Um globo dividido por um hemisfério abissal. Um risco invisível, mas um abismo colossal.
Como uma linha que separa uns dos outros, fendendo a Terra que pisamos desigualmente.
Aquelas praias de águas azuis, plantadas à beira das Repúblicas caribenhas, mas acessíveis exclusivamente aos senhores das monarquias europeias. Aqueles animais exóticos que salpicam savanas africanas onde habitam gentes negras do sol, mas visitados em carros e jipes por norte-americanos sedentos de hollywood. Aquelas pirâmides erguidas para o céu, ao serviço só do sábio turista, como as ruínas de antigos povos sábios andinos, ao serviço só de lara croft e outros viajantes de carteira gorda.
Onde descansam aquelas águas azuis, anda o povo na cana de açúcar de sol a sol. Onde passeiam os elefantes, girafas, leões, gnus e antílopes, andam os povos sedentos de água e arroz que um dia os colonos lhes tiraram. Onde três pirâmides ancestrais apontam o céu, andam os povos na monda do arroz, outros na monda do turista. Onde arqueo-cidades das culturas andinas hoje se escondem entre as belas florestas tropicais, anda o povo desde de criança com folha de coca na boca para entrar na mina escura e funda em busca do minério que não pode transformar em pão.
Onde existe riqueza natural, a economia é despedaçada. Os recursos naturais são, afinal de contas, o filão que nos sustenta em tão débil existência. Onde eles existem, esmagam-se as vontades dos povos, espezinham-se as organizações e estruturas de exploração. Substituem-se os engenhos por gigantescas destilarias. Os poços do médio-oriente canalizam tudo para ocidentais refinarias. Onde poderia existir uma mina, existe um poderoso complexo de exploração humana. Onde poderia existir pesca artesanal, enviam-se frotas estrangeiras que tudo arrastam. Nada já é do povo, nem dos povos.
A riqueza financeira dos países ditos desenvolvidos nada é sem a dita pobreza dos sub-desenvolvidos. A pobreza de espírito do ocidente nada é sem filmes e livros charlatães em que se ostentam as riquezas do oriente.
São países parasitas. Imperiais. Colonialistas. Ouvi um dia dizer: o imperialismo mais não é que uma fase avançada do colonialismo. Esta fórmula é um contributo. O imperialismo é a fase avançada do capitalismo. No entanto, sem dúvida, apresenta fortes traços do colonialismo. Esta fórmula leva-nos a crer que a mundialização do capitalismo, a sua aplicação imperialista, ressuscita as relações internacionais do tipo colonial. Ou seja, o capitalismo e o imperialismo mais não são que formas avançadas do colonialismo. Dissimuladas, mas no entanto, opressoras.
É por isso que as flores, que deviam erguer-se viçosas, murcham.
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