Ora aí está mais uma bonita invenção de propaganda do nosso fantástico Ministério da Educação! Parece que hoje "pela primeira vez" é o dia do diploma, vejam bem. Podem obter mais informação aqui. Não fosse tão grave e isto mereceria da minha parte pouco mais que uma gargalhada pela patética iniciativa de propaganda. No entanto, não é isso que me motiva tão empolgante comemoração, porque ela é mais do que uma simples acção de propaganda do governo. A essas, as patéticas e desesperadas tentativas de limpar a face do governo com propaganda e recurso a figurantes e outros expedientes do mesmo grau de dignidade, já nós nos habituámos e já bem as reconhecemos. Por isso também sabemos bem que, por detrás dessas, pouco mais está senão uma tentativa gorada de enganar portugueses no sentido estrito de eleitores, para que vão em carreiro uma vez mais pôr a cruzinha no Partido Socialista e no rastejante Sócrates que deu altivo Primeiro Ministro deste país.
Mas esta iniciativa não se esgota na propaganda. Destacar de entre todos os dias, o Dia do Diploma, será no mínimo lamentável, já que uma vez mais evidencia a obsessão que este governo alimenta pela certificação, desprezando cada vez mais frontalmente a qualificação, a formação do saber e a produção de saber nas escolas e nas universidades portuguesas. O que importa, ao fim de tantos anos de escola é o diploma: o raio do papel que, com o nosso nome escarrapachado, atesta que estamos aptos a ser explorados no mercado de trabalho sem quaisquer direitos, caso tenhamos a cada vez mais rara sorte de encontrar um trabalhito e que consigamos, sorte mais rara ainda, efectivamente um posto de trabalho permanente. O que importa não é o estímulo à continuidade da aprendizagem, do prosseguimento de estudos, não é a formação do indivíduo enquanto ser humano, mas apenas a sua chapa e carimbo a que chamam o diploma. Pouco importa que esse diploma reflicta conhecimento ou ignorância, importa sim que altera estatísticas e engrossa o exército industrial no activo e o de reserva.
No entanto, este desabafo refere-se apenas à parte mais insignificante do "dia do diploma". O que é bastante mais preocupante é a outra componente desse dia 12 de Setembro de 2008, o da atribuição das chamadas bolsas de mérito através das quais, depois dos quadros de honra e dos rankings, vem o magno Ministério da Educação distinguir o mérito e a competência, o esforço e a dedicação. Ou não? Ora vejamos: a Escola Pública tem insuficiências estruturais que se têm vindo a agravar; o parque escolar está cada vez mais assimétrico; os graus de ensino mais avançado estão cada vez mais elitizados; aumenta a triagem social e a elitização de escolas e turmas; aumenta a distinção entre as avaliações daqueles que podem pagar explicações e dos que não podem; degrada-se a qualidade de vida dos estudantes mais carenciados e das suas famílias; diminuem os apoios para os estudantes com necessidades educativas especiais e diminui a acção social escolar para estudantes das camadas mais pobres da população e simultaneamente o Governo distribui cheques de 500 euros aos melhores alunos de cada escola. (e tem a grosseira lata de incluir essas "bolsas de mérito" na rubrica de "acção social escolar"!!!)
Ora, além de estarmos perante uma flagrante e intolerável injustiça que distingue positivamente aqueles que mais podem, que pertencem a famílias com mais posses económicas, estamos também perante uma manobra de manipulação ideológica de cariz altamente reaccionário e de matriz fascizante. A atribuição de prémios aos estudantes que obtêm as melhores notas, como se de um qualquer concurso televisivo se tratasse a escola pública, induz um raciocínio deveras perigoso: se o estudante com boas notas merece prémio monetário e menções honrosas na sua escola, isso significa que o estudante que não obtém as mesmas classificações é também responsável pelo seu insucesso e que merece, portanto, um castigo, ou uma discriminação negativa. Bonito será o dia em que os estudantes com piores notas sejam obrigados a pagar multas ou a serem colocados no quadro da mediocridade da sua escola. Mas há ainda uma outra dimensão deste raciocínio que é talvez a mais perigosa de todas: a da promoção do individualismo e da competição entre pares.
Que valores e princípios está este governo e este ministério a estimular e fomentar entre os jovens estudantes? Que comportamentos são assim transmitidos aos jovens portugueses? A competição, a competitividade, a concorrência em vez da cooperação e do trabalho colectivo; o individualismo, o egocentrismo, a trapaça, em vez do altruismo e humanismo. Que valores são os que este governo vai transmitindo premiando quem mais dinheiro tem, quem mais escondeu dos colegas os apontamentos, quem melhor máquina de calcular científica tinha, quem melhor computador tinha em casa? Que cidadãos teremos no mundo do trabalho e nas outras esferas e dimensões da sociedade depois de passarem por uma escola onde aprenderam a ver recompensados os mais desprezíveis comportamentos de que o capitalismo necessita para sobreviver.
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2 comments:
Pois é, camaradas e... cambada! Fui dar um pulinho à "longa marcha BEs" contra a precaridade e ia LEVANDO PORRRADA!
Parece mentira, mas é verdade. Quando comecei a gritar uns impropérios contra o Márocas Soares (inventor dos recibos verdes no ano de 1983) levei uns safanões do guarda-costa do Louçã, por estar a querer "inquinar a unidade da esquerda". A sorte foi que me fiz passar por ingénuo e eles precisavam de figurantes na Praça das Nações. Já no restaurante de Setúbal, pra morfar umas gambas - acreditem! - não faltaram os figurões...
E atenção: começámos por ser dúzia e meia de idiotas com um boneco às costas a "marchar" plo Parque das Nações à beira Tejo e por entre os jardins, mas nem foi mau de todo: apesar do ridículo da cena circense, a brisa corria ligeira. Depois do passeio foi tempo de jantarada e acreditem: por 10 € nunca comi prato principal que chegasse aos calcanhares daquelas entradas de morcela... Huuummmm!!!! A sobremesa já foi pior: O FranCHICO ESPERTO tentou mandar umas piadas no meio do discurso... Serão conselhos dos acessores de imagem? Não sabemos, mas fica o aviso: mantenha o tom de frade jesuita - é mais a sua onda.
De qualquer modo, termino depressa que o tempo é escasso e amanhã temos umas "performances" no jardim do Barreiro logo pelas 10h da matina. Aliás, plo que vi do programa da "longa marcha" BEs contra a precaridade, este e o próximo fim de semana serão passeados entre feiras, mercados e empreendimentos do Bélmiro de Azevedo. Porquê do Bélmiro de Azevedo? Não sei... talvez por ser fácil, talvez porque o Bélmiro enganou a família Louçã há 30 anos ou talvez porque o Américo Amorim pague saborosas morcelas. Quem souber que o diga e quem está de fora que tire à sorte.
De qualquer modo, conheci o jovem deputado José Soeiro e, sobretudo, conheci as opiniões dos seus "camaradas".... mas amanhã conto mais!
Dia 12 de Setembro = a uma espécie de 10 de Junho no Terreiro do Paço!
Ea ideologia do indivíduo, do individualismo, a imperar!
Abraço
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