Recorrentemente, à medida que nos aproximamos de momentos eleitorais, as sondagens sobre a intenção de voto da população começam a ser instrumentalizadas com maior intensidade.
Durante o mandato do Partido Socialista, com o PSD em destroços no plano da liderança, as sondagens não podiam fazer dissipar as intenções de voto do Partido Socialista. A estabilidade eleitoral era apresentada como um apoio silencioso ao governo. Incompreensivelmente, segundo as sondagens o Partido Socialista arrecadaria sempre grande parte dos votos - o que era justificado pelos fazedores de opinião e outros iluminados acima de toda a suspeita com a ausência de alternativas à direita.
O que mudou agora?
Por um lado a aproximação temporal de períodos eleitorais. Por outro, a alteração das características conjunturais de alguns partidos da "oposição". Ora vejamos: as peças começam a mover-se no tabuleiro da política nacional. As posições alinham-se na defesa de um sistema estável, sempre em conformidade com as grandes orientações dos grandes interesses económicos e do directório europeu. Importa mobilizar todos os esforços para que o poder político português mantenha o povo contido entre as linhas de delimitação do campo neo-liberal e à mercê da exploração.
Vejamos o que está mudar: o PSD está a sofrer um autêntico lifting mediático, um branqueamento. A imagem de Ferreira Leite, depois de Ministra da Educação proto-fascista; passando por Ministra das Finanças da desumanidade e do desastre técnico, passa a santa aparecida do rigor e da austeridade competente. Com isto, o sistema promove uma real força de alternativa eleitoral ao PS, sem permitir o surgimento da alternativa política. Ao mesmo tempo, ainda que nas costas da população, o bloco central partidário - representante claro do bloco central de interesses - vai-se posicionando para assumir, se necessário, um Governo de "união nacional".
No outro plano, ou seja, no Plano B do capital, vão-se ensaiando as outras "alternativas" do sistema. Manuel Alegre cumpre o papel histórico que lhe coube e que assume com diligência a cada vez que tal lhe é exigido. O Bloco de Esquerda começa finalmente a mostrar a sua verdadeira face de reformista e de bolsa de contenção e reorientação do descontentamento. As suas campanhas anti-sindicais, o seu discurso anti-partidos denunciam perfeitamente o seu alinhamento com as orientações reaccionárias. Mas mais que isso, as movimentações premeditadas do BE e de forças mais obscuras da chamada "esquerda" começam a ensaiar os típicos golpes para que o poder nunca caia de facto nas mãos dos trabalhadores. A burguesia destacada, a pequena-burguesia e as elites da pequena-burguesia de fachada pseudo-socialista começa a assumir os postos nas alturas em que o proletariado avança mais na luta, particularmente nas alturas em que a luta de massas assume dimensões de grande importância. O engrandecimento artifical do BE, promovido por estes golpes mediáticos e pela manipulação de informação, acompanhados por uma objectiva e cada vez mais clara promoção na Comunicação Social Dominante é aliás a própria resposta da burguesia à luta popular. Ou seja, que o descontentamento encontre sempre uma resposta que bloqueie o desenvolvimento da consciência de classe - uma fase de retardamento e contenção.
As sondagens, à medida que nos aproximamos das eleições, tendem sempre a dar uma votação superior ao BE do que ao PCP, não fossem elas concebidas e executadas pelas mesmas forças que são motor e sustento do próprio BE. Mas a realidade desmente sempre as sondagens com significativas margens. Esperemos que o reforço da luta desague como um rio no aumento da consciência de classe. Mas o trabalho que temos pela frente não é fácil - a inevitabilidade histórica não está balizada no tempo, nem tampouco sabemos se o tempo chegará para atingirmos a sua concretização. Mas o que sabemos é que os processos históricos não cessam, podem acelerar ou desacelerar, mas são sempre inexoráveis e irrevogáveis. E desses processos, os protagonistas não são as franjas da burguesia, de esquerda ou de direita; mas sim os trabalhadores e os povos de todo o mundo.
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3 comments:
Nunca foi, não está a ser, nem nunca será FÀCIL!
É preciso que estejamos bem conscientes disso, e quando nos parecer, que está a ser FÀCIL, é melhor DESCONFIAR!
Não é mania minha:-são mesmo todos contra um, o alvo somos nós!
Excelente texto!
As sondagens são, cada vez menos, elementos de avaliação das intenções de voto dos eleitores e, cada vez mais, instrumentos de encaminhamento do voto no sentido que interessa a quem as paga; são, e de que maneira, um poderoso instrumento de caça ao voto na política de direita.
Abraço amigo.
A impunidade do BEs acabou! Agora, meterem-se com O GLORIOSO vai mesmo doer...
http://anti-trollurbano.blogspot.com/
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