Friday, February 01, 2008

"tenho a Sonae, a Amorim, os Pestana, os Espírito Santo e o Grupo Sapec no coração"

Beato, o Presidente da Câmara Municipal de Grândola veio a Setúbal insultar os Setubalenses. Não nos bastaram os 16 anos de sabujice, clientelismo e mau trabalho do seu amigo e colega Mata de Cáceres. Não bastaram. Ainda temos de aturar os tentáculos do Partido Socialista, braços voluntários do Governo, do alto das suas cátedras autárquicas de primário anti-comunismo virem à nossa terra esfregar o seu desdém na nossa cara.


Diz o Sr. Presidente da Câmara de Grândola que “Setúbal está no marasmo, parada e conformada”. Diz porque certamente não vem muito à margem norte do Sado. Talvez esteja demasiado ocupado a destruir a Península de Tróia e a impedir os setubalenses de lá porem os pés. Diz o Sr. Que “em jovem vinha passar férias a esta cidade [Setúbal] e a Tróia. Tenho Tróia no meu coração.” o que nos deixa claramente perceber que os seus tempos de jovem vão longe e que agora o seu coração deve estar bem longe de Setúbal para estar apenas em Tróia. E sendo que Tróia é do Belmiro, provavelmente este Presidente da Câmara de Grândola também tem o Belmiro no coração.


Vem então o Sr. Carlos Beato à nossa cidade em campanha eleitoral pelo seu partido, pelo seu governo. O tal governo que pune Setúbal como a poucos outros concelhos do país, que faz de Setúbal o alvo clássico da sua prepotência, da sua arrogância. O tal governo que em Setúbal, contra os órgãos municipais, contra as populações, contra a Natureza, o Mar, o Sado, a Arrábida, vem instalar uma incineradora de Resíduos Industriais Perigosos que mais não faz que satisfazer os caprichos imorais da própria cimenteira que despedaça a nossa serra diariamente sem que por isso nunca tenham sido beneficiados os setubalenses. O tal governo que impede as autarquias de Setúbal e Sesimbra de gerirem o seu próprio território porque o entrega à administração portuária. O tal governo que acaba de despedir, falhando com os compromissos assumidos pelo Estado, os mais de 200 trabalhadores da Erecta e Gestenave. O tal Governo que nos encerrou o SADU nos Hospital de S. Bernardo e que proibiu a pesca tradicional da Figueirinha ao Espichel.


É preciso, de facto, ter uma imensa falta de vergonha para vir imiscuir-se assim na vida do Concelho de Setúbal, defendendo uma perspectiva de desenvolvimento de submissão e de venda à peça do território nacional. Pode o Sr. Carlos Beato entender que cavalga a onda do progresso quando vende aos pedaços aquilo que é de todos, como fez (com a ajuda do anterior governo PSD/CDS-PP e do actual) com a Península de Tróia. Entende pois que alhear as populações do seu espaço natural, que retirar-nos as praias, que vedar as dunas para os ricos velhos nórdicos virem jogar o seu golfe e deixar o dinheirinho todo no belmiro, que implementar casinos, marinas, apartamentos de luxo em plenas reservas naturais, dunas primárias e sapais estuarinos é o cúmulo do desenvolvimento. Entende pois que entregar a população que representa à praga do trabalho precário e mal-pago, sem quaisquer direitos é alinhar no progresso. Pois entende mal, do nosso ponto de vista, Sr. Presidente. E dê-nos, por favor, permissão para ter uma opinião diferente para o desenvolvimento que preconizamos para a nossa cidade, sem que mereçamos da sua parte tão desfazadas e incompreensíveis críticas ao estado da nossa cidade e do nosso espírito colectivo.


“Não quero Setúbal a ver passar o Turismo.” ... Mas que tem o Sr. de querer ou deixar de querer? Acha mesmo que tem uma palavra a dizer no que toca ao projecto “troia resort”? E acha mesmo que tem alguma coisa a ver com o papel de Setúbal na sua relação com Tróia? Felizmente, longe vão os tempos em que Setúbal tinha na presidência da sua Câmara Municipal um balofo parasita que rapidamente acenaria que “sim” aos desejos mais obscuros dos promotores do “troia resort”, ao governo e a todos quantos demonstrassem ter mais poder que ele próprio. Felizmente, longe vão os tempos em que os setubalenses tinham de ouvir da boca do seu próprio Presidente da Câmara que “a co-incineração faz bem ao ambiente”. Portanto, como deve calcular, os setubalenses não têm agora que levar com a verborreia de encher dos primos, amigos e amigalhaços dessa gente que durante tanto tempo condenou Setúbal ao sub-desenvolvimento e que esbanjou os recursos da autarquia para que quem viesse a seguir fechasse a porta. Eu desafio-o, Sr. Presidente da Câmara de Grândola, a visualizar o vídeo de promoção do empreendimento da Sonae. Está disponível em Inglês e Português no site http://www.troiaresort.net/, e nesse procurar o número de vezes que aparecem referências a Setúbal. Verá que “Setúbal” aparece apenas uma vez por escrito, sem qualquer destaque, apenas como forma de identificar um mapa. E já agora, caro Sr. Presidente, procure quantas referências às tradições locais existem, a Grândola e até mesmo... aos famosos roazes corvineiros do Sado. Verá que afinal não é o Sr. que quer ou deixa de querer isto ou aquilo de Setúbal ou do resort. Está bem definido para a Sonae qual será o papel de Setúbal e de Grândola neste resort: o de fornecer a mão-de-obra barata, sazonal e precária para satisfazer apenas as necessidades de trabalho do resort.




Para os setubalenses o turismo é um elemento fulcral para o desenvolvimento económico da região. Mas não um turismo qualquer. Não o turismo que vive de arredar os setubalenses das suas práticas e tradições. Não um turismo que nos impeça de ir à amêijoa na caldeira, de levar a avó a pôr os pezinhos na água do rio na praia da Troia, de andar pela rua a cheirar a peixe, com as mulheres a gritar enquanto carregam fortemente os “rr”, não um turismo que nos impeça de nos estendermos ao sol nas dunas da Tróia, que nos afaste das toneiras, dos palhaços, das canas e dos carretos, que nos tire a Serra da Arrábida, e as festas da Tróia, que nos impeça de ir à praia onde fomos desde pequenos. Não. Não queremos ser os paquetes e os carregadores das malas dos velhotes nórdicos que frequentam campos de golfe onde deviam estar areais salgados, que nadam em piscinas onde antes espadanavam aves e cresciam ostras.. Não é esse turismo que queremos. Queremos um turismo que não nos afaste das nossas riquezas. Queremos um turismo em que os convidados estrangeiros convivam lado-a-lado com as nossas tradições, o nosso artesanato, as nossas vivências pitorescas, que sintam que pisam Portugal quando pisam a nossa terra. Um turismo que dinamize o tecido das pequenas e médias empresas, principalmente do pequeno comércio, que encha de tarde os cafés e as esplanadas, que passeie nas nossas avenidas. Um turismo que não se feche num resort, que saiba que existem ali pessoas que não são seus escravos. Um turismo que possa conhecer os nossos artefactos, gastronomia ou monumentos, sem ter de os conhecer em objectos feitos em taiwan, ou de os provar cozinhados com peixe congelado ou através de postais feitos numa tipografia chinesa..


Não, Sr. Presidente da Câmara Municipal de Grândola, Setúbal não está num marasmo, não está conformada com a política que lhe vem sendo imposta pelo governo que o Sr. aqui veio representar. Setúbal continua empenhada em lutar contra estas políticas e a prova disso é a própria concentração contra a co-incineração que juntou centenas de setubalenses empenhados na defesa do seu concelho e de uma perspectiva de desenvolvimento diferente. Não estamos parados aqui onde as pessoas começam finalmente a contar para alguma coisa, onde os jovens têm apoio ao invés de desprezo e chacota, onde o movimento associativo é impulsionador da vida da cidade: Torne a vir Setúbal com os olhos abertos e disponível para outra coisa que não seja dizer mal e passeie nas ruas da baixa que antes eram desertas, ou vá durante um fim de semana ao Parque do Bonfim, ao Parque da Algodeia ou ao Parque Verde da Bela Vista, aproveite e dê um salto às feiras e vendas no Rossio em Vila Nogueira de Azeitão. Só não verá se não quiser, Sr. Presidente da Câmara de Grândola que Setúbal parada e conformada nunca existiu e que tivemos foi 16 anos a pata do seu partido em cima, furando pela nossa terra a dentro com túneis, pontes, praças de pedra, todos inúteis que a pouco e pouco nos sufocavam. Mas felizmente respiramos de novo.


Leve o cais dos Ferry-boats para a base militar, tire a praia aos setubalenses, faça bom proveito das lagostas que comerá no casino e aproveite o caviar e a beluga da Sonae. Coma por todos nós uns pastelinhos nas inaugurações, mas deixe as cerimónias em Grândola onde certamente contará com alguma criadagem. Mas não se engane, Sr. Presidente, que a grandeza à custa dos outros é sempre sol de pouca dura e a história mostra-nos bem que o povo há-de, mais cedo ou mais trade, cobrar o que lhe foi sendo tirado. Em Grândola, terra serena, vila morena, não será diferente.


Fique com o seu desenvolvimento físico, com os resorts, as marinas, os casinos e os golfinhos mortos. Entregue as suas praias e a faixa costeira, mais as dunas e os areais, os sapos e as cegonhas, as halófitas e os sapais, ao Belmiro que reside, pelos vistos, no seu coração. Mas por favor, deixe de fora desse seu órgão cardíaco o nosso concelho e as nossas decisões. E permita-nos optar sem a sua sapiência balofa e essas orações.




10 comments:

Samir Machel said...

Tens mesmo de fazer posts redux...

O Beato está-se a fazer a Setúbal?

miguel said...

lol

tens toda a razão...
mas não segurei a emoção!

basicamente... parece que é isso mesmo.

Fernando Samuel said...

Excelente post. Parabéns.
Um abraço.

samuel said...

Grande texto!
(E não é piada ao tamanho...)

Abraço.

jal said...

Parabéns pelo longo (e ainda assim não suficiente para denunciar tudo) e belo texto.

Sobre o mesmo assunto:
http://www.rostos.pt/inicio2.asp?cronica=110604&mostra=2

É incrível como o PS tem tanta coragem - temos que reconhecer que não lhes deve ser fácil tamanha falta de vergonha.

Um abraço

beta said...

Claro que este texto foi divulgado e espalhado por Setubal!!!! (???) Claro que este texto já foi lido por meia Setubal! (???)
Cá voltarei! Um abraço

miguel said...

se leu, eu não sei. Tentei mandar para os jornais, mas nenhum mostrou interesse. À excepção de um que disse que publicaria se eu só tivesse enviado o texto para esse jornal. como eu enviei para mais, não o publicariam.

de qualquer das formas. quem quiser ler e divulgar...força.

um abraço

Anonymous said...
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Anonymous said...
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