A ocupação continua, ainda que na TV não abra telejornais, nem se ouça nas rádios nem leia nos jornais. O exército mais poderoso do mundo, com a ajuda dos lacaios do imperialismo e com a cobertura da comunicação lá vai asfixiando um país, um povo e uma milenar cultura.
Nos jornais, no televisor, o Iraque é apenas um deserto, árido e vazio, sem sangue, sem vida. Nos jornais, o Iraque foi o país das armas de destruição maciça, das armas biológicas, da tirania, sempre um país de bárbaros terroristas que ali emergiam contra o mundo civilizado. Nos jornais e na tv, o Iraque sempre foi aquilo que o imperialismo quis que fosse. E mesmo agora, provadas que estão as mentiras alvitradas pela demência prepotente do capitalismo, o Iraque continua a ser um deserto por onde marcham, qual cruzados, os civilizados soldados do império.
O Iraque, a sua vida, as suas vidas, a sua resistência e o seu sangue derramado nas suas próprias ruas, não existe para as câmeras da Tv, nem para as objectivas dos jornais. Quanto muito pode existir um amputado de guerra em estado aflitivo para ganhar um prémio foto-jornalístico, mas a dor, essa, não existe nem nunca existiu porque, aliás, os terroristas não sentem dor.
O Iraque, afinal de contas, não tinha armas de destruição maciçaa. Nem tampouco se provaram quaisquer ligações a organizações terroristas internacionais. O Iraque, afinal, não dominava a arte das armas biológicas, nem tinha planos de promover uma Jihad contra o ocidente cristão. Afinal, o Iraque tinha era petróleo. Afinal o Iraque tinha rios de petróleo.
Afinal o Iraque tinha gente, gente sofrida de décadas de repressão. Afinal o Iraque tinha casas, prédios, afinal o Iraque não era apenas um deserto com terroristas, lá viviam crianças, mulheres e homens, trabalhadores e trabalhadoras. Afinal no Iraque também existiam árvores, jardins, escolas e hospitais.
Afinal os satélites da guerra dos senhores do petróleo, com a sua magnífica resolução xpto não apanharam o panorama iraquiano completo pior, só detectaram o que lá não estava. E hoje? quem lhes pede contas? Os mesmos de sempre: os povos e os trabalhadores. Anunciar o reconhecimento da mentira não é tarefa para as TV's, jornais ou rádios. Denunciar o genocídio não é desígnio dos que promoveram a guerra. Julgar os criminosos de mãos sangrentas não é típico da justiça capitalista. E hoje, promovem-se os assassinos. Barroso é senhor presidente (vómito), Bush é lorde da guerra e do petróleo, Blair é dama-de-ferro reciclada e não consta que Aznar apodreça numa prisão longe de sua casa.
Mas são os mesmos que, em todo o mundo souberam a mentira, que hoje lutam como antes. É o povo iraquiano em armas na defesa da sua pátria, soberania e independência que já deu milhares de filhos à sua terra, é o povo iraquiano sofrido e empobrecido que mastiga urânio na sua comida e o engole na sua água por mais milhões e milhões de anos no futuro. Mas são também muitos pelo mundo, os explorados que nasceram fora do Iraque. E podia ter tudo acontecido com eles. Não com a burguesia pseudo-socialista a quem o Iraque pouco importa. A esses não acontecem desgraças, porque a solidariedade burguesa passa fronteiras com aviões, enquanto a proletária voa o mundo apenas com a forçaa da razão e, por vezes, um pedaço de pão. Para esses o Iraque é história do passado, que lhes colocou fronhas no jornal quando era moda, para esses já só interessa o pós-Iraque. E o povo do Iraque que é hoje vanguarda do heroísmo anti-imperialista e que resiste com as armas que não tem contra a máquina esmagadora dos tanques de guerra e contra binóculos de infra-vermelhos, satélites de precisão, espingardas metralhadoras e canhões, contra o urânio cancerígeno e as armas dos patrões, ali continua de pé. E um dia ele escreverá a história do seu país, com novos jornais, rádios e Tv's.
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1 comment:
Se tiveres interesse no meu comentário à discussão de 21 de Março no Bitoque sobre o Iraque dá lá um salto.
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