"alteração do paradigma de ensino baseado na transmissão de conhecimento para a aquisição de competências" é um chavão comum, parte integrante das frases que - sem nos darmos conta - passam a integrar o quotidiano da mensagem política sem que sequer as questionemos.
Porém, uma reflexão, ainda que curta, sobre o chavão, rapidamente descobre o pendor de classe que o enforma. Reparemos: "um paradigma de ensino baseado na aquisição de competências" por oposição a um suposto "paradigma de ensino centrado na transmissão de conhecimento"; que significa? Significa que esta afirmação aparentemente inócua começa por criar a ilusão de que existe uma inevitável clivagem entre o saber académico e o saber aplicado, clivagem que é em si mesma questionável. Se é certo que o sistema capitalista entende o processo de ensino/aprendizagem apenas como uma ferramenta para a reprodução e intensificação das relações sociais de exploração do Trabalho e que, como tal, o conhecimento e a sua aplicação são coisas distintas, o mesmo não se pode dizer que seja aplicável a todas as formas de organização social.
Aceitar este chavão é aceitar, ainda que inconscientemente, que o Saber e a sua aplicação não podem conviver. Que a uns cabe o Conhecimento, aos restantes a competência. Ou seja, a uns cabe determinar as regras e aos outros apenas saber cumpri-las.
Do ponto de vista da superação do Capitalismo, saber e competência são indissociáveis na medida em que a Humanidade só tem a perder com a limitação do conhecimento e com a compartimentação e segmentação do conhecimento. Aliás, a segmentação e compartimentação do processo produtivo deve ser acompanhada de uma cada vez maior abrangência do Saber e de uma elevação transversal da consciência humana. Com isso, todas as forças produtivas evoluem muito mais rapidamente.
Com o contrário, a segmentação, a estagnação social e a manutenção das relações de exploração tende a agudizar-se ou pelo menos persistir.
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