O espaço da extrema-direita
Um olhar sobre a história recente da humanidade denuncia as tendências do capitalismo, por ter sido também este a dominá-la. Analisar a história do século XX é, em grande parte, olhar o capitalismo, da sua fase infantil após as embrionárias da revolução industrial, à sua fase mais avançada que hoje ainda tem expressão. Claro que a história do século XX é marcada pela maior insurreição dos trabalhadores que o mundo já conheceu, uma insurreição que daria origem a um Estado Proletário, no rumo do socialismo e do comunismo.
No entanto, é inegável que também merece bastante destaque o avanço do capitalismo, a sua consolidação, contando claro, com as adversidades com que sempre se deparou no quadro da luta de classes, e dos obstáculos anti-capitalistas e anti-imperialistas com que se foi cruzando.
Claro que o que mais marca a história, ainda hoje, é exactamente o confronto incontornável entre as classes de interesses antagónicos, entre os dois pólos das relações de produção, trabalhadores e os detentores de capital. Mas as grandes experiências socialistas fracassaram perante a dimensão titânica que os estados do capital conseguiram alcançar e perante, claro, outros mecanismos que conseguiram criar.
A luta de classes continua a ser o eixo fundamental da história, quer durante os avanços, quer durante os recuos ou crises do capitalismo. Se atentarmos às mais graves crises do capitalismo, veremos que o sistema está disposto a procurar e utilizar formas de organização e exercício políticas que, não sendo as suas opções primárias, constituem os seus braços fortes em ocasiões de desequilíbrio.
O capitalismo, na senda da sua perpetuação enquanto sistema dominante e no aprofundamento da sua capacidade predatória não hesita em recorrer a métodos de ofensiva aberta, deixando a sua posição mais típica em que aplica uma ofensiva mais encapotada.
Perante os graves desequilíbrios dos anos 30, por exemplo, o capitalismo viu-se forçado a criar e a promover forças políticas fascistas, que foram em muitos casos o garante da sobrevivência do próprio sistema. O Capitalismo poderia ter enfrentado uma derrota irrecuperável caso não tivesse existido o contrabalanço do nazi-fascismo, que veio repor privilégios perdidos do capital e das classes que o sustentam, com ramificações por toda a Europa.
O capitalismo, após essa sua fase de promoção da extrema-direita de forma acentuada, preferiu recorrer a métodos menos claros, utilizando, em muitos casos, o próprio sistema democrático, apoiando ditadores, como foi hábito em países espalhados por todo o mundo. Um outro recurso foi a intervenção militar e a agressão, garantindo que o sistema capitalista se podia apoderar de recursos e riquezas naturais dos países mais fracos.
No entanto, só precedendo grandes crises do capitalismo, o próprio sistema decide atribuir importância à extrema-direita, ou melhor, decide deixar-lhe espaço para proliferar e para crescer. No geral, o sistema capitalista consegue sustentar-se na base das falsas democracias, das chamadas democracias ocidentais. Nestes espaços, o poder capitalista consegue, no essencial, promover a sua política, simultaneamente, alimentando a necessidade de qualidade de vida das burguesias em que assenta e aumentando a sua influência sobre outros países que se situam fora da esfera dos ditos civilizados.
No entanto, em períodos de grande crise, as democracias burguesas podem não ser suficientes para garantir o controlo de massas que o capitalismo exige em determinados momentos de maior desequilíbrio no seu próprio sistema. Nesses casos, o leque de recursos do capitalismo abre-se significativamente. A violência, a repressão, a opressão, a censura, a tortura, a eliminação tornam-se instrumentos comuns. Por outras palavras, quando a guerra, as invasões, o saque e a predação não são suficientes para restabelecer o equilíbrio no sistema capitalista, o fascismo e o nazismo servem bastante bem esse desígnio.
O que presenciamos neste momento, na “terra dos valores novos e humanos” – Europa – é exactamente o recrudescer do mais intolerante fascismo. O capital está, de certo modo, a conseguir incutir uma moral como raramente conseguirá ter feito. São muitos aqueles que já alimentam a guerra entre Ocidente e Oriente, Cristo e Maomé, Deus e Alá, Bíblia e Corão nas suas próprias cabeças. E é isso que representa um avanço da extrema-direita. A forma irascível como este assunto tem vindo a ser tratado na comunicação social, pelos próprios governos, pelos clarividentes de algibeira, oops perdão, comentadores políticos, revela exactamente que se tem tentado por todos os meios, exaltar os ódios de ambos os lados.
A extrema-direita, frente de batalha do imperialismo nos momentos mais duros, aí está em força a cumprir o seu papel. Espalhar o ódio e o fundamentalismo. Aqui e lá. É que aqui também existe fundamentalismo e fanatismo, não é só no médio-oriente.
Basta atentar à forma como nos consideramos socialmente superiores aos países do Islão, para detectar fundamentalismo. Basta olhar as páginas dos jornais e ver homens e mulheres chorando e rastejando pelo chão pedindo milagres a nossa senhora em fátima… que pensariam estes se um qualquer cartoonista espetasse com a irmã Lúcia a torturar prisioneiros em Guantanamo?
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2 comments:
E' bem dito! Esta questao dos choques das civilizacoes e uma manha proto-fascista e xenofoba com um verniz de respeitabilidade academica e jornalistica.
Sera que o capitalismo projecta novos fascismos para o nosso futuro? A historia nao se repete, e acho que os fascismos que vieram, se ja nao ai estao serao de ordem diferente - serao mais propaganda e menos coercao, serao mais disciplina interiorizada e menos policiais. Com ou sem extrema direita, o capitalismo continua genocida e opressor, os campos de concentracao estao no terceiro mundo para quem os quiser ver.
desculpa, pólux... podes relembrar-me onde estava isso que já não me lembro onde fiz o comment.
um abraço. ainda bem que gostaste do artigo. (já vi que a voz da pedra transborda versos... visita a minha - open-sourcepoetry.blogspot.com - e espero que gostes.
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