Estado como último responsável pela violência nas escolas. Escusado será pois dizer porque lhe reconhece tanto mérito o outro PS, o PSD.

Nada digno de registo. A não ser mesmo o comportamento do Bloco de Esquerda. Da tal esquerda decrépita cuja força motriz nunca deixou de ser o anticomunismo mas a que se vai juntando uma outra, a da cedência galopante aos fascínios da burguesia e do estatuto parlamentar de dizer sempre, não o que é verdade, mas o que fica bem. Ora, tendo em conta que era bem mais fácil votar a favor de tudo quanto ali se dissesse porque afinal de contas, a comunicação social não mostrará as propostas – dirá apenas que se votou um pacote de medidas contra a violência escolar – ingrato seria o papel, como o do PCP, daqueles que optam pela seriedade e pela consistência das suas posições.

Da operação de propaganda hoje montada na Assembleia da República, tristes registos nos ficam. E, no entanto, com tanto para deles aprender.


(*) anelídeos: vermes pertencentes ao Filo Annelida, cuja característica principal é (à parte obviamente de serem invertebrados) terem o corpo segmentado, possuindo muitas vezes os órgaos internos reproduzidos em cada um desses segmentos. Esses segmentos, tendo em conta a natureza cilíndrica do corpo destes animais, têm uma forma anelar, dái o nome do Filo.
(**) Nematelmintes ou nemátodos, são os animais do Filo Nematelminthes, vermes cilíndricos de corpo não segmentado, onde se incluem, entre outros parasitas, as comuns lombrigas.