É impressioante verificar nos actos, as teorias que vamos, ao longo dos tempos, formulando. É impressionante como se comprovam determinadas hipóteses com a persistente afirmação de uma realidade que teima em dar-nos razão.
O comportamento de uma esquerda que já não é sequer nata, é chantilly, porque se vem refinando, é um caso digno de estudo objectivo para avisar a malta, sim porque é preciso avisar. Mais que nunca é preciso avisar.
É verdade que temos uma esquerda jovem, irreverente e revolucionária na política portuguesa, com representação no seio da nossa tão querida assembleia da república, uma esquerda criativa, capaz de dar as respostas novas ao que é novo, mas saber admitir com seriedade que se devem manter as perspectivas perante cenários que se mantêm inalterados, ao invés de permanentemente buscar a sensação, o mediatismo, o facilitismo.
Também é verdade que temos uma esquerda de direita, uma esquerda mentirosa, falsa, próxima dos anelídeos(*) no que toca à ausência da espinha dorsal, mas ainda mais próxima dos nematelmintes(**) pela óbvia semelhança parasítica.
Não deixa, no entanto de ser verdade que também existe o Bloco de Esquerda, famigerado produto dos impactos mais ou menos passageiros da sua intervenção mediática, já que outras não se lhe conhecem a não ser a já fatigante, mas reconhecidamente perseverante, atitude anticomunista e anti-sindicalista.
Deste vos venho falar, breve prometo, para não entediar amigos e amigas que por aqui possam passar.
Teve lugar hoje mesmo, há menos de um par de horas, a reunião da Comissão Parlamentar de Ciência, Educação e Cultura, onde se discutia, entre outras matérias, a violência nas escolas. Pois havia decidido aquela mesma comissão há uns tempos atrás quando corria o mês de Janeiro, colocar aquele assunto na agenda, fazendo o óbvio frete a um Governo que se preparava já então para apresentar um novo Estatuto do Estudante não Superior, onde se inclui o estatuto disciplinar do tal estudante, claro está.
Pois é então normal que o PS e o PSD manifestem amplo acordo na definição de uma estratégia central de combate à violência nas escolas, sob a capa da preocupação social e do consenso em torno de questões que se querem tudo menos fracturantes. É então que o PS apresenta um relatório que coloca o Estado como último responsável pela violência nas escolas. Escusado será pois dizer porque lhe reconhece tanto mérito o outro PS, o PSD.
Nada digno de registo. A não ser mesmo o comportamento do Bloco de Esquerda. Da tal esquerda decrépita cuja força motriz nunca deixou de ser o anticomunismo mas a que se vai juntando uma outra, a da cedência galopante aos fascínios da burguesia e do estatuto parlamentar de dizer sempre, não o que é verdade, mas o que fica bem. Ora, tendo em conta que era bem mais fácil votar a favor de tudo quanto ali se dissesse porque afinal de contas, a comunicação social não mostrará as propostas – dirá apenas que se votou um pacote de medidas contra a violência escolar – ingrato seria o papel, como o do PCP, daqueles que optam pela seriedade e pela consistência das suas posições.
Da operação de propaganda hoje montada na Assembleia da República, tristes registos nos ficam. E, no entanto, com tanto para deles aprender.
(*) anelídeos: vermes pertencentes ao Filo Annelida, cuja característica principal é (à parte obviamente de serem invertebrados) terem o corpo segmentado, possuindo muitas vezes os órgaos internos reproduzidos em cada um desses segmentos. Esses segmentos, tendo em conta a natureza cilíndrica do corpo destes animais, têm uma forma anelar, dái o nome do Filo.
(**) Nematelmintes ou nemátodos, são os animais do Filo Nematelminthes, vermes cilíndricos de corpo não segmentado, onde se incluem, entre outros parasitas, as comuns lombrigas.
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1 comment:
Nao se percebe é o que foi votado...
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