Friday, May 09, 2008

condição: trabalhadora

Na relação de exploração que se estabelece entre a burguesia e o proletariado há uma constante disputa. A luta de classes não tem desenvolvimentos episódicos, como Marx e Engels sempre referiram. A história não se desenvolve por espasmos e mesmo os momentos de rupturas abruptas representam apenas o resultado de processos mais ou menos demorados e prolongados no tempo. Os passos e progressos da Humanidade são o fruto de uma densa e complexa rede de acontecimentos que se sucedem uns na interdependência de outros, contruindo a malha da História, tendo sempre por base e por eixo central a luta das classes que se vão sucedendo, substituindo, eliminando ou gerando.

Nesta relação de exploração actual, em que burguesia e proletariado se degladiam com grande intensidade no plano material, embora disfarçado pelas teses proto e criptofascistas do idealismo mais retrógrado, há uma linha flutuante que varia a sua posição de acordo com a correlação de forças. Essa linha é bem expressa nas taxas de exploração que a burguesia vai conseguindo, aumentando ou diminuindo a mais-valia extraída do trabalho, consoante o poder da luta dos trabalhadores em cada momento do tempo e em cada lugar do espaço.

Nesta luta que não se faz apenas através da posse objectiva do poder, nem de resultados isolados aqui ou ali porque há muitas posições intermédias e muitos sucessos e retrocessos, a linha da capacidade de exploração do trabalho pelo capital move-se para cima e para baixo. Para isso, tanto trabalhadores, como capital desenvolveram factores de poder e de força, como instrumentos para a alteração da correlação de forças em cada momento. Se a burguesia desenvolveu o salário, os trabalhadores desenvolveram a greve; se a burguesia criou e doutrinou a sua democracia, os trabalhadores criaram e conceberam o Estado Socialista; se a burguesia inventou o despedimento, os trabalhadores exigem contratos de trabalho; se a burguesia inventou a jornada, os trabalhadores exigiram o horário de trabalho e a compensação pelas horas extraordinárias. Mas também existe o inverso da medalha: se os trabalhadores criaram os sindicatos de classe, a burguesia criou os sindicatos trade-unionistas e amarelos; se os trabalhadores geraram unidade, a burguesia introduziu a divisão individualista; se os trabalhadores desenvolveram o materialismo dialéctico, a burguesia investiu mais ainda na lavagem idealista da relidade e estreitou os seus laços com a religião; se os trabalhadores criaram os partidos comunistas de classe, a burguesia proíbiu-os, esmagou e perseguiu.

Os factores de luta são imensos, os instrumentos de pressão também. E muitos são também os mecanismos de classe. De um e de outro lado da barricada.

Um dos mecanismos que o sistema capitalista tem vindo a desenvolver é o da ofensiva ideológica requintada, subliminar e com recurso à educação de massas e à comunicação social de massas. Mas outros mecanismos, tão ou mais antigos, persistem e até se agigantam. A marginalização de grupos sociais, a miséria e o crescimento do exército industrial de reserva (os desempregados), por exemplo.

Outro, de que queremos agora falar, é o da estratificação dos custos do trabalho, ou seja dos salários, dentre a mesma classe, as mesmas funções laborais, utilizando como factor decisivo a fragilidade e debilidade do movimento operário em cada uma dessas camadas estratificadas. A divisão internacional do trabalho é, também ela definida em parte com base nesse critério. A discriminação salarial das mulheres também.

O posicionamento que a burguesia actual faz das mulheres, enquanto parte da população mais frágil perante a exploração é um mecanismo de aumento generalizado da exploração de todos os trabalhadores. Da mesma forma que as diferenças dos custos do trabalho entre países é um factor, não de competitividade como lhe chamam, mas de diminuição dos custos do trabalho (salários) em todos os países. A situação de explorados dos trabalhadores coloca todo o proletariado mundial numa posição de solidariedade e não de competetividade. Onde perdem os trabalhadores num determinado ponto do globo, outros tantos perderão também em todo o resto do mundo.

A divisão artificial dos trabalhadores com recurso ao conceito de nacionalismo burguês é um mecanismo comparável ao que a burguesia utiliza para a divisão dos trabalhadores com base no sexo. A tentativa de colocar uma linha divisória entre homens e mulheres pelas suas características biológicas, sexuais e mesmo psicológicas e comportamentais é por demais óbvia. A burguesia, ancorada no preconceito e na tradicional minimização do sexo feminino, utiliza as mulheres como um factor de diminuição dos custos da mão-de-obra e de diminuição dos direitos dos trabalhadores.

A posição social das mulheres não é supra-classista e não pode ser dissociada em momento algum da sua integração numa ou noutra classe social.

A posição social da mulher é indissociável, não do seu sexo, mas da sua condição de explorada ou exploradora.

A luta das mulheres é, portanto, uma luta solidária com os movimentos operários de todo o mundo. Não a luta da burguesia em torno da promoção do género feminino como algo etéreo e condição meramente fisiológica, mas a luta da mulher na esfera da melhoria da sua condição social enquanto elemento da camada trabalhadora em que se insere.

É por isso que não existe feminismo revolucionário. Porque ser revolucionário é perpsectivar uma transformação social de neutralização das actuais relações entre classes e não entre sexos. A luta das mulheres é componente indissociável da luta dos povos pela libertação da exploração. O socialismo não é nem patriarcal nem matriarcal, não é machista nem feminista porque, pura e simplesmente, o marxismo não assenta a sua análise social e política nas tendências comportamentais, nem nas características ou propriedades físicas das camadas trabalhadoras, mas sim na condição básica de explorado.

Os feminismos esquerdistas são tão ou mais responsáveis pela diversão intelectual das mulheres como a pseudo-preocupação "de género" da burguesia, mas isso, porque não pode ser agora detalhado, fica para o próximo episódio do império bárbaro. Não perca!

Falta pois aproveitar para anunciar que o PCP realiza amanhã, dia 10 de Maio, o seu Encontro Nacional sobre os Direitos das Mulheres, em Lisboa, pelas 10.00h. Um certo e poderoso contributo para o aprofundamento necessário da questão feminina e para a luta das mulheres!

1 comment:

Sérgio Ribeiro said...

Excelentes posts. Informados, lúcidos, intervenientes. Desta "massa" se devia fazer a comunicação.
Grande abraço