É urgente quebrar as correntes que nos amarram ao porto do preconceito. Levantar a âncora e seguir em frente pelo mar da tolerância. É urgente avisar toda a gente que existe o controlo moral, o controlo psicológico e que essa é uma das bases para o controlo político e económico.
Vivemos em pleno sec XXI, num país europeu (ou não?) e dito desenvolvido. Vivemos, no entanto, com um terço da população abaixo do limite de pobreza e com uma das populações mais endividadas da Europa. Mas cá estamos. No limite do futuro, mas agarrados a bolores antigos.
Vivemos num pequeno país próximo da realidade antiga. Próximos de uma realidade que muitos julgam já ultrapassada. O Estado laico, sem relações privilegiadas com religião, é algo que merece a nossa maior atenção e o nosso mais empenhado alerta.
Ao fim de novas eleições, cá estamos de novo sem permitir que o problema do aborto clandestino seja discutido.
Os compromissos obscuros entre o Partido Socialista e entidades religiosas não permitem que este assunto seja tratado com a importância que deve ser. Não quer ter a responsabilidade perante os sectores mais retrógrados de assumir a despenalização do aborto. O outros, os berloques estavam convencidos de que poderiam ter mais um tempo de antena na ribalta das luzes em torno de um referendo! Estiveram-se nas tintas para as mulheres, pensaram exclusivamente no protagonismo que dali poderiam tirar.
Como é possível que ainda estejamos amarrados ao cais da imposição moral?
Como é possível que não se cobre a estes senhores que cumpram o dever básico de garantir a saúde das mulheres portuguesas, no momento em que tomam a decisão mais difícil das suas vidas?
Andamos a colocar a questão no plano ético e moral... e quem tem o direito de impor a sua moral a outro!? São os padres e as beatas? São as gajas do papel que vão abortar a Inglaterra? Quem pode vir meter grilhões na vida dos outros? Como pode um padreco apregoar na sua igreja que quem recorre ao aborto é pecador, sem nunca chamar pecador a quem mete as mulheres na situação de pobreza extrema ou de desamparo social? Como não é pecador o explorador que retira à mulher dez vez mais que aquilo que lhe paga? como não é pecador o governante que permite que milhares de mulheres e jovens mulheres não tenham acesso à informação, ao planeamento familiar e à contracepção gratuita? Porque não acusam de pecadores aqueles que rebentam o mundo, deixando milhões de famílias sem quaisquer condições para ter e suportar filhos?
Quem são esses corvos? Esses religiosos abutres empedernidos? Esses que espalham a desgraça e que fazem um dos papeis mais nojentos da sociedade quando acusam e julgam. Quando julgam eles os poderosos? Os que compram o seu lugar no céu, em belas quintas recheadas de cerejeiras? Porque não julgam eles a sua própria mãe, a igreja católica?
E porque raio continuamos a tolerar que os ranhosos do CDS espalhem a fé e a moral e a defesa da vida, quando são responsáveis por muitas mortes no Iraque? Como podem eles arrogar-se defensores da vida quando são os mais conservadores do actual sistema político? Mas quem são esses badamecos para virem dar lições de moral às mulheres portuguesas? Esses senhores que nasceram em berços de ouro e viveram toda a sua vida sob a soalheira dourada do latifúndio querem agora vir atar com a sua moral as mulheres encurraladas!
Abortem as mentes retrógradas e faça-se nascer um mundo de tolerância! Abortem as correntes da moral caduca e brotem flores nos ventres das mulheres!
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