Hoje enquanto almoçava no habitual restaurante de domingo - "a faca" - tive o azar de me calhar o televisor à frente. Ainda pensei que pudessem passar umas notícias, mas afinal calhou-me um programa doentio sobre a Selecção Nacional de Futebol. A bem da verdade, sobre aquele conjunto de pessoas que esqueceu há muito o que é Portugal e o Povo Português e que hoje apenas nele vê mais uma oportunidade de sucesso. Esqueceram-se das ruas, das miúdas, dos copos com os amigos, da pobreza. Agora gostam dos porsches, das capas das revistas, da noite alucinada e das miúdas postiças. Que eles joguem à bola, tudo bem. Que ganhem muitos jogos, melhor ainda!
Que nós julguemos o estado do país e a nossa grandeza é que já me põe os nervos em franja. É que tudo gira em torno do futebol. Distraem-nos da situação do país, da pobreza, dos custos de vida, do código do trabalho; distraem-nos de tudo o que interessa para olharmos feitos parvos durante dias inteiros para um autocarro onde viaja um grupo de pessoas que, não jogassem bem à bola e ninguém os queria ver à frente. É a telenovela nacional.
Mas o que mais me chocou foi o título da segunda parte dessa reportagem: selecção no feminino. Pensei: "vá lá, depois desta parvoeira toda, vão passar uns minutos sobre a nossa selecção nacional de futebol feminino." Pois. mas não... Qual não é o meu espanto quando a reportagem se mostra sobre as namoradas ou mulheres dos membros da selecção nacional de futebol masculino. É uma autêntica vergonha. Mostrar ou destacar o empenho das mulheres no desporto e os sucessos mesmo contra ventos e marés? não... pois claro que não. Afinal de contas a televisão serve apenas para educar as massas na doutrina da classe dominante. E diz-nos essa doutrina que a mulher fica em casa a tratar das coisas do lar e que deve ser, se possível, boazona e algo fútil, sempre apoiando o marido para o que der e vier.
E assim, ao invés de divulgar aquelas mulheres que se esforçam por ser por si próprias a diferença, vá de mandar pelos nossos olhos adentro as mulheres dos jogadores. Essas sim, bonitas, postiças, caseiras e incondicionais apoiantes do sucesso de seus maridos. Em casa, tratam dos filhos, decoram o lugar do pendura do porsche e também ficam bem nos ferraris, aparecem no estádio nos dias do jogo e servem de cartão de visita e de placard publicitário para promover a imagem dos jogadores a ver se vendem mais umas botas da nike. E assim, o futebol indústria apagou o papel do futebol desporto. Assim a esposa do jogador apagou a papel da mulher.
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4 comments:
-E não é que no mesmo dia, e à mesma hora, as três principais estações de televisão,estavão dando, o mesmo programa!
Será falta de imaginação, ou a intenção era mesmo de embebedar?!
E ainda nem começou a gaita do campeonato...
Excelente post. Raspa a unha suja de camadas de verniz e mostra o sabugo!
Grande abraço
Disseste tudo.
Por causa das coisas já não ligo a televisão cá em casa há algum tempo.
E durante o estágio da selecção cá em Viseu foi uma histeria colectiva, infantilóide e aparvalhada.
Por mim podem perder. E rápido. Que é para o país voltar à realidade...
(Desculpa o desabafo!)
beijinhos
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