Monday, October 01, 2007

ICN(plano)B

Enquanto comunistas, a relação das populações humanas com a Natureza é uma das questões centrais com que nos cruzamos, mas também a relação do Estado com os recursos naturais e com o território constituem aspectos centrais de uma análise que em tudo difere da perspectiva capitalista, perspectiva essa que o actual governo, como os anteriores, tem aplicado.

Na verdade, se atentarmos às políticas dos últimos governos em matéria de Ambiente e ordenamento do território, facilmente verificamos que essa política assenta em dois vectores estruturais que são a trave mestra da política de direita. Esses dois vectores são:

1. a política do abandono do território e do afastamento das populações das áreas protegidas, conduzindo a uma situação de crescente degradação. Uma perspectiva que redunda no não usufruto democrático dos recursos e da Natureza, quer em termos económicos, quer em termos sociais. Frequentemente, as áreas protegidas acabam por representar um impedimento objectivo ao desenvolvimento de práticas milenares ou centenárias das populações autóctones sem que daí resulte uma valorização do território para o país. Pelo contrário, esta política do abandono do território e das áreas protegidas acaba por provocar também a degradação física das áreas protegidas, já que, afastadas que se encontram das populações e do Estado, não existe verdadeira intervenção de manutenção nem de promoção dos valores ambientais.

2. a política de entrega e venda a retalho do território e das áreas protegidas, nomeadamente dos valores e recursos naturais, do solo ao sub-solo, e mesmo da atmosfera. Aparentemente contraditória com a política do abandono, não o é de facto. A entrega do território nacional a interesses privados que se estendem desde a exploração e extracção de recursos naturais até aos enormes projectos turísticos acaba por ser um dos possíveis resultados da retirada do Estado e das populações. O capital permite-se à destruição da Natureza com a complacência do Estado e ainda consegue apoderar-se das porções intactas ou semi-intactas para seu usufruto exclusivo.

A estratégia política deste governo, no entanto, atingiu um novo patamar no que toca à relação do Estado com a Natureza. Sem que abandone os dois vectores já referidos, o Governo avança numa perspectiva ainda mais liberal, permitindo ao capital e aos interesses privados, não só a capacidade de utilização dos recursos naturais a seu bel-prazer, mas também a participação directa na sua gestão. Isto representa que o actual momento histórico acarreta a possibilidade de obtenção de lucro através de uma actividade que antes não apresentava esse potencial no passado. Assim, os interesses privados acentuam a sua vontade de interferir directamente na gestão da Natureza. É exactamente isso que começa a acontecer com a reestruturação do ICN em ICN(B). O governo afirma claramente que a nova filosofia que preside ao ICN é a da proliferação daquilo a que o governo chama as parcerias público-privadas e que, a experiência bem nos mostra que na realidade são privatizações e concessões. A visitação e a gestão serão inseridas nessas tais de parcerias – numa entrega do ouro ao ladrão. A fiscalização permanecerá competência exclusiva do Estado, mas só porque a lei não permite o contrário. O Governo entrega aos interesses que delapidam a Natureza a sua gestão. Quer sejam da indústria extractiva, do serviço turístico de luxo ou da produção florestal, aí estarão esses agentes da destruição a gerir os parques naturais.



nota: Na IX e X legislatura, o PCP apresentou mais de uma dezena de projectos de lei, diversos projectos de resolução e apreciações parlamentares e várias dezenas de requerimentos relativos à gestão territorial, à conservação da Natureza e à política de ambiente. Projectos que vão desde a criação de áreas protegidas à alteração das normas do ordenamento do território. O PCP questionou directamente o Ministro do Ambiente sobre a reestruturação do ICN, sobre as condições de trabalho dos vigilantes da natureza, sobre os meios de que dispõem diversos parques naturais, sobre atropelos à lei no seio dos Parques; mas também através de perguntas escritas ao governo colocou um sem número de questões sobre o papel do governo na preservação da natureza.

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