Hoje em dia ouve-se de tudo…
Um senhor que actualmente é deputado na Assembleia da República, que já foi ministro da Economia num governo do Partido Socialista e que, infelizmente, já foi até comunista, saiu-se durante uma sessão plenária da Assembleia da República com uma tirada que não ficaria mal ao mais reaccionário dos conspiradores terroristas, ou ao mais retrógrado dos fascistas.
“O PCP é responsável pelo agravamento do desemprego, pela sua visão conservadora da economia.” Disse o ilustre. Esta política de câmara cada vez me enoja mais. Qualquer bastardo vai lá, atira umas bujardas e sai impune com um aplauso acéfalo do seu rebanho. E o povo lá fora, sem saber o que dizem e o que fazem estes senhores da direita, estes lords da política e do dinheiro. A clivagem é visível: a esquerda e a direita na Assembleia da República dividem-se pelo corredor que separa o PS do Partido Ecologista “Os verdes”. Só não vê quem não quer. Desse corredor para lá, as votações são praticamente unânimes nas questões cruciais que se colocam.
Mas dizia então o Sr. Deputado Pina Moura, sábio político e amigo do povo e dos trabalhadores que o PCP seria o culpado pelo agravamento do desemprego e que teria uma visão retrógrada da economia… Ora vamos lá ver isso:
- Retrógrado é o que se passa actualmente: é ver os trabalhadores venderem a sua força de trabalho por salários que mal pagam a comida, endividarem-se para comprar casas ao capital que enriquece à custa do seu próprio trabalho e ir gastar o dinheiro todo que recebeu em impostos ou em supermercados, todos do mesmo grupo económico, deixando ainda uns cobres valentes no banco que paga uns impostos miseráveis. Retrógrado é o trabalhador não saber se para a semana que vem tem ou não trabalho porque os senhores do governo permitem que os patrões mantenham os trabalhadores a prazo por 6 anos (!!!). Retrógrado é exigir dos trabalhadores que esmifrem a sua vida, o seu dia a dia, que não vejam os seus filhos e companheiros e companheiras, que contraiam as doenças das articulações, percam braços, dedos, inalem substâncias perigosas e, para ganhar mais uns trocos, despedi-los todos e enfiar a merda da fábrica na Malásia. Retrógrado é olhar e ver filas de trabalhadores à porta das Empresas de Trabalho Temporário à espera que alguém lhes ofereça um preço, ou á porta do centro de emprego, porque perdeu o seu numa fábrica que levantou voo para outro país.
- Retrógrado é continuar a dizer que temos de ser competitivos, sermos cada vez mais punidos e ver tudo a piorar cada vez mais. Já agora, vejamos uma coisa: para que países e regiões vão as fábricas e empresas que abalam daqui? Roménia, Filipinas, Ucrânia, América Latina e América Central, Índia, Malásia, Polónia, Moldávia… tudo países despedaçados e desmembrados pelo capitalismo. Países e regiões do globo totalmente desestruturalizados, países em que os Salários Mínimos Nacionais não ascendem a mais de dez, quinze contos. É com esses países que os governos portugueses querem competir. É com eles que nos querem igualar??? Quando falam de competitividade, é entre quem? Porra que isto de dizer nomes bonitos sem explicar as coisas, deixa muitas dúvidas. É bom ser competitivo… ena ena somos competitivos!!! Mas… competimos com quem?
- Retrógrado é continuarmos a viver no mesmo regime económico que há 200 anos está em prática e que já provou não ser capaz de resolver os problemas da humanidade. Retrógrado é dizerem-nos que a economia e o trabalho têm evoluído muito, quando na prática, o essencial se mantém: mantém-se a exploração patronal dos trabalhadores, mantém-se a precariedade no trabalho e o desemprego, mantêm-se os baixos salários e as pensões de miséria, mantêm-se as assimetrias sociais e económicas, mantém-se a existência de um punhado de ricos privilegiados e de milhões e milhões de outros que não têm onde cair mortos.
- Retrógrado é continuar a achar que os trabalhadores devem submeter-se a todos os caprichos das empresas porque senão elas vão-se embora ou despedem-nos. Isso é retrógrado porque isso sempre foi assim. Conservador é preferir a manutenção do Estado de coisas. Sempre os trabalhadores tiveram que se submeter ao capital nacional, estrangeiro, multinacional e transnacional. Retrógrado é defender que assim continue. Nada é mais conservador que tentar manter o sistema como está, fechando os olhos às suas profundas contradicções internas.
Mas… depois vêm estes senhores iluminados, os senhores que representam as empresas ao mesmo tempo que o povo, dizer-nos que aqueles que lutam pela melhoria de vida dos trabalhadores é que são os culpados pelo desemprego… Valha-nos Nossa Senhora!
Dizer que existe falta de investimento estrangeiro em Portugal porque existe um Partido que defende os trabalhadores é a coisa mais anti-democrática que já ouvi. Ou seja, para este Senhor, e certamente para muitos outros, se não existisse um Partido como o PCP e, quem sabe, uma central sindical como a CGTP-IN, então, o capital investiria em força no nosso país, brotariam fábricas e oficinas rentáveis, floresceria o negócio e o céu seria riscado por um intenso arco-íris, como na Malásia, no México, no Bangladesh, e outros muitos magníficos países que, por serem tão esplendorosos, lhes chamam países do 3º Mundo.
Claro. Se os trabalhadores não reivindicassem os seus direitos, os patrões podiam cá plantar mais unidades e mais empresas. A questão é: para quem seria o produto do trabalho nelas produzido? Para um Estado submisso sem sentido de dever? Para os trabalhadores que, de vestes rotas, aspiram a ver a cor do pão? Ou para os grandes senhores do dinheiro, da banca, das fábricas, da poltrona descansada? Muitas fábricas que nos destruam os recursos naturais, que explorem sem limites o nosso povo, que não contribuam para o desenvolvimento do país… é isso que estes senhores querem? Será que não existem exemplos que bastem? Olhemos para os países com quem queremos competir… os direitos dos seus povos são, sem excepção, muito inferiores aos nossos… Querem agora, diminuir-nos os direitos para competir com eles… isto só visto…
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2 comments:
"a esquerda e a direita na Assembleia da República dividem-se pelo corredor que separa o PS do Partido Ecologista “Os verdes”." - eu diria que a esquerda (uma benesse para o pev, de cariz reformista como qualquer movimento/partido ambientalista) se concentra entre o corredor que separa o PCP do be, e o que separa o PEV dos xuxas.
e terás toda a razão. mas o PEV pode estar na esquerda... não é certamente de direita, nem a serve.
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