risco - todo o edifício argumentativo do capital para justificar a exploração do trabalho alheio assenta na existência de um risco. Esse risco é associado a um "investimento" realizado pelo capitalista que dá cobertura à exploração de quem não arriscou e apenas quer trabalhar.
Independentemente de considerarmos se a existência do "risco" justificaria eventualmente a possibilidade de exploração de trabalho alheio, podemos atalhar a discussão e ir à raiz: a existência do risco propriamente dita.
O risco pressupõe um investimento de capital próprio que pode ser perdido. Também pode ser replicado, dependendo sobretudo da competência da gestão e da qualidade da produção. Como tal, se é o proprietário (accionista) que é premiado pelo sucesso, também deve ser o proprietário (accionista) a ser prejudicado pelo insucesso. Por aqui começamos a compreender que a existência de um eventual risco se esbate ao colocar, o eventual sucesso ou insucesso, na responsabilidade de quem gere e não de quem é explorado.
Mas adiante, o investimento de um capital próprio pressupõe que certa entidade ou indivíduo é detentor desse capital e que o vai arriscar. Importa, pois, compreender se esse capital não foi já obtido com base nos mesmos mecanismos de exploração que agora pretende ampliar. Ou seja, o capital para o investimento foi obtido através da exploração de mais-valias do trabalho alheio e, como tal, na verdade, o capitalista está apenas a arriscar a fatia que já pôde (porque a lei o permite) roubar a outrém.
Se o capitalista ou pequeno patrão inicia o investimento sem capital próprio, significa que se endividou para contrair um empréstimo, pedido a outro patrão que será concedido com capital obtido precisamente através da exploração do trabalho e neste caso, quem arrisca não é nem o capitalista da banca que concede o empréstimo nem o que o contrai, na medida em que a banca realizará sempre a cobrança da dívida nem que seja através de garantias materiais que o pequeno patrão pagará com os bens que adquiriu com o capital emprestado.
Na verdade, o risco do patrão (pequeno ou grande) é relativamente reduzido e tende a ser mais reduzido quanto maior for o patrão e maior for o investimento. Acresce a isto a instrumentalização galopante da lei e do Estado para satisfação dos interesses da classe patronal que se encarrega, a todo o momento, de garantir que não existe risco - principalmente para o grande patrão, mesmo que por vezes se sacrifique o pequeno patrão e sempre, sempre, sacrificando o trabalhador.
Mais grave é o facto de a gestão de risco não ser compatível com actividades fundamentais e imprescindíveis, como os serviços públicos e a banca. Ou seja, não pode ficar na dependência do sucesso empresarial a existência de um sistema financeiro e de serviços públicos, porque em última análise isso significaria que o insucesso de um investimento implicaria o encerramento de um desses serviços.
E, na verdade, qual o verdadeiro risco no sistema capitalista? Aquele que é assumido por um trabalhador ao aceitar um salário, dependendo da necessidade de aquisição da sua força de trabalho por outrém, para garantir a sua sobrevivência?
Ou aquele que é assumido por um capitalista, para poder explorar a força de trabalho de outros para garantir a sua opulência?
É que... ninguém enriquece a trabalhar.
Thursday, March 01, 2012
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