Thursday, March 13, 2008

A expressão da luta e a repressão

Vasco Cardoso escreve esta semana no Avante! um artigo de grande alcance que é importante relevar e para o qual apelo à leitura.

É importante compreender que a repressão e os mecanismos de propaganda ou ofensiva ideológica do sistema capitalista contra os povos têm um objectivo constante, embora se revistam de características diferentes consoante as momentâneas correlações de forças políticas e sociais e consoante o momento histórico a cada altura, fruto dessa correlação de forças. A repressão física, a prisão, a censura, a tortura e o assassinato, por exemplo, não são propriamente métodos abandonados. Na verdade, além de se continuarem a praticar em inúmeros países, são métodos aos quais os sistemas capitalistas recorrerão sempre que tiverem oportunidade ou sempre que não encontrem outra saída.

O fascismo, o nazismo e as suas ditaduras-filhas actuais são exemplos dos cursos que o capitalismo toma para se sustentar à custa dos povos. Acima de qualquer valor democrático, acima de qualquer noção de República, Estado ou Pátria, está a necessidade de crescimento e acumulação de capital por parte dos monopólios e grandes grupos que hoje dominam praticamente todo o mundo económico com os conhecidos reflexos no mundo social. Por isso mesmo, e como Vasco Cardoso explica claramente nesse artigo, rapidamente cai o véu da fachada democrática daqueles para quem a democracia não é senão um adorno do sistema. A democracia é um acessório que rapidamente se coloca de parte quando o essencial é colocado em causa. E o essencial é o lucro e o circuito de capitais que devem permanecer intocáveis. Aliás, a liberdade económica é a única liberdade que interessa e num quadro de assimétrica distribuição dos recursos, essa liberdade é sinónimo de imposição das regras dos mais fortes sobre os mais fracos.

A represssão cresce, portanto, na proporção directa da ofensiva e da luta. O agravemento das políticas de exploração, a desarticulação dos direitos dos trabalhadores, a precariezação do trabalho, a desregulamentação das relações laborais, a destruição dos serviços públicos, da saúde, da educação, as privatizações do sector energético, mineiro, das águas e dos transportes motivam lutas de dimensões imensas e de grande capacidade aglutinadora das massas que são estruturadas pela organização revolucionária dos trabalhadores - o PCP - e pelo contributo dos seus membros nas organizações sociais em que participam mas para as quais é o empenho e contributo de todos que contam.

O anti-comunismo, o autoritarismo e a prepotência são sinais de fraqueza, são sinais de debilidade e de manifesta carência de legitimidade democrática. Os comportamentos dos órgãos da comunicação social dominante, do governo e da corja de agentes "fazedores de opinião" são apenas o sinal de que a força começa a ser um requisito para que o governo e o capital consigam impor as suas orientações ao povo português. À falta de legitimidade democrática recorre-se rapidamente à legitimidade do bastão, do cárcere, da manipuação e da mentira.

O momento actual é de significativo crescimento das lutas de massas. As manifestações são de facto um elemento representativo do descontentamento e da revolta. A greve, no entanto, é a expressão máxima da luta legal dos trabalhadores, com ou sem manifestação de rua. E as greves sucedem-se, com impressionantes adesões. Greves de massas, como a greve geral e greves pontuais nas empresas privadas, na administração pública, no sector da educação, em estaleiros, em serviços, etc. A soma dos acontecimentos de luta é um mar de arrebatadoras ondas contra este Governo que, como se verá, não passa de um castelo de areia. E embora, como seria de esperar, eles vão dizendo que não se deixam afectar, os efeitos da luta são iniludíveis. A erosão política, a quebra da aparente solidez das orientações do Governo estão à vista. Os efeitos serão tanto mais significativos quanto maior for a luta.

Cumprir o nosso papel é estar à altura de desempenhar a nossa tarefa de ampliar a consciência dos trabalhadores e do povo e de motivar e organizar a sua luta contra a ofensiva. Mas é mais, é merecer a confiança dos homens, das mulheres e dos jovens para construir uma sociedade mais justa quando a ruína da actual for insuperável pelas suas respostas endógenas.

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