Saturday, September 23, 2006

Júdice Sabichão

Ontem tivemos todos a oportunidade de ler as doutas e sapientes palavras do Dr. José Miguel Júdice sobre a Juventude e o seu associativismo. Fomos abençoados pela sua extrema capacidade analítica e pelo seu conhecimento do quadro jurídico português. E assim, valeram bem os 80 cêntimos que pagámos pelo jornal “Público”.

Ora decidiu o Doutor escrever na segunda ou terceira página do jornal, local onde se ostenta a miserável coluna que lhe pertence, um artigo de opinião sobre o Associativismo Juvenil a que deu o título “De pequenino é que se torce o pepino”, leitura que aliás recomendo a todos.

Começo a passar os olhos, primeiro distraidamente como é mais habitual, depois séria e contraidamente, pelo texto. Começo a tornar-me impaciente e confesso que dirigi uns impropérios ao autor em voz baixa na mesa do café. Vontade não me falta de os voltar a invocar, mas este é um blog de respeito.

O Doutor demonstra um raciocínio tremendamente burguês e reaccionário, ao que se acrescenta uma brutal ignorância e aquele típico desprezo pela juventude que conhecemos quer nos ignorantes, quer nos reaccionários. Para ele, a nova lei do associativismo jovem, aprovada pela maioria da Assembleia da República, com os votos contra do PCP, do PEV e do BE, é um desbaratar de direitos para a juventude. Para este senhor, a nova lei traz demasiados privilégios para o associativismo juvenil e, mais, acrescenta o senhor, é um passo contra as responsabilidades dos cidadãos e contra a formação na cidadania.

Importa esclarecer que o PCP votou contra a referida lei por considerar que ela constitui um grande passo atrás no que toca ao anterior quadro legislativo. A lei do associativismo jovem do Partido Socialista não é mais que a abertura de caminhos para a ingerência estatal nos assuntos das associações juvenis, quer no plano financeiro, quer no plano da política e da actividade associativas. A lei prevê menos apoios para as associações de estudantes e não garante qualquer aumento no apoio ao associativismo juvenil de base local ou de âmbito sectorial. Importa referir que esta lei vem introduzir limites para o número de dirigentes por cada associação.

O Júdice achou que tudo isto era uma escandaleira. Segundo ele, agora os miúdos da primária iam começar a fazer associações só para ter benefícios fiscais, e as escolas passariam a ter mais de 4 ou 5 associações de estudantes, só para gozarem estatutos e disporem de espaços próprios. Para o senhor não existem limites de idade para integrar corpos gerentes das associações juvenis e o facto de o Estado apoiar este movimento associativo é inaceitável porque fomenta a desresponsabilização juvenil.

Esta verborreia que podem ler no “Público” e com ela pasmar não é dirigida, ao contrário do que possa parecer, ao governo nem ao PSD, nem ao CDS, partidos que aprovaram a lei e que assim revogaram a anterior. Insere-se numa bem articulada campanha contra a juventude e o movimento associativo. Para este senhor, o associativismo juvenil é apenas uma escolinha para os jovens das Jotas, onde fazem carreira profissional até chegar aos corredores do poder - “alguns até são deputados”, diz ele.

O que o Júdice não consegue disfarçar é um ódio genético ao associativismo e à participação democrática, no qual a juventude serviu como alvo preferencial. Mas além de não conseguir disfarçar esse ódio mesquinho, deixou completamente transparecer o seu total desconhecimento sobre o que escreveu.

1. Se o associativismo estudantil ou juvenil dá lugar à formação de quadros intervenientes na sociedade, que, porventura, assumem depois tarefas nos partidos, quem mal tem isso? Não será isso uma óptima forma de promover a cidadania?

2. Se o Júdice acha que miúdos da primária vão fazer associações para ter subsídios, não será porque ele é que pensa assim? Além do mais, os dirigentes associativos não podem ter menos de 16 anos, facto que, pelos vistos, o senhor desconhece.

3. Se ele acha que os estudantes agora vão fazer 3 ou 4 associações por escola, é porque ele quando era estudante devia ter esse desejo, mas desconhece no entanto, que a própria lei limita o número de associações de estudantes por instituição de ensino a 1 (uma).

4. Se o senhor Júdice pensa que as associações de estudantes só agora passaram a ter direito a dispor e gerir um espaço dentro das instalações da escola, também está muito enganado porque esse direito é-lhes consagrado por lei há quase 20 anos.

5. Mas este fazedor de opinião desconhece ainda mais: desconhece que são milhares e milhares os dirigentes associativos juvenis e estuidantis, que por esse país fora dinamizam aquilo que muitas vezes deveria caber ao Estado e às autarquias, desde o teatro, ao convívio e lazer, passando pelo desporto e pela actividade política e cultural. Desconhece que, desses milhares, apenas uma pequeníssima parte entra na vida partidária ou na via institucional dos órgãos de sobreania.

É pena que estes senhores, ditos acima de qualquer suspeita, possam escrever o que bem entendam nos jornais sem ter de prestar contas sobre a veracidade do que escrevem. Mas assim, se vê bem como para ilustrar tão injustas posições é necessário recorrer à mentira!

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