Começo a ficar sem títulos para os posts aqui afixados, tal não vai sendo o espanto que diariamente me assola. Ia para colocar "ao que isto chegou" e depois vi que era o título do anterior. Depois pensei "alguém me explica" mas reparei que algures no passado usei esses exactos termos para um outro post qualquer, tambem referente a uma sórdida situação, certamente.
Mas desta vez é que dava vontade de juntar os dois, e eis o resultado.
Ontem, no debate quinzenal com o Primeiro-Ministro desta cada vez mais desprezada República, veio o douto senhor engenheiro falar de crises financeiras, que tanto estão em voga. Pois claro, decidiu retractar-se, pensei ainda. Depois de tanto tempo a negar a existência da crise, depois de negar sistemáticamente e ignorar os avisos e anúncios do PCP para a fragilidade da nossa economia, depois de ridicularizar quaisquer propostas de intervenção do estado no sacrossanto mercado, vem nesta incómoda situação, reconhecer a bondade desses avisos.
Mas não.
Desengane-se quem julga que há réstia de honestidade no carácter deste sócrates e deste governo sujo e mentiroso. Os vermes não têm espinha nem escrúpulos. Depois de o PCP propôr por diversas vezes a limitação dos lucros da banca, o abandono do modelo do Estado Observador e a disciplina do mercado, e de tais propostas terem sido sempre e em cada momento recusadas pelo governo e de, em certas alturas, o governo chegar a dizer que o PCP tem medo do mercado, enquanto que o PS nele confia e assim o deixa fluir livremente, remetendo o Estado para um papel subalterno de mero observador, a que entretanto se foi chamando de Regulador.
Depois de tudo isso, dizia eu, vem o Governo anunciar a falência de uma ideologia. Nada que não soubéssemos, e nem tivemos - nós comunistas - que esperar pela actual crise, que essa falência é óbvia há décadas, senão séculos de história do capitalismo. Mas o que nos espanta é ouvir com tanto descaramento o primeiro ministro deste país, que sempre advogou o Estado mínimo, o estado leve, o livre desenvolvimento do mercado e a entrega das Entidades reguladoras aos próprios que devem por elas ser regulados, vir agora anunciar a falência da ideologia que tem perfilhado militante e religiosamente. Diz o Sr Primeiro Ministro que esta crise demonstra a falência do Modelo ideológico do Estado Mínimo (!!!).
Ao que chega a falta de vergonha. A conjuntura vai ditando a estes senhores o seu comportamento e sócrates esteve à altura do que lhe é exigido pelo seu patrão: o grande capital. para tal, bastou-lhe mentir e manter o ar sério de olhos semi-cerrados, tocante até. Bastou-lhe fingir-se defensor do Estado, quando é o seu carrasco. Dir-se-ia que roubou as lágrimas a um crocodilo, porque nem uma das suas palavras é verdadeira. Mentiroso.
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2 comments:
Excelente.
Excelente a revolta, a expressão que, no arrumo das palavras, ela tomou. Dando-lhe mais razão. E força.
Um grande abraço, camarada
Há casos em que a falta de vergonha é incomensurável...
Um abraço.
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