Falo-te de um mundo onde as mais incríveis atrocidades se cometem na impunidade. Falo-te de um paraíso há muito caído, onde homens receberem outros em sua própria terra. Terra sagrada, de tanto sangue por lá derramado, para a que deus virou as costas há muito.
Pensa num bom punhado de gente, que vê parte do seu país cedido, do seu chão entregue, da sua terra dada a outro punhado de gente, vítimas ambos das dificuldades mais áridas que possamos, eu e tu, imaginar. Uns sacrificados à loucura e à ganância, bodes expiatórios do capitalismo, chacinados, queimados, gaseados; outros vivendo sufocados pelas guerras mais antigas da história, no deserto das emoções dos países ricos, vezes sem conta reconstruíndo o seu próprio país.
Imagina um povo que aceita um Estado plantado no seu solo, que decide partilhar a terra com quem dela precisa e sempre a procurou. Um povo que recebe dentro do seu país, a pátria ensanguentada de um povo desterrado.
Imagina que a paz foi sacrificada em todas as cidades, em todos os altares, porque quem chegou de novo quis mais, quis em nome da sua bíblia de sangue e violência, ter a terra dos outros, não em harmonia, mas em absoluta hegemonia. Imagina que o teu convidado, te fica com a casa. Parece um mundo absurdo, um mundo diferente. Mas é este.
Imagina que além de te empurrar para fora da tua terra, sobre ela avança o seu domínio e que onde chega leva uma mão de aço, de tanques, de canhões, de desespero e agonia que mata, esmaga, viola, condena. Imagina que além de te tirarem a terra, te matam a família, desfazem a cara do teu pai com uma coronha, violam a tua mãe. Imagina que depois voltam e humilham-te à porta da tua própria casa, que te espancam, cospem e roubam. Imagina que quando encontras a tua mulher, ela está em sangue numa esquina esperando a morte porque um morteiro desfez a escola onde ela trabalhava. Imagina que os teus filhos devem ajoelhar-se diariamente ao invasor da tua terra para poderem deslocar-se entre casa e escola. Imagina que a tua lei, a lei do teu país, que construíste a passo e passo, foi esventrada pelas balas dos impérios poderosos que te olham como um animal, um animal pronto a sacrificar, a entrar nos rituais dos novos holocaustos purificadores, que uma qualquer bíblia escrita em nome de um deus desaparecido, assim ordenou. Bíblia da miséria, do desgosto, bíblia da ganância, da usurpação, bíblia do imperialismo.
Imagina que tudo isso se passa na tua terra. Não hoje. Mas todos os dias desde que acordaste. Não olharias de forma diferente para cada pedra que esvoaça furiosa contra os canhões?
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8 comments:
Que grande texto! Escrito com palavras que são pedras que esvoaçam, atiradas por tuas mãos,contra os canhões que não param de vomitar ódio.
Pedras cntra canhões como todos os dias desde que nasceram os que hoje lutam e exigem solidariedade, como todos os dias desde que nasceram os que ainda tiveram tempo de dar vida aos que hoje lutam, antes de uma bomba, antes - talvez - da entrega total a uma luta e a gestos de revolta desesperada.
Um grande abraço
Excelente! E já reenviado por email para vários contactos...
Estou absolutamente sem palavras perante este texto.
Comovente e duro, mas tão verdadeiro...
bjs
Imagino que se lá vivesse também eu arremessaria tudo, mas tudo o que tivesse à mão.
Enquanto isso as avestruzes enterram a cabeça...
"Raça" de texto bom!!!
Abraço
Infelizmente são momentos , que só sentidos se podem avaliar em profundidade.
Mas as imagens e a Historia falam por si...
E sim pegaria não numa mas varias pedras, que atiraria e atiro com toda a fúria contra estes monstros.
abraço do vale. grandes palavras as tuas.
O Bloco de Esquerda resolveu publicar uma notícia sobre Hugo Chavez e a aprovação pelo parlamento bolivariano duma emenda constitucional que permita a reeleição sem limite de mandatos não apenas para a Presidência da República Bolivariana, mas de vários titulares de cargos políticos como alcaides ou governadores, emenda essa que ainda terá de ser refendada pelo povo.
Pode ser consultada AQUI: http://www.esquerda.net/index.php?option=com_content&task=view&id=10395&Itemid=26
A notícia que o Bloco de Esquerda produz e que é tendenciosamente anti-Chavez, defindo o processo bolivariano com a expressão revolução socialista metida entre aspas, isto é: "revolução socialista". Está claro, porque da língua portuguesa, também percebo um pouco, como as aspas servem para perjorativamente darem a entender que, de socialista e de revolução, não há nada na venezuela. Se achassem que existisse, já não lhe punham "aspas", escreviam apenas revolução socialista.
Mal entendido ou teoria da conspiração? Infelizmente, a comprovar o mau juízo bloquista sobre a revolução bolivariana na Venezuela, está o eloquente facto de que, enquanto comentários pro-chavista à notícia foram censurados e excluídos, o Bloco de Esquerda, permite que um reaccionário comente:
"Que palhaçada! Oxalá o povo da Venezuela consiga correr com esse tirano!"...
Muito preocupado com a possível "reeleição ilimitada de Hugo Chavez" - como escrevem -cabe lembrar ao Bloco de Esquerda, que Francisco Louçã, Fernando Rosas, Miguel Portas ou Luís Fazenda (entre outros) têm concorrido ininterruptamente aos lugares de deputados desde 1999, exercendo os cargos e, provavelmente, virão ainda (e pelo menos) a concorrer em 2009 para se manterem reeleitos até 2013. É pena que, progressivamente, o BE esteja a saltar para a barricada daqueles que se opõem a Chavez e ao processo bolivariano.
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