Prestes a ir almoçar, decido vir dar de comer ao meu blog.
Pena que a minha capacidade de análise sobre o mundo real esteja neste momento tão reduzida, que pouco fica além da raiva, de alguma ira até.
É vê-los no plenário da Assembleia da República a fazerem de tudo para nos enganar... Novamente a Interrupção Voluntária da Gravidez. Desta feita, o PS até alterou as regras de funcionamento da Assembleia da República para voltar à carga com o disparatado projecto de referendo.
1. Será que o aborto é matéria referendável? Exactamente por ser uma questão eminentemente ética, julgo que não. Claro que essencialmente é um assunto que se prende com a saúde pública e, como tal, deve ser resolvido com toda a seriedade pelos políticos que foram eleitos para dar resposta aos diversos problemas, dos políticos e económicos aos sociais.
O aborto não é um tema referendável. Imaginameos um país em que 99% da população é contra o aborto. Isso não retira ainda assim a legitimidade aos outros 1% para serem a favor. E sendo que se trata de uma questão que também se coloca no plano ético, não se aplica linearmente a vontade da maioria. Trata-se de garantir que, não importa quantas, as mulheres possam ser tratadas com dignidade na sua própria terra, sem necessitarem ser ricas, quando tomam uma das decisões mais difíceis das suas vidas. A ética não pode sobrepor-se às reais e diversas condições e necessidades da população. Além disso, ninguém tem a liberdade de impor os seus valores morais a outra pessoa.
2. A despenalização do aborto devia ter sido há muito levada a cabo na Assembleia da República. Mas desde sempre, o PS tem feito o jogo da direita. O PS é um partido extremamente comprometido, impregnado de lobbys e extremamente contaminado por ideais religiosos. O PS, no entanto, não pode escamotear um problema com a dimensão social como o aborto clandestino. Está na corda bamba. O PS não quer assumir, falta-lhe a coragem política, a responsabilidade pela despenalização da IVG. Convocando um referendo, liberta-se dessa responsabilidade.
3. O bloco de esquerda, novato partido velho, entra agora também em cena pelo referendo. Na verdade, este partido está-se borrifando para o resultado do referendo. No entanto, ninguém negará que um referendo ao aborto será terreno fértil para os protagonismos do Bloco de Esquerda. Eles que, há tão pouco tempo que entraram na Assembleia da República e são vistos como os grandes defensores das mulheres pela comunicação social dominante. Claro, o PCP, que desde sempre tem defendido a despenalização da IVG não tem páginas nos jornais.
Mas vejamos: para o bloco, pouco importando o resultado do referendo, a própria convocação de um, e particularmente o período de campanha que será dinamizado em torno do referendo são tudo quanto o bloco precisa para aparecer como o paladino da despenalização. Aliás, assim tem sido ao longo do tempo. Tempo de antena vale milhões na política. Resolver esta matéria na Assembleia da República seria alinhar pelo diapasão decrépito dos marxistas-leninistas e não traria protagonismos a ninguém... ora com isso não se compadece o grandioso e juvenil berloque.
4. Para quando resolver este problema? O partido socialista tem um discurso progressista. Afirma-se pela alteração da lei, mas diz que assumiu um compromisso com a população portuguesa no seu programa eleitoral. Temos pena que seja este o único compromisso que esteja tão empenhado em cumprir. O não-aumento de impostos, a criação de 150 000 postos de trabalho, o investimento na educação e acção social escolar, o investimento em desenvolvimento e investigação, enfim, todos esses compromissos que, juntos acabariam por definir o nível de vida da população portuguesa foram para o lixo em 6 meses. Logo este famigerado compromisso que mais é falta de coragem para assumir um compromisso é o único que este governo continua a assumir, quando poderia resolver o problema sem malabarismos.
5. Brademos aos céus! o berloque diz que se não for desta que há referendo, a Assembleia da República deve legislar!!! Então? em que ficamos? pena que tenham demorado 6 meses, dois referendos falhados, quatro intervenções de cada partido por duas vezes, centenas de mulheres humilhadas pelo aborto clandestino e 2 mulheres julgadas para perceberem isso.
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