Thursday, February 16, 2012

Capitalismo para Totós VI - Classe Social

Classe social: termo que designa a distorção aplicada ao real e historicamente subjacente conceito de "class social". Na verdade, o sistema capitalista deturpou o conceito científico de "classe social" desenvolvido por Marx na senda do aprofundamento do Materialismo Histórico.

A classe social que as ideologias burguesas (neo-liberalismo, capitalismo, social-democracia) e seus ideólogos, políticos e comentadores de serviço, referem é uma forma de contornar a evidente clivagem social e económica entre os seres humanos. É, no entanto, uma classificação económica e não social. A classe baixa, a classe média-baixa, a classe média, a média-alta, e a alta (como estamos habituados a ouvir chamar-lhes) são classes distribuídas em função da disponbilidade de rendimentos ou de património e não em função da sua posição social.

A intenção é clara: tendo em conta que existem assimetrias brutais entre as pessoas e que o capitalismo precisa de negar a relação entre essas assimetrias e a posição social dos indivíduos, é preciso confundir a compreensão das massas. Ou seja, a máxima capitalista e fascista que afirma que "a luta de classes acabou" ou mesmo "a luta de classes não existe" é válida ao abrigo deste conceito de classe económica, mas jamais seria válida ao abrigo do conceito de classe social.

Com esta estratégia de distração, o Capital consegue enraizar nas massas a sua doutrina e as interpretações enviesadas sobre as relações de classes. Generalizando a ideia de que as classes se diferenciam em função do volume dos seus rendimentos, as massas aceitam passivamente a conclusão de que "não há luta de classes".

As classes sociais não são classes económicas. Abordemos o conceito na perspectiva correcta: classe social é definida em função da relação objectiva que o conjunto de indivíduos estabelece com os meios de produção e, em consequência com o Trabalho.

Independentemente do volume dos rendimentos, um proletário é aquele que não tem outra forma de sobrevivência a não ser a venda da sua força de trabalho.
Independentemente do volume dos rendimentos, um burguês é aquele que detém uma parte ou a totalidade de um meio de produção, podendo assim sobreviver de outras formas que não a venda da sua própria força de trabalho, nomeadamente, explorando o trabalho alheio. Essas sim, são as duas principais classes sociais. O conceito capitalista de classe económica, que ilude os contornos do conceito-base de "classe social" atravessa as duas grandes sociais sem relação absoluta. Ou seja, tal como o proletário é sempre explorado, mas nem sempre pobre; também o burguês é sempre dono de parte ou totalidade de um meio de produção, mas nem sempre rico.

5 comments:

Anonymous said...

«Independentemente do volume dos rendimentos, um burguês é aquele que detém uma parte ou a totalidade de um meio de produção, podendo assim sobreviver de outras formas que não a venda da sua própria força de trabalho, nomeadamente, explorando o trabalho alheio»

Quem cria uma empresa, quem cria postos de trabalho, riqueza e produtividade, e que não trabalhe nela, é por defeito um burguês?

Acho que isto está mal explicado...

miguel said...

Caro Anónimo,

Quem cria uma empresa não cria riqueza. Quem trabalha é que cria riqueza. A empresa apenas fica com uma parte da riqueza produzida por quem trabalha.

Mas essa não é a questão que me coloca. À questão que coloca: sim. Se quem cria a empresa for dono da empresa - independentemente de trabalhar ou não na empresa - é um burguês (ou pequeno-burguês) pelo simples facto de que não depende exclusivamente da venda da sua força de trabalho para sobreviver. Enquanto que um proletário depende estrita e exclusivamente da venda da força de trabalho, o pequeno-burguês, o burguês e o burguês monopolista detêm - em escalas diferentes - outras formas de rendimento, entre as quais a exploração do trabalho alheio.

Anonymous said...

Creio ter entendido.

Outra questão: se as circunstâncias da sua vida levarem um proletário a criar posteriormente uma empresa, deve ou pode o agora pequeno-burguês continuar a lutar ao lado do partido do proletariado? Isto é, mudando de classe social no verdadeiro sentido da expressão, o ex-proletário e neo-burguês pode continuar a ser comunista, ou passa a ser inimigo de classe?

miguel said...

Muitos pequeno-burgueses são comunistas, tal como muitos trabalhadores não são. Além disso, a pequena-burguesia é em muitas circunstâncias aliada dos trabalhadores, sendo que são ambas as classes anti-monopolistas. O pequeno-burguês é um aliado circunstancial do proletariado em função do momento histórico que atravessamos.

Isto é a minha opinião.

Anonymous said...

Certo. Obrigado. Estas reflexões são importantes.