Wednesday, September 07, 2011

Elogio da mediocridade

A sociedade não corrompe o Homem, porque o não existe Homem sem sociedade. O "bom selvagem" não é mais que uma hipótese vã, sustentada numa ideia impossível de materializar.

A utilidade da tese, por mais generosa que seja, é próxima de nula quando dela não pode resultar mais que uma divagação. Ou seja, independentemente da veracidade da teoria, pode não se verificar a sua utilidade.

Mas a Sociedade não molda o Homem de forma diferente do que a Humanidade molda a sua organização social. Aliás, a sociedade é o Homem e o Homem é a sociedade, o indivíduo é o colectivo e o colectivo é o indivíduo, na medida em que ambos se influenciam em permanente dinâmica.

A Sociedade capitalista não é um demónio. É apenas o resultado concreto da evolução das relações sociais e materiais, resultado actual dos movimentos da luta de classes ao longo dos séculos e das eras. Mas é uma sociedade medíocre, que limita o crescimento do Ser Humano, que impede o florescimento da nossa alma, dos nossos plenos sorrisos. A Sociedade capitalista é a sociedade que faz do vazio, do supérfluo, da ignorância, do egoísmo e da violência as características mais destacadas dos homens e mulheres.

O capitalismo, a cultura das suas classes dominantes, assenta nas característcias do Ser Humano, costumamos ouvir dizer. Na Natureza Humana, sussurram-nos diariamente como que em jeito de lavagem cerebral. E no entanto, ninguém pode negar que a Natureza humana é coisa que não existe considerada por si só, fora do meio, independentemente do ambiente e das componentes sociais. Assim, partindo do princípio que a natureza humana é, em si mesma, uma causa e uma consequência, todo o processo dialético da construção do ser humano se torna mais decifrável. A natureza do Homem é múltipla, diversa, mutável e complexa.

É verdade que se pode afirmar que o Homem é um animal com tendência para o egoísmo, para a violência, para a corrupção, para a disputa, a preguiça, a cobiça e a ganância? Sim, é verdade que se pode afirmar que, principalmente após a constituição da propriedade privada como base da organização social dos Homens, as classes dominantes manifestam essas características de forma aguda. O capitalismo, no seguimento de outras formas de organização baseada na propriedade e na exploração do esforço alheio, exacerbou essas características na sua classe dominante, mas teve a capacidade de acelerar a sua difusão para as classes exploradas. O que não é estranho, antes pelo contrário, é natural. A moral burguesa, a cultura burguesa, o comportamento social burguês são incutidos em todas as camadas da população como únicas formas de viver, de estar.

Mas não é menos verdade que o Homem é um animal com tendência para o altruismo, para a cooperação, para a amizade, para o amor, para a arte, para a alegria, para o trabalho empenhado. Ninguém poderá negar isso, mesmo num contexto em que não existem praticamente estímulos na cultura dominante para que assim nos comportemos e que, salvo as organizações progressistas e revolucionárias, salvo o mundo do trabalho entre iguais, raras são as oportunidades de estimular essas características nas pessoas. O dia-a-dia é passado em ambiente hóstil para o indivíduo e para o colectivo e apenas alguns momentos existem para contrariar essa torrente de egoísmo que a sociedade capitalista gera e torna cada vez mais caudalosa.

A sociedade capitalista é o elogio da mediocridade humana. E a mediocridade existe e sempre existirá. A grande questão que nos devemos colocar é: devemos contentar-nos com uma sociedade baseada na mediocridade, que estimula o pior do que temos, ou ansiar a sua superação por uma sociedade baseada na elevação da consciência dos homens e das mulheres, assente no estímulo das melhores características que temos. Da mesma forma que o Homem consegue ser solidário, amigo, alegre, criativo mesmo rompendo com o formato da sociedade capitalista, óbvio será que no socialismo, não desaparecerão a agressividade, o egoísmo, a cobiça e a preguiça.

Porém, a sociedade crescerá com o Homem e o Homem com a sociedade e o meio determinará a preponderância de umas sobre as outras, como faz actualmente, mas ao contrário.

2 comments:

O TEU FLUVIÁRIO METE ÁGUA CAMARADA said...

Elogio da Irrealidade?
A sociedade não corrompe o Homem, porque o não existe Homem sem sociedade.
(esta 1ª tem ali um o que o não encaixa
mas adiante eremita é assi sub-homem e a criança-lobo um híbrido semi-macacóide?


O "bom selvagem" não é mais que uma hipótese vã, sustentada numa ideia impossível de materializar.
muito demodé....
1º o que é considerado sociedade
um núcleo familiar alargado não é por si uma sociedade humana?

uma tribo um clã continuam a ser sociedades válidas e com um sucesso muito maior que muito império em ruinas



A utilidade da tese, por mais generosa que seja, é próxima de nula quando dela não pode resultar mais que uma divagação.
isto também tem uma utilidade
diria mesmo vaga
mas vem com uma explicação acoplada


Ou seja, independentemente da veracidade da teoria, pode não se verificar a sua utilidade.

Mas a Sociedade não molda o Homem de forma diferente do que a Humanidade molda a sua organização social. A organização social imposta nunca teve grandes resultados
contrariamente aquela em que há uns consensos ancorados na tradição
biologicamente o ser gregário que é o homem é muito conservador nas relações sociais

devias ter comprado um Desmond Morris ou similar (Mead, em vez vez daqueles Lenines todos


Aliás, a sociedade é o Homem e o Homem é a sociedade, o indivíduo é o colectivo e o colectivo é o indivíduo, na medida em que ambos se influenciam em permanente dinâmica....nã
Behavioral Ecology: Social Organization in Fission–Fusion Societies
Scaling from individual movement and decision-making to population structure is central to ecology; recent studies of African elephant populations which have taken this approach have shed new light on how complex, multi-level social systems are organized.
Iain D. Couzin
In many group-living species, integrated movement decisions made by individuals scale up to group motion. Groups merge (fusion) or split (fission) as they move through the environment, making group composition a dynamic property. If individuals can modify the persistence of associations with certain others, complex higher-order social structure can result.

resumindo devias ter ido para biologia

as pedras se organizam socialmente não

Rui Silva said...

Olá Miguel
Creio que costumavas visitas o blogue 6'8'', que terminou.
Mudei-me para aqui:
http://o-companheirovasco.blogspot.com/

Fica o convite para passares "por lá".

Abraço e continua o excelente trabalho
Vasco